Celebrou-se no passado dia 18 de Abril
o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, promovido pelo ICOMOS e em
Portugal pela Direção Geral do Património Cultural, sob o lema “O Património
Cultural: de geração para geração”, coincidente com a celebração de 2018 como Ano
Europeu do Património Cultural. Como vem sendo habitual o Solar Condes de
Resende associou-se a estas iniciativas, com a colaboração da associação Amigos
do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, por sua vez filiada na
Federação Portuguesa dos Amigos de Museus de Portugal. Assim, para além do
curso sobre o Património Cultural de Gaia, que aqui decorre até maio e do curso
sobre Música & Músicos - Património Musical Português, com início em
outubro próximo, este dia foi aqui celebrado sob o título «Solar Condes de
Resende: de Casa Senhorial a Casa da História de Gaia». Nesse dia acolheu-se no
auditóriotodos os interessados em conhecer a sua história ao longo dos tempos,
explicada por Susana Guimarães, autora do livro A Quinta da Costa em Canelas, Vila Nova de Gaia (1766-1816). Família,
Património e Casa.Vila Nova de Gaia: Confraria Queirosiana/FLUP/CMGaia,
2006, o qual resultou da sua dissertação de mestrado em História Local e
Regional pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, enquanto o autor
destas linhas falou aos presentes nas ações deste serviço em prol da História
de Gaia através de ações próprias e do apoio à realização de dissertações de
mestrado e teses de doutoramento já realizadas e de outras em curso, bem assim
como da coordenação do projeto de levantamento do Património Cultural de Gaia
(PACUG) que abrange muitas gerações de gaienses de há dois mil anos para cá.
É nossa convicção de que não há
contemporaneidade sem História, ainda que as atitudes perante o seu
conhecimento sejam de assunção, de indiferença ou de negação. No entanto ela
estará sempre presente, quer queiramos, quer não. Cada um de nós carrega
memórias, recordações, vivências, leituras, experiências desse património
escondido no ADN, nas crenças, nos gostos, nos desejos, nos afetos, nos ódios e
mesmo nas indiferenças. Nenhuns deles são neutros, e mesmo os que os renegam ou
vivam com aparente indiferença, normalmente têm neles ou sobre eles, ainda que
não suficientemente claros, algo que querem esconder ou valorizar, ou enfrentar
assuntos que gerações anteriores deixaram pendentes. Para além da nossa
orfandade cósmica e existencial, se resolvidos os problemas imediatos da
sobrevivência, carregamos, além deles, muitas outras angústias étnicas,
familiares e sociais mal resolvidas ou por resolver, não só nos domínios das
crenças, mas mesmo na afirmação da gentricidade possível, a que cada grande
acontecimento histórico acrescenta balizamentos. Sendo certo que o nosso
conhecimento do clã familiar, da terra a que pertencemos e do mundo que nos
rodeia coincide com a ida para a escola primária, já hoje dificilmente teremos
entre nós testemunhos vivos do que foi a criação do Entreposto de Gaia do Vinho
do Porto, em 1926, ou da implantação do Estado Novo em 1928; já são poucos os
que viveram os reflexos em Portugal da Guerra Civil de Espanha, da 2.ª Grande
Guerra e da Bomba Atómica. Mas ainda são muitos os que viveram os tempos da
chegada da Televisão, da Guerra da Coreia, das Guerras Coloniais e do Vietname,
da emigração para França, da chegada à Lua e do 25 de Abril. Depois há toda uma
geração, hoje com cinquenta anos, que não conheceu outro mundo senão o da
Democracia, ainda que imperfeita e tateante, e a era da Esperança mundial,
ensombrada pelos desastres ecológicos e pelo eclodir dos atuais
fundamentalismos religiosos tribais. Esta é a realidade humana vivente que
também ela deixará atrás de si um Património Cultural, que não se quer como a
tralha do sótão da avozinha, ou o entulho da garagem do avô, mas como um
conjunto de construções, edificações e criações, não apenas técnicas e vazias
de conteúdos ou de sentidos, mas antes as que testemunhem aos vindouros, não apenas
as desgraças recentes, materializadas em cemitérios militares, prisões,
bidonvilles e chernobyles, que não queremos ver repetidos, mas sobretudo as
excelências desta época nos domínios da ciência e da tecnologia, do cinema e do
digital, do combate à fome e à doença, materializados na arte, na música, na
escrita e nos happenings sociais, para que os ajudem a viver num mundo ainda
melhor a que muitos de nós não chegarão, mas que queremos que exista, como garantia
da possível eternidade humana.
