Espírito de seita
Ouvimos recentemente ler e comentar a
acusação do Ministério Público contra os banqueiros e respetivos familiares e
amigos íntimos implicados no caso BES. E o país não ficou surpreso nem se
indignou: «à justiça o que é da justiça» disseram alguns salomonicamente,
esquecendo que esse tal Salomão não tem nada a ver com a nossa realidade atual,
nem vai valer ao rombo patrimonial que aqueles pronunciados provocaram na
economia geral do país, para além dos estragos na daqueles que neles confiaram.
Aqueles políticos que alto e bom som proclamaram nas vésperas do desastre, ou
já com ele a decorrer, que o grupo era sério, sólido e confiável, deveriam ser,
pelo menos, pronunciados por publicidade enganosa, pois tinham acesso a
elementos que os outros cidadãos não tinham: informação privilegiada e contato
pessoal, íntimo, quando não familiar, com os arguidos. Participaram assim
também indiretamente na burla monumental, pelo menos moralmente. E para lições
de moral aos seus concidadãos, alguns deles sempre se mostraram muito
expeditos. Mas não para consumo próprio. Uns verdadeiros Frei Tomás, até porque
coincide que muitos deles (os implicados e os amigalhaços) se apresentam
habitualmente como pessoas muito religiosas. Mas o país não se indignou, como
não o fez com casos anteriores, porque em Portugal há a estúpida tradição da
novela açucarada, do “bandido” charmoso e filho de “gente de bem” ou “vindo do
nada”, que “o que teve foi azar”: os Alves dos Reis, as Dona Branca, são apenas
alguns exemplos caricaturais, que outros houve antes destes, quer no tempo da
1.ª República, quer ainda na Monarquia. Então o que é que explicará a
eternização da tendência nacional para a corrupção desenfreada, da pequena
habilidade paroquial à grande fraude fiscal ou bancária? A resposta só pode ser
o que poderemos chamar de “espírito de seita”,
endócrino na sociedade portuguesa. A sociedade organiza-se em grupos segundo a
Lei, desde a família, passando pelas religiões, pelos departamentos do Estado
(economia e finanças, militares, polícias, justiça, educação, cultura, saúde e
ambiente…) e pelas associações civis (partidos políticos, ordens profissionais,
associações empresariais, sindicatos, clubes desportivos e outros, associações
cívicas…) e pelas corporações empresariais (associações de banqueiros ou de
empresários, de produtores de bens e de serviços e da sua comercialização, de
proprietários…). Todas estas organizações visam, cada uma à sua maneira e na
parte que lhe cabe, o bem público, com atividades previstas e regulamentadas na
Lei e com a possibilidade de um controle efetivo sobre elas por parte dos
diretamente interessados e, de um modo geral, de toda a sociedade através de
mecanismos administrativos claros. Mas se assim é, o que é que falha na
sociedade portuguesa ou, pelo contrário, como é que que alguns indivíduos e
grupos alcançam tanto sucesso momentâneo e tão reiteradamente obtêm proventos
indevidos através de muitas destas instituições? A razão só pode estar no “espírito
de seita” que está para além e que é
transversal a muitas delas. Ao contrário da clareza, publicidade e autocontrole
das instituições, as seitas têm objetivos
particulares e obscuros que nada têm a ver com o bem comum mas apenas com o
particular ou o de pequenos grupos que se protegem e promovem entre si na
clandestinidade, ou publicamente através de encenações que, quantas vezes,
escondem atividades oportunistas ou mesmo caídas na esfera da justiça,
realizadas à margem da cidadania e do escrutínio público. Outras vezes estão ao
serviço de organizações internacionais que se acham acima dos interesses dos
estados. As seitas, obviamente sem
nome nem estatutos, servem-se das religiões, dos partidos políticos, controlam
as agremiações profissionais e influenciam em proveito próprio as instituições
democráticas, das quais aliás desdenham, colocando estrategicamente em lugar de
destaque os seus subservientes e os seus “peões de brega”. A “cunha”, o
“empenho”, a chantagem, quando não a ameaça, fazem depois o resto. É essa a
prática das seitas que têm levado o
nosso país, de escândalo em escândalo, a caminho da ignomínia total: «esta
decadência tornou-se um hábito, quase um bem-estar, para muitos uma indústria.
