segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Eça & Outras


domingo, 25 de novembro de 2018

Os humanos são dados às representações estéticas
       Um quadro a óleo, uma escultura, uma peça de cerâmica artística, são objetos inúteis, pois não só não têm qualquer uso prático destinado, como fazemos o possível por não os desgastar, mantendo-lhes um princípio de eternidade. E no entanto não os dispensamos do nosso quotidiano mais íntimo ou mais público. Enchemos museus e coleções com quadros, átrios e praças com estátuas e paredes e móveis com cerâmicas decorativas. E tal já é assim desde os primórdios da humanidade, quando às rochas se acrescentavam gravuras e pinturas, nos recintos tribais se colocavam menhires, e nas paredes exteriores da tigela quotidiana se desenhavam sulcos que nem tiravam nem punham qualquer acrescento ou sabor à pobre ração que ela guardava. É como se a natureza estivesse incompleta e lhe faltasse a marca humana, que ao longo dos tempos se foi enriquecendo com símbolos e significantes, até retratar a realidade, não como a superfície das águas quietas retrata o boi que bebe, mas acrescentando-lhe à mensagem da representação a emoção estética incomensurável, atributo esse que faz ora a sua eternidade, ora a sua efemeridade.
         Durante séculos essa transmissão organizou-se através de mestres, de oficinas e da escolha de materiais de qualidade capazes de perdurarem no tempo. Foi profissão e organização social de corporações que definiam os degraus de acesso ao seu exercício. Suscitou emulações e exclusividades. Beneficiou de evoluções tecnológicas, segredos e alquimias. Definiu estéticas e escolas. O saber preparar estuques, tábuas, telas, papéis, pigmentos, óleos e pincéis; o saber modelar a argila, o  passar ao gesso e deste ao molde que acolhia o bronze fundido, ou então o saber tirar da pedra a inútil brita que esconde a emoção dos relevos concebidos pelo escultor; o perpetuar na superfície da pasta cerâmica as figuras, os relevos ou as mensagens que o fogo tornará perenes, tudo isto era obra de artistas, os criadores que concebiam a obra e o seu resultado final, e também assim chamados os mecânicos que detinham o saber de fazerem com que a matéria se transformasse em mensagem.
         A partir do século XIX a produção artística democratizou-se e passou a estar ao alcance de todos os mortais, quer pela generalização da cultura e das possibilidades de aprendizagem fora da oficina e da academia, quer pelo embaratecimento dos materiais, dando origem ao aparecimento da produção dos amateurs, que arrumamos enciclopedicamente em dois grupos: os naïfs, que pintam o que lhes vai na mente adequando os materiais à sua própria estética, e os artistas livres, aqueles que, mesmo que tenham definido uma linguagem muito própria, procuram filiá-la na tradição histórica académica, quer a nível dos materiais que utilizam, quer a nível da filiação do seu conteúdo nas correntes estéticas pré-definidas. Escusado será dizer que estes amateurs convivem hoje no mesmo espaço social e artístico com os profissionais da Arte. Da perenidade das suas obras e do resultado do seu esforço pessoal em transmitir emoções plásticas aos presentes e aos vindouros, só o incontrolável Tempo o dirá. Mas também as vicissitudes do percurso de cada obra de Arte. E tudo isto sem esquecer que «na Arte, a indisciplina dos novos, a sua rebelde força de resistência às correntes da tradição, é indispensável para a revivescência da invenção e do poder criativo, e para a obra, o artista e o comprador (Eça de Queirós, prefácio a O Mistério da Estrada de Sintra).
         De tudo isto encontramos no Salon d’Automne queirosiano que reúne uma vez por ano as obras dos sócios da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, a partir do curso de pintura do Solar Condes de Resende dirigido pela Professora Pintora Paula Alves, mas também da produção profissional organizada nos ateliers pessoais, do exercício pictórico individual amador, da oportunidade de reabilitação de obras que ficaram perdidas no tempo. Quanto à sua valia, «as obras de arte devem falar por si mesmas, explicar-se por si mesmas, sem terem necessidade de pôr ao lado um cicerone (Eça de Queirós, Correspondência, carta prefácio a Luís Araújo, 15.06.1887). Mas em todas as obras produzidas ou apresentadas neste contexto existe uma vontade de procurar alguma eternidade possível para a obra, o artista e o comprador.