Mas se este é o Património Cultural do
nosso tempo, que será a nossa herança para as gerações futuras, também nos são
caros os testemunhos do passado remoto deste Pré-história surpreendentemente
artística, o legado das civilizações dos grandes rios, ainda quando assentes no
vergado dorso do esclavagismo, as lições do sossegado misticismo dos tempos
medievais, tão cruéis e tão fanáticos, os olhos arregalados para a redondez da
Terra e a multitude dos seus habitantes por parte dos navegadores da Expansão
europeia, a descoberta da Liberdade individual ao ritmo das áreas de Mozart, os
povos contra os impérios, a indústria contra o sol-a-sol campesino, as
promessas messiânicas do marxismo contra o individualismo, a descoberta de que
os pores-do-sol e os raiar das auroras, ainda que nem sempre iguais, ainda que
sempre belos e desejados, podem ter todas as cores do prisma da ótica humana.
Também esse Património está à nossa guarda e urge ser descoberto, estudado,
protegido e divulgado. No que diz respeito a Vila Nova de Gaia, à região do
Porto, ao norte do País, ao todo nacional, à irmandade lusófona e ao mundo que
nos entrou pelo trilho que se fez estrada, vindo de leste ou do sul, pelo rio
Douro abaixo ou pela sua barra, que atravessou do Minho para a margem esquerda
em barcas ou através das pontes, vindos a pé, de barco, de carroça, de comboio,
de automóvel ou de avião, é dessa multidão multissecular que o Solar Condes de
Resende estuda, divulga e partilha o Património Cultural.
Com Eça de Queirós repetimos: «a
história é a consciência escrita da Humanidade» (Uma Campanha Alegre); «As ciências históricas são a base fecunda
das ciências sociais» (Prosas Bárbaras).
O Património é hoje o seu irmão mais novo. Mas não é um faitdivers para enfastiados turistas ou um chapéu para odemasiado
sol do oportunismo que, como afinal em muitas outras atividades humanas, também
sobre este tema do conhecimento se abate pela ação de charlatães vários. É a
memória e a qualidade das criações humanas que não queremos ver destruídas ou
negligenciadas, mas antes as passar acrescentadas de geração em geração. E
compreenderá a nossa este desafio?
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria
Queirosiana
Várias entidades nacionais estão este
ano a celebrar os 50 anos da carreira literária do escritor gaiense J. Rentes
de Carvalho, iniciada em 1968 com a publicação do romance Montedor. Assim, no passado dia 14 de abril, pelas 17 horas da
tarde, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett no Porto,
promovido pela Porto Editora, decorreu a 65.ª edição de “Porto de Encontro. À
conversa com escritores”, onde o escritor foi desafiado a falar sobre a sua vida
e obra pelo jornalista Sérgio de Almeida e pelo escritor e editor da sua obra,
Francisco José Viegas. Com uma casa completamente cheia de seus devotos
admiradores, atendeu depois a longa fila de compradores de várias das edições
presentes dos seus livros, nos quais foi escrevendo pacientes dedicatórias.
Entretanto nos próximos dias 18 e 19 de
maio será a vez de o município de Vila Nova de Gaia prestar homenagem a este
escritor ali nascido no Monte dos Judeus a 15 de maio de 1930, que tão bem
descreve no romance Ernestina, a mais
interessante obra literária sobre o Centro Histórico de Gaia nos anos trinta do
século passado. Do programa, entre vários outros momentos, consta uma sessão no
Auditório Municipal no dia 18 e, no dia seguinte, no Solar Condes de Resende,
haverá um capítulo extraordinário da Confraria Queirosiana que lhe é dedicado,
a abertura de uma exposição sobre o seu espólio entregue a esta instituição, a
inauguração de uma obra de Arte e um jantar de confraternização com canções da
infância do escritor.
Livros
e revistas
No passado dia 21 de abril, no Centro de Apoio Rural
de Carrazeda de Ansiães na Festa de Abril, o escultor Hélder de Carvalho
apresentou o seu mais recente livro intitulado Porque não existe um único olhar, edição Notutopic, um álbum de
retratos desenhados onde se encontram, entre outros, Amadeu de Sousa Cardoso,
Alexandre O’ Neil, Gustavo Maller e Almada Negreiros, bem assim como, entre
outras, Paula Rego, MargueriteYourcenar, GeorgiaO’Keeffe e Simone de Beauvoir.
Autor de muitas estátuas em bronze em vários largos e praças, de bustos em
instituições públicas e privadas e de obras alegóricas em várias coleções, este
Mestre com atelier em Vila Nova de Gaia, para além da paisagem do Douro e de
Trás-os-Montes, tem-se também dedicado ao retrato desenhado, modelado ou
esculpido, quer a partir do natural de personalidades vivas, quer a partir da reinterpretação
de iconografia do passado, de grandes vultos da Cultura nacional e
internacional. Muitas dessas interpretações têm sido capa do jornal As Artes entre As Letras e reunidos em
outras publicações, como a agora apresentada.