Parlamentos, ministérios, eclesiásticos, políticos, exploradores, estão de
pedra e cal na corrupção… Contra este mundo é necessário ressuscitar as
gargalhadas históricas… E mais uma vez se põe a galhofa ao serviço da justiça!»
(Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre).
J.
A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor
da Confraria Queirosiana
Autores, Livros e Revistas
Editado em 2019
pela Imprensa da Universidade de Coimbra, encontra-se disponível, também em
acesso digital, o livro Eça Naturalista: O Crime do Padre Amaro e O
Primo Basílio na imprensa coeva, da autoria do Prof. Doutor António
Apolinário Lourenço, do departamento de Línguas, Literaturas e Culturas daquela
universidade. Uma exaustiva abordagem do impacto jornalístico daquelas obras
excecionais no Portugal tacanho e beato da segunda metade do século XIX.
No passado dia 3 de junho, no salão
nobre do Quartel de Santo Ovídio na Praça da República no Porto, e no âmbito
das Comemorações do Bicentenário da Revolução de 1820, foi lançado o livro de
bolso Porto Liberal. Guia de Arquiteturas, Sítios e Memórias, coordenado
pelo historiador Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva, o qual apresenta
quatro roteiros ligados à implantação do Liberalismo naquela cidade, tendo como
referências, entre outros, a Igreja e cemitério da Lapa, o Museu e a igreja da
Misericórdia, o Museu Soares dos Reis e, no município de Vila Nova de Gaia, o
Mosteiro da Serra do Pilar, para onde, já em 1840 se preconizava que o mesmo
passasse a denominar-se «…o Baluarte da lealdade, valor e patriotismo… aonde
será levantado um monumento eterno em memoria do Grande Homem: ali irão os
corações generosos, pagar o grato tributo de admiração e saudade pelo seu
Libertador, e as gerações futuras aprenderão desse tumulo a detestar os tiranos
e a amar a Liberdade» (O Cerco do Porto de 1832 para 1833. Por um
Portuense [1. ª edição, 1840]. Porto: Universidade do Porto editorial,
2010, p. 178).
Se este ano for veranear para as praias
da região entre Leiria e Peniche, tem à sua disposição o interessantíssimo guia
Da
foz do Lis a Peniche, parte da obra monumental Os Portos Marítimos de Portugal e Ilhas Adjacentes, composta por 11
volumes editados entre 1904 e 1910, da autoria de Adolfo Loureiro (1836-1911),
que foi militar, engenheiro, escritor, poeta e político. A presente edição foi
coordenada por Ricardo Charters d’ Azevedo, guia, profundo conhecedor da região
e das suas gentes, sobre as quais já publicou copiosa bibliografia e desta
feita é o autor da introdução, transcrição e notas que lhe dão conta das
similitudes que perduram e das diferenças que aqui ocorreram na geomorfologia e
na paisagem em pouco mais de um século.
Referente a maio de 2020 encontra-se disponível para consulta o n.º 2004 da revista Colóquio/Letras editada pela Fundação Calouste Gulbenkian, dedicada à “Geração de 70” e organizada pelo Professor Doutor Carlos Reis. Entre os muitos artigos sobre o tema, encontra-se na secção Documentos o trabalho intitulado «O projecto da “Revista Ocidente”: Três cartas inéditas de Oliveira Martins a Batalha Reis», da autoria de Guilherme de Oliveira Martins.