J. A. Gonçalves Guimarães
mesário-mor da Confraria Queirosiana

Brevemente

130 Anos de Os Maias
No próximo dia 28 de novembro, no Restaurante Pedagógico do Agrupamento de Escolas Leonardo Coimbra Filho do Porto, haverá um Almoço Queirosiano no qual estará presente J. A. Gonçalves Guimarães, mesário-mor da Confraria Queirosiana, que dissertará sobre os 130 anos da edição de Os Maias.
A 29 de novembro, pelas 18,30 horas abrirá na Galeria do Piso Inferior do Edifício Sede da Fundação Calouste Gulbenkian a exposição «Tudo o que tenho no saco. Eça e Os Maias», também alusiva aos 130 anos da publicação desta obra, de que é comissária científica e curadora Isabel Pires de Lima, estando presentes várias instituições culturais, nomeadamente a Confraria Queirosiana, que se fará representar pelo membro da direção Dr. Manuel Nogueira.
Também no dia 28 de novembro, pelas 18,30, no Auditório Eugénio de Andrade no Porto, a União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, promove mais uma sessão do ciclo Foz Literária intitulada «Uma Guerra com Letras pelo meio» em que será conferencista José Augusto Maia Marques, apresentado por José Valle de Figueiredo.
No dia 29 de novembro, no Solar Condes de Resende, na habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, pelas 21,30 horas J. A. Gonçalves Guimarães falara sobre «Atravessamentos do Rio Douro antes de haver pontes».
No dia 8 de dezembro, na Junta de Freguesia do Bonfim, Porto, haverá um debate sobre «Porto Património Mundial – cuidar dele e como?» em que serão palestrantes, entre outros, o arqueólogo António Manuel S. P. Silva e o biólogo Nuno Oliveira.

Eventos passados


Dagoberto Carvalho Júnior saúda o Capítulo em nome da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, Brasil

Decorreu no dia de ontem, 24 de novembro, o 16.º capítulo anual da Confraria Queirosiana no Solar Condes de Resende comemorativo do 173º aniversário de Eça de Queirós e dos 130 anos da 1.ª edição de Os Maias. As festividades iniciaram-se pelas 18 horas no salão nobre com a mesa constituída por Jose Manuel Tedim, presidente da direção, César Oliveira presidente da mesa da assembleia geral, Dagoberto Carvalho Júnior, da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, Brasil, Luís Brás, em representação da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas e J. A. Gonçalves Guimarães, mesário-mor da confraria. A sessão foi abrilhantada pela Escola de Música de Perosinho através dos violoncelistas João Costa e Carolina Costa e da violinista Inês Marques que executaram obras de Bach e Paganini. No discurso de abertura o presidente da direção referiu as atividades da confraria em 2018 e as perspetivas para 2019 e apresentou a edição do livro Património Humano. Personalidades Gaienses, editado pelo seu Gabinete de História, Arqueologia e Património com o Patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia; seguidamente César Oliveira apresentou as instituições presentes e Luís Brás referiu-se à importância das confrarias na promoção da Gastronomia Portuguesa, enquanto Dagoberto Carvalho Júnior falou sobre o abraço entre Portugal e o Brasil que sempre acontece em volta da obra de Eça de Queirós. Seguidamente Luís Manuel de Araújo, diretor da Revista de Portugal, nova série, apresentou o seu número 15 (ver abaixo) e o Prof. Doutor Gonçalo de Vasconcelos e Sousa a exposição Ephemera da mesa: menus e outros documentos em Portugal e na Europa 1850 – 2018, patente nas salas contíguas e que foi mostrada ao público presente no final da sessão.
         Seguiu-se a insigniação dos novos confrades de honra e de número: Dr. Amadeu António Ribeiro Pêgas, advogado e membro do concelho fiscal da Fundação Eça de Queiroz, no grau de leitor; Prof. Doutor António Barros Cardos, professor universitário e presidente da APHVIN/GEHVID, louvado; Eng.º Manuel Hipólito Almeida dos Santos, engenheiro e administrador da Cerâmica do Douro; Dr. Fernando Rui Morais Soares, economista e Eng.ª Paula Cristina Martins Carvalhal, engenheira e vereadora do Pelouro da Cultura da autarquia gaiense, todos no grau de mecenas. Depois da habitual colocação de uma coroa de louros na estátua de Eça de Queirós existente no Jardim das Camélias pelos insigniados, seguiu-se o jantar queirosiano, com a atuação do grupo cantante Eça Bem Dito, que entoou canções napolitanas da Belle Èpoque, e da Academia de Dança Gente Gira abriu o Baile das Camélias.