Palestras
e cursos
Prosseguem
os cursos e palestras organizados pela Confraria Queirosiana ou proferidas por
diversos dos seus confrades. Assim, a 29 de março, na habitual palestra das
últimas quintas-feiras do mês no Solar
Condes de Resende, J. A. Gonçalves Guimarães falou «A propósito de “Feiras
Medievais”: história e recriação»; o mesmo conferencista, a 18 de abril, no Dia
Internacional de Monumentos e Sítios falou, naquele mesmo local, sobre «O Solar
Condes de Resende: de Casa Senhorial a Casa da História de Gaia» e nesse mesmo
dia à noite nas instalações da Stella Maris na Foz do Douro, numa sessão
organizada pela União de Freguesias de Aldoar, Foz do douro e Nevogilde, com
acolaboração da Universidade portucalense infante D. Henrique e outras
entidades, sobre o «Marechal Duque de Saldanha: “Ele poderia ter sido um rei”».
No dia 20 falou sobre «Gaia? Vila Nova? Vila Nova de Gaia? A história local
contada através dos forais», na Escola Secundária Almeida Garrett, numa sessão
a propósito dos 500 anos do foral manuelino de Vila Nova de Gaia.
Entretatanto
amanhã, dia 26 de abril, pelas 21,30 horas, ainda no Solar Condes de Resende,
Sérgio Veludo Coelho, professor da Escola Superior de Educação do Politécnico
do Porto falará sobre «As Fortificações do Cerco do Porto em Gaia».
Prosseguindo o
curso sobre o Património Cultural de Gaia, na sessão de 7 de abril a Prof.ª
Doutora Teresa Soeiro deu uma aula sobre «Património Etnográfico e Imaterial de
Gaia» e no dia 21 o prof. Doutor J. A. Rio Fernandes falou sobre «Património de
Gaia no século XX». O curso terminará no próximo dis 5 de maio com uma aula
sobre Legislação do Património pelo Prof. Dr. Carlos Medeiros. No próimo ano
letivo o curso terá por tema Música & Músicos: aspetos do Património
Musical Português.
Eça na Suiça
No passado dia 23, na Unidade de Português da
Faculdade de Letras da Universidade de Genebra, o Professor Doutor Carlos Reis,
reputado investigador e divulgador da vida e obra queirosianas da Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra, apresentou uma conferência intitulada
«Lesinfluencesétrangèressurl’oeuvre d’ Eça de Queirós», integrada no curso
publico «L’expression de l’altéritédanslesculturesdu monde lusophone».
Os Maias, 130 anos
Nos 130 anos da publicação de Os Maias, o Centro Cultural Olga Cadaval, numa coprodução com a
ÉTER – Produção Cultural, apresentou no passado dia 13 de abril no auditório
Jorge Sampaio em Sintra, uma versão dramatúrgica do romance queirosiano, com
adaptação de Miguel Real e Filomena Oliveira, e encenação desta última, com o
apoio da Câmara Municipal de Sintra.
Corpos gerentes da FAMP com o diretor do Solar Condes de Resende |
Federação dos Amigos dos Museus de Portugal
No passado dia 14 de abril decorreu no auditório do
Solar Condes de Resende a assembleia geral anual da Federação dos Amigos dos
Museus de Portugal (FAMP), tendo os seus corpos gerentes tendo sido recebidos pela
vereadora da Cultura e da Programação Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova
de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal, pelo diretor do Solar e mesário-mor da
Confraria Queirosiana e pela direção dos Amigos do Solar Condes de Resende, que
os obsequiaram com um almoço queirosiano no bar desta Casa. Antes da ordem de
trabalhos foi entregue o prémio Professor Reynaldo dos Santos 2016, atribuído à
Sociedade de Amigos do Museu Francisco Tavares de Proença Júnior, de Castelo
Branco, pela sua exposição evocativa do centenário da morte do fundador, ex-aqueo com a mostra sobre Ópera
Chinesa candidatada pelo Grupo de Amigos do Museu do Oriente, em Lisboa.
Seguidamente decorreram os trabalhos da assembleia para aprovação do relatório
e contas, referente a 2017 e programa de atividades e orçamento para 2018.
Viagem ao Egito
Nas
últimas férias da Páscoa o Instituto Oriental da Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa levou a cabo a sua 18.ª visita de estudo ao Egito
faraónico com a coordenação científica do Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo.
Face ao sucesso da iniciativa, a mesma entidade organizará entre 21e 28 de
agosto próximos uma nova visita, em colaboração com a agência Novas Fronteiras.
Para além dos alunos e docentes daquela Faculdade a visita poderá estar
disponível para outros interessados, que assim poderão percorrer os monumentos
do país do Nilo, de avião, de barco e em balão, orientados por aquele
egiptólogo, autor de numerosa bibliografia sobre aquela fascinante civilização
que tanto deslumbrou Eça de Queirós quando o visitou em 1869.
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Eça & Outras, III.ª série,
n.º 116 – quarta-feira, 25 de abril de 2018; propriedade dos Amigos do Solar
Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt;
confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães
(TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração
Celeste Pinho.
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