Aguçar o Paladar
O boletim Aguçar o Paladar, da Real Confraria da Cabra Velha, coordenado por
Artur Fernandes, no seu número 15 de 18 de julho passado republicou, com a
devida autorização do autor, o texto «Nos 90 anos de J. Rentes de Carvalho»
publicado nesta página a 25 de maio e no jornal As Artes Entre As Letras de 24 de junho passados.
Mário Cláudio no Solar Condes de Resende, 2007.
Pela
terceira vez o escritor Mário Cláudio venceu o Grande Prémio de Romance e
Novela da Associação Portuguesa de Escritores 2019, com o romance Tríptico
de Salvação editado pela Editorial D. Quixote e coincidente com os seus
50 anos de vida literária. Já tinha vencido o mesmo prémio em 1984 com Amadeo
e em 2014 com Retrato de Rapaz. À presente edição deste prémio, que tem
também o patrocínio da Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB),
e os apoios da Câmara Municipal de Grândola, da Fundação Calouste Gulbenkian e
do Instituto Camões, concorreram sessenta obras.
Mário
Cláudio é Confrade de Honra queirosiano desde 24 de novembro de 2007, em homenagem
à sua autoria do romance As Batalhas do Caia, criado a partir
do conto inacabado de Eça de Queirós «A Catástrofe» e dos acontecimentos
biográficos dos últimos anos de vida do escritor.
Confederação Portuguesa das Coletividades
A Confederação
Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, que há mais de 40
anos representa o Movimento Associativo Popular e de que a ASCR-CQ faz parte
através da sua filiação na Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, no passado dia
16 de julho foi agraciada pelo Presidente da República, Professor Doutor
Marcelo Rebelo de Sousa, como Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique,
numa cerimónia que decorreu na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém. A
delegação da CPCCRD presente ao ato era chefiada pelo seu presidente da mesa do congresso, Dr. Francisco Barbosa da Costa, que recebeu do chefe de
Estado a placa honorífica desta distinção.
ASCR - Confraria Queirosiana
No passado dia
30 de junho pelas 18 horas decorreu no Solar Condes de Resende a assembleia
geral eleitoral dos sócios da associação Amigos do Solar Condes de Resende –
Confraria Queirosiana para eleição dos corpos gerentes para o mandato de 2020 a
2024, a que concorreu uma lista proposta pela anterior direção, e que reúne
aqueles sócios que manifestaram a vontade de trabalharem em prol da associação. Pelas
21 horas no mesmo dia e local decorreu a assembleia geral ordinária para a
apresentação do Relatório e Contas referente ao ano de 2019. Os novos corpos gerentes
passaram a ter a seguinte composição: assembleia geral: presidente da mesa,
César Fernando Couto Oliveira; secretários: Henrique Manuel Moreira Guedes e Nuno
Miguel de Resende Jorge e Mendes; secretários suplentes: Marcus Vinícius
Cocentino Fernandes e Paulo Jorge Cardoso Sousa Costa; direção: presidente,
José Manuel Alves Tedim; vice-presidente: Luís Manuel de Araújo; secretário:
Joaquim António Gonçalves Guimarães; tesoureira: Amélia Maria Gomes Sousa
Cabral; vogais: Manuel Maria Moreira, Susana Maria Simões Moncóvio, António
Pinto Bernardo; vogais suplentes: Carlos Alberto Dias de Sousa, Manuel Guimarães
da Fonseca Nogueira; conselho fiscal: presidente, Manuel Filipe Tavares Dias de
Sousa; secretário, Fernando Rui Morais Soares; relator, António Manuel Santos
Pinto da Silva; relator suplente, Licínio Manuel Moreira Santos.
Na primeira
reunião realizada a 9
de julho a direção nomeou os responsáveis pelas comissões de trabalho
permanentes: Confraria Queirosiana; Academia Eça de Queirós; Gabinete de História,
Arqueologia e Património; Logística; Itinerários Queirosianos; Arte e
Editorial.
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