 Palestras, conferências e cursos
No passado dia 7 de novembro decorreu no anfiteatro nobre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto um colóquio internacional e interdisciplinar intitulado «Poética das Lágrimas. Textos e contextos femininos (teoria e prática)», organizado pelo CITCEM e outras instituições onde, entre outros palestrantes, falou o médico psicanalista e ensaísta Jaime Milheiro sobre «Misteriosidade. Ocultação e Lágrimas».
No dia 8, no Museu Arqueológico do Carmo em Lisboa e promovida pela comissão de Arqueologia profissional da Associação dos Arqueólogos Portugueses, o arqueólogo António Manuel S. P. Silva proferiu uma conferência sobre «Deontologia profissional, associativismo, investigação e gestão do Património – Que Arqueologia neste século XXI?»  
No dia 9, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia, o historiador Francisco Barbosa da Costa realizou uma palestra sobre História de Gaia, numa sessão promovida pelo Lions Club local.
         No dia 16 decorreu no Arquivo Municipal de Gaia um encontro sobre «Grande Guerra e participação portuguesa: repercussões», o qual foi aberto pelo presidente da câmara Prof. Doutor Eduardo Vítor Rodrigues, a que se seguiu a comunicação de Jorge Fernandes Alves sobre «A participação de Portugal na Grande Guerra: a escalada através dos documentos oficiais», seguida, entre outras, pela de J. A. Gonçalves Guimarães sobre «A “ Escola de Escultura de Gaia” e os Monumentos aos Mortos da Grande Guerra (1914 – 1918) em Portugal, França e Angola», sendo o encontro encerrado pelo vereador Dr. Manuel Monteiro.
         Nos dias 16 e 17 de novembro decorreu na Escola Sá de Miranda em Braga um encontro organizado pelo CITCEM e outras entidades sobre «Preservar a Memória (i)material da Escola», onde foram palestrantes, entre outros, Eva Baptista e José António Martin Moreno Afonso.
         No dia 17, no Solar Condes de Resende prosseguiu o curso livre “Música & Músicos: aspetos do Património Musical Português”, com uma aula sobre «Música e ritual nas cerimónias fúnebres luso-brasileiras – séculos XVIII e XIX” pelo Prof. Doutor Rodrigo Teodoro.
         Nos dias 19 a 23 decorreu na Escola Secundária Eça de Queirós, Olivais, Lisboa, o IV Colóquio Internacional Luso-Brasileiro, Lusofonia: Realidade(s), Mito(s) e Utopia(s) e o XXIV Colóquio Eça de Queiroz/ Telheiras, onde foram palestrantes, entre outros, Alfredo Campos Matos, com uma «Apresentação da primeira versão francesa da biografia de Eça, na Gulbenkian de Paris com o título “Vie et Oeuvre d' Eça de Queiroz”»; Fernando Andrade Lemos e outros, sobre «A “Vessica Piscis” na igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu – Telheiras»; Luís Manuel de Araújo sobre «A Coleção Egípcia do Museu Nacional do Rio de Janeiro» e César Veloso sobre «Um, para mim, estranho silêncio de Eça de Queirós».

Prémio Direitos Humanos 2018
         O júri do Prémio Direitos Humanos 2018, da Assembleia da República, constituído no âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, deliberou por unanimidade propor a atribuição do Prémio Direitos Humanos 2018, à Obra Vicentina de Auxílio aos Reclusos, de que é presidente da direção o Eng. Manuel Hipólito Almeida dos Santos,       pela sua atuação junto da população detida, designadamente através de visitas a estabelecimentos prisionais, do apoio a reclusos e suas famílias, contribuindo dessa forma para a humanização do sistema prisional e a reinserção dos cooptados por este sistema de privação da liberdade.
  
