Não desistiremos de
Verdemilho
«Filho de Aveiro,
educado na Costa Nova, quase peixe da ria, eu não preciso que mandem ao meu
encontro caleches e barcaças. Eu sei ir por meu próprio pé ao velho e conhecido
palheiro de José Estêvão». Isto
escreveu Eça de Queirós a Oliveira Martins em 1884. Hoje, caro leitor, terás
sérias dificuldades em visitar e perceber o abandono a que têm sido votadas as
ruinas da Casa de Verdemilho, onde o escritor viveu com sua avó em menino, o
que o levou àquela afetiva afiliação aveirense, e que foi de seu avô Joaquim
José de Queirós, o magistrado que organizou a revolta de 1828 contra o
absolutismo persecutório de D. Miguel, ali perto onde seu pai, o também juiz
José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, viveu e foi o redator principal de O Campeão do Vouga. Ambos estão sepultados em jazigo de família no próximo
cemitério do Outeirinho, onde Eça também deveria estar – ou no Panteão Nacional
– se não tivesse sido entregue às mitologias familiares.
Pelas
mais variadas razões – e nem sempre as melhores, convenhamos – Eça não nos sai
do quotidiano. Mérito seu, sem dúvida; mediocridade nossa quantas vezes e quase
sempre. Recentemente a parte do país que lê ficou chocada por ter constatado
que Os Maias já não são leitura
obrigatória no ensino secundário. Não seria tanto para tal se isso não se
inserisse num plano geral de banalização da Cultura portuguesa: o próprio
escritor considerou a obra «uma coisa extensa e sobrecarregada» (carta a
Oliveira Martins, 1888), caraterística que não terá muita aceitação nos dias de
hoje em que tudo é pack e take away, quando temos as séries de TV
e o filme, os resumos comentados para “tirar” boa nota nos exames e as
facilidades da internet. Ouvi em
tempos dizer a A. Campos Matos (que escreveu a continuação da “vida” de Carlos
da Maia num notável Diário) que a
leitura daquele romance não deveria ser obrigatória, por assim afastar a
juventude, que naturalmente não vai lá com obrigações, do prazer de ler a obra
por gosto e com gosto. Por sua vez J. Rentes de Carvalho (que também a
continuou em Os Novos Maias. O Rio Somos Nós, coleção Eça Agora, Expresso,
2013), num recente apontamento intitulado «O ukase sobre “Os Maias”» publicado no Expresso Diário no dia 19
passado, insurge-se contra tal explicando «Não é porque a Eça de Queirós devo
muito e sei o seu valor, que me põe de avesso o ukase dos senhores da Educação, mas porque o considero um crime.
Qualquer português adulto, em seu juízo e um mínimo de escolaridade, sabe que
Eça de Queirós é mais que um nome, uma estátua ou uma placa de rua». E a
alternativa de que a obra pode ser substituída por qualquer outra do mesmo
autor, não nos deixa sossegados, pois com a falta de estudos e conhecimento que
sobre o autor e a obra têm muitos professores que a “deram” na faculdade pelas
sebentas do costume, com a regionalização do ensino, também Eça irá ser
divulgado em “batuques literários” (a expressão é de JRC) locais, e lá veremos
os alunos a estudarem livros que nunca escreveu, como “As Cidades e as Serras
de Baião”, ou “A Ilustre Casa de Ramires de Resende”, ou quiçá “O Conde de
Abranhos de Freixo-de-Espada-à-Cinta, essa linda terra do nosso Minho”, como o
senhor deputado se apresentava. Continuando a citar JRC, «pelo que a nós, os de
boa vontade, cientes do valor da obra do “pobre homem da Póvoa de Varzim”,
resta-nos fazer trabalho de missão: convencer os que o ignoram, que a obra de
Eça de Queirós nos dá um genial retrato do país que éramos, fomos, continuamos
a ser, mas onde para mal de todos nós os mangas-de-alpaca só conhecem uma
velocidade: a marcha atrás». Mesmo quando tudo parece juntar-se para nos tentar
desanimar.
Recentemente
Jorge Campos Henriques, autor de Eça em
Aveiro. Raízes e outras histórias,
editado pela Câmara Municipal local em 2001, o mais completo estudo-síntese sobre,
afinal, este “peixe da ria” e os seus antepassados do Solar dos Queirozes em
Verdemilho, colecionador durante toda a vida de bibliografia queirosiana,
incluindo primeiras e raras edições, além de documentação sobre o avô liberal, e
desde sempre esperançado na dignificação do jazigo e na recuperação das ruinas
da casa para um Centro Cultural Queirosiano (para o qual o Arq.to A.
Campos Matos chegou a fazer um anteprojeto tão singelo quanto funcional) ao
qual ofereceria o seu espólio, perante a sucessiva indiferença das
administrações municipais e da Universidade de Aveiro, acabou por oferecer uma
parte do seu espólio à Casa de Antero de Quental de Vila do Conde, a terra onde
Eça foi batizado, e o restante a um colecionador privado. É triste, mas
acontece. A Jorge Campos Henriques resta-nos dizer: não vamos desistir de
Verdemilho nem da sua dignificação, até porque se aproxima o duplo centenário
da Revolução de 1820, quando um grupo de portugueses arriscou a vida e a
fortuna para regenerar o país. Deu no que deu, mas desde então outras gerações
de homens e mulheres de Aveiro e de outras terras, até à atualidade, ainda não
desistiram. Como do célebre forte Álamo se diz, repetiremos: Remember Verdemilho.
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria
Queirosiana
Foral
de 1518
Decorrem
no Município de Vila Nova de Gaia as comemorações dos 500 anos do Foral
Manuelino de