Eça
de Queirós e o Dia da Gastronomia Portuguesa
A Assembleia da República pela
resolução n.º 83/2015 instituiu o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa no
último domingo de maio, comemorado este ano pela primeira vez no dia 29,
coroando assim o empenhamento da Federação Portuguesa das Confrarias
Gastronómicas, de que a Confraria Queirosiana faz parte, e de outras entidades
nesta consagração, sobretudo daqueles que desde há muito, com as suas
pesquizas, os seus estudos, as suas constatações, chamam a atenção para esta
parte incontornável da Cultura Portuguesa como parte dourada do nosso
quotidiano, pois o comer e o beber são uma das sete coisas boas que há na vida.
Só sete e sem hierarquia: o conviver, o estudar, o viajar, o amar, o repousar,
o cuidar do corpo e o tal comer e beber. Tudo isto com moderação da quantidade,
segurança da qualidade, satisfação da identidade, boa conta da oportunidade.
Celebra assim Portugal este dia em
todo o país, mas desta feita sobretudo em Aveiro, a cidade escolhida para a sua
primeira edição, com diversos eventos alusivos ao tema. A Gastronomia
Portuguesa, se bem que conte já com diversos estudos sérios e bem
fundamentados, ainda vive muito de mitos, de fantasias e mesmo de despudoradas
trapaças estribadas em bacoquismos regionalistas, como se o comer e o beber não
fossem, pela sua própria natureza, propícios à partilha e à interinfluência
cultural dos povos, sem prejuízo das verdadeiras excecionalidades locais. Como,
de resto, todas as outras seis “coisas boas”, as quais vivem também de notáveis
teimosias e devoções. E uma delas é a imediata e incontornável associação de
Eça de Queirós à festa da gastronomia. Outros escritores também a celebraram,
outros também a trabalharam como motivo literário, mas nenhum se lhe chega
perto, graças sobretudo aos estudos de Andrée Crabé Rocha, Dário Castro Alves,
Beatriz Berrini, A. Campos Matos, a que Mário Vieira de Carvalho juntaria a
música, e outros mais. Isto além de “muita fustalha” académica, literária,
jornalística, memorialística ou croniqueira, quantas vezes distorcendo a lição
inicial e transformando Eça num equivoco maître d’ hotel, que ele nunca foi nem
certamente quis ser, mas antes um comissário das preocupações unidas a lembrar que
há em todo o mundo «…tanto velho sem lar, tanta criancinha sem pão, e a
incapacidade ou indiferença de monarquias e repúblicas para realizar a única
obra urgente do mundo – a casa para todos, o pão para todos …» (Eça de Queirós,
A Rainha, «Revista Moderna», 1898).
Destas afeições queirosianas
chegou-nos do Brasil a tempo de celebrarmos este dia um precioso testemunho, um
novo livro de Dagoberto Carvalho Jr., desta feita com Hélio Coutinho Filho e
Gladstone Vieira Belo, intitulado “Jantares Ecianos do Recife”, com amável
dedicatória daquele primeiro autor e sua mulher Cristina, edição cuidada da
editora Nova Presença a evocar a memória de Beatriz Berrini, a quem se deve a
edição do incontornável “ Comer e Beber com Eça de Queiroz”, Rio de Janeiro:
Editora Index, 1995, desde então imitado e pirateado em obras menores. E de que
fala agora este outro livro? De uma já imorredoura tradição que junta
regularmente à mesa, uma vez por ano desde 1993, os confrades da Sociedade Eça
de Queiroz do Recife, que por sua vez sucedeu ao Club dos Amigos de Eça de
Queiroz fundado em 1948 por Paulo Cavalcanti, e que ainda hoje ali subsiste
agregando as novas gerações de ecianos.
Destes jantares, destas memórias,
temos testemunho fac-similado dos programas e dos que por ali passaram ao longo
destes anos, entre muitos outros notáveis portugueses e brasileiros, Dário
Castro Alves, Isabel Pires de Lima, Carlos Reis, A. Campos Matos e Beatriz
Berrini, obreiros do eterno rejuvenescimento da língua comum, sentados nas
portuguesíssimas e brasileiríssimas mesas dos restaurantes Recanto Lusitano,
Adega, Oficina do Saber, Porto dos Navegantes, Garrafeira e tantos outros,
comendo, bebendo e palestrando com Eça e suas criações literárias, o Abade de
Cortegaça, Fradique Mendes, João da Ega, Tomás de Alencar e toda aquela
humanidade que degusta grão-de-bico, arroz de favas, caldo de galinha, capão
cozido, anho assado no espeto com arroz de forno, aletria e pasteis de nata,
acompanhados de vinhos do porto, colares, verdes, douros, bucelas, dãos,
alentejos e tantos outros, sobre os quais Eça também chalaceou: «As coisas mais
deliciosas de Portugal, o lombo de porco, a vitela de Lafões, os legumes, os
doces, os vinhos, degeneraram, insipidaram…
Desde quando? Pelo que dizem os velhos, degeneraram desde o Constitucionalismo
e o Parlamentarismo. Depois desses enxertos funestos no velho trono lusitano,
os frutos têm perdido sabor como os homens têm perdido o carácter…» (Eça de
Queirós, A Correspondência de Fradique
Mendes).
Ainda vamos a tempo da redenção, como o
demonstra este livro, inexcedível presente que me mandou este meu confrade
Dagoberto Carvalho Jr. para que, em conjunto com todos vocês, oh divinos
queirosianos, comemoremos a preceito este inicial Dia da Gastronomia
Portuguesa, aqui em Portugal, no Recife e no Mundo, recordando o que por ela
fez, ainda que num firmamento muito mais estrelado, o cônsul, o homem público,
o escritor José Maria Eça de Queirós.
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria
Queirosiana
Livros
No passado dia 29 de abril decorreu
na Estação Arqueológica do Freixo, com a presença do presidente da Câmara
Municipal do Marco de Canavezes, Dr. Manuel Moreira, e outras entidades
regionais, o lançamento do livro “Tongobriga. Reflexões sobre o seu desenho
urbano”, da autoria de Charles Rocha, Lino Tavares Dias e Pedro Alarcão,
editado pelo CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e
Memória, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Trabalho conjunto do
arqueólogo com arquitetos na interpretação do urbanismo vitruviano daquela
cidade romana, «as propostas agora apresentadas, embora muito justificadas, não
só abrem exigentes perspetivas para futuros trabalhos, como também incentivam
outros, e novos, modelos de restituição de ruínas arqueológicas».
Dicionário de
Eça de Queiroz
A 11 de maio, na Biblioteca da
Imprensa Nacional em Lisboa decorreu a apresentação do monumental “Dicionário
de Eça de Queiroz”, de A. Campos Matos, o mais atualizado repositório analítico
sobre o universo queirosiano, agora apresentado por Jorge Martins.
Entretanto já se encontra na
Biblioteca da Póvoa de Varzim o espólio queirosiano reunido por A. Campos Matos
ao longo da sua já longa e proveitosa vida, o mais completo do mundo, estando
para sair a 3ª edição de “Eça de Queiroz. Uma biografia” deste autor, também em
edição da IN-CM.
A 19 de maio, na Biblioteca da
Assembleia da República, foi lançado o livro “José Leite de Vasconcelos (1858 –
1941). Peregrino do Saber” com textos de vários autores, entre eles Guilherme
de Oliveira Martins, Luís Raposo, Carlo Fabião, Santiago Macias e José Cardim
Ribeiro.
A apresentação esteve a cargo de Fernando
Rosas, professor de História Contemporânea na Universidade Nova de Lisboa
recentemente jubilado.
Colóquios e
Conferências
Língua
Portuguesa
No passado dia 15 de maio no
Mosteiro da Batalha, Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Centro
Nacional de Cultura, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian e
confrade de honra da Confraria Queirosiana proferiu uma conferência sobre as
potencialidades da Comunidade de Países da Língua Portuguesa e a sua
responsabilidade na sua defesa a nível mundial, recordando que se trata do
idioma mais falado no hemisfério sul e o terceiro europeu mais falado em todo o
mundo por 250 milhões de criaturas, prevendo que até 2100 haverá 400 milhões de
falantes; «falar bem a língua, cultivar a língua, não é questão de gramáticos,
é questão de cidadãos» acrescentou.
História da
Educação
Como noticiamos na página
anterior, decorreu no dia 20 de maio no Arquivo Municipal gaiense o colóquio
sobre “A História da Educação em Vila Nova de Gaia” organizado pelo CITCEM –
Faculdade de Letras da Universidade do Porto, através do Professor Doutor Luís
Alberto Marques Alves, presidente da Associação de Professores de História da
Educação, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, tendo nele
participado os investigadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património
sediado no Solar Condes de Resende, António Manuel S. P. Silva, Eva Baptista,
Fátima Teixeira, J. A. Gonçalves Guimarães, José António Afonso, Licínio Santos
e Susana Moncóvio, tendo esta última apresentado um estudo sobre “A educação
feminina pelas Belas Artes na sociedade de oitocentos”, além dos que
anteriormente referimos daqueles outros investigadores. Os trabalhos
apresentados vão agora ser publicados pelo CITCEM, tendo entretanto sido
sugerida a realização de um colóquio anual sobre esta temática.
Saudade Perpétua
Nos próximos dias 24 a 26 de junho
decorrerá em Gaia e Porto o 1º Colóquio Saudade Perpétua, organizado pelo
Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade da Universidade do Porto,
no qual apresentarão comunicações, entre outros, os confrades queirosianos
Ricardo Charters de Azevedo, sobre «Códigos de bom-tom ou de civilidade» e
Susana Moncóvio sobre «Maria da Glória da Fonseca Vasconcelos (n. 1831) e
Leonor Augusta Gonçalves Pinto (n. 1849), elementos de uma família de artistas
ativos no Porto e em Vila Nova de Gaia entre o século XVIII e o século XX».
Exposição
internacional
No próximo dia 20 de junho no
palácio Neptuno em Madrid será inaugurada uma exposição internacional promovida
pela Quinta da Boeira, Arte e Cultura, Vila Nova de Gaia, de modelos de
embarcações históricas portuguesas e europeias, dos séculos XVI a XIX, da
autoria de Albino Costa, antigo pescador e marinheiro da Afurada, com a edição
de um catálogo sobre a evolução das embarcações à vela coordenado pelo Gabinete
de História, Arqueologia e Património dos ASCR – Confraria Queirosiana, da
autoria de J. A. Gonçalves Guimarães. A abertura da exposição contará com a
presença de várias personalidades espanholas e portuguesas, bem assim como com
os dirigentes da Federação das Confrarias Enófilas Portuguesas, das Confrarias
dos vinhos do Porto, do Dão, do Verde, da Bairrada, e da Confraria Queirosiana
representada pelo seu mesário-mor, além de outras. A exposição percorrerá
depois diversas cidades europeias ao longo do ano, estando também prevista a
sua apresentação no curso sobre História Naval que decorrerá no Solar Condes de
Resende a partir de outubro próximo, organizado pela Academia Eça de Queirós.
Estes eventos são primeiros passos das comemorações da 1ª viagem de
circum-navegação por Fernão de Magalhães, provavelmente nascido em Vila Nova de
Gaia, que decorrerão em todo o mundo em 2019.
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Eça
& Outras, IIIª. Série, n.º 91 – quarta-feira, 25 de maio de 2016;
propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB:
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