Revistas e Livros

No Capítulo da Confraria Queirosiana foi apresentado pelo seu diretor, Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, o número 15 da nova série da Revista de Portugal, com 96 páginas, cuja capa apresenta o busto do J. Rentes de Carvalho recentemente inaugurado no Solar Condes de Resende e da autoria de Hélder de Carvalho, sendo o número dedicado aos 50 anos da vida literária do escritor. No conteúdo, vários artigos de afetos, o editorial lembra os 130 anos da edição de Os Maias, a memória do comendador Fernando Fernandes, recentemente falecido, um artigo de J. Rentes de Carvalho sobre o falecimento de Fernando Peixoto há 10 anos, um artigo sobre «O regresso a casa» de J. Rentes de Carvalho e o seu espólio depositado no Solar Condes de Resende por J. A. Gonçalves Guimarães, uma notícia sobre a obra artística de Hélder de Carvalho, que, além do busto da capa e de um outro no interior teve honras de contra-capa com a estátua de Abel Salazar no Porto; segue-se um artigo de Felicidade Ferreira sobre «O Colégio da Lapa e a educação dos filhos da burguesia portuense do século XIX: o caso da família de Tomás António de Araújo Lobo»; uma notícia de Jorge Campos Henriques sobre «Eça de Queiroz e Aveiro – “O Solar dos Queiroses”: um triste fim»; de Susana Moncóvio «Anatomia de um caso: o retrato de homem com boina vermelha da Casa-Museu Egas Moniz» sobre uma errada identificação de um pseudo-retrato do escritor; de José Pereira da Graça «O processo do Colmeal (da Marofa): história, realidade, comentários e mitos», o desmontar de uma mentira construída no pós-25 de abril que até teve “honras” de filme televisivo; segue-se a bibliografia produzida em 2017 pelos sócios e confrades da Confraria Queirosiana e o Relatório de Atividades e resumo das contas desse mesmo ano.


Sobre os 25 anos de atividade da Associação dos Amigos de Pereiros, S. João da Pesqueira, e os projetos desenvolvidos durante este quarto de século, alguns deles em colaboração com a ASCR-Confraria Queirosiana, A. Silva Fernandes publicou recentemente esta elucidativa brochura.

Foi publicado o número 12 da revista Terras de Antuã Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, propriedade da Câmara Municipal, o qual apresenta os artigos de António Manuel Silva e outros sobre «Trabalhos Arqueológicos no Castro de Salreu, breve crónica da intervenção de 2018», e de Susana Moncóvio sobre «Uma obra do pintor Francisco Pinto Costa (1826-1869) na Casa Museu Egas Moniz, para além de outros temas locais.
Revista de inegável interesse que transcende o meio local, só é pena que, como muitas outras que nos vão chegando, seja de cansativa leitura por motivos meramente técnicos: artigos com um corpo de letra muito pequeno e impressa a “preto clarinho”, o que rapidamente cansa a vista a quem a quer ler.

O crime do Padre Amaro
A Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) acaba de lançar uma nova edição de O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, a qual inclui uma análise textual concebida pelos professores do seu Instituto de Letras, Eduardo da Cruz e Sérgio Nazar David, que utilizaram os  parâmetros adotados pela edição critica preparada pelos especialistas Carlos Reis e Maria do Rosário Cunha, publicada em 2000, pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

Um Capítulo Queirosiano

Numa tarde bem fria e muito molhada
Num “cavalo” preto a Canelas rumamos
Convidados pela Confraria a Eça dedicada
Ao Solar Condes de Resende entramos
E a uma sala com lareira do Solar subimos
E logo, uma calorosa recepção sentimos

A abertura do XVI Capítulo 2018 chegou
Num nobre salão com história decorado
Muito do imortal Eça de Queirós se falou
Sobre as memórias nesta casa recordado
Enquanto a música enchiam os corações
Pelos ilustres se procedia às insigniações

Na calma e cheiro a bucho bem aparado
Com frouxa luz as camélias enxergamos
Num banco o Eça no seu modo sentado
Com a coroa, o Patrono homenageamos
Para esta chama viva ao Eça com história
À digna e prestigiada Confraria, sua vitória

Também o Eça a gastronomia enaltecia
E numa mesa a preceito, jus a Eça se fez
Era assim que nesta casa de Eça se fazia

Não só por terras de Vera Cruz Eça está
Como também pelo mundo Eça se alonga
Sopa do Vidreiro, Queirosianos recordará

Martingança, 25.11.2018
Confrade Octávio Rodrigues
(gran-escriba da Confraria da Sopa do Vidreiro)
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Eça & Outras, III.ª série, n.º 123, domingo 25 de novembro de 2018; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Confraria da Sopa do Vidreiro, Octávio Rodrigues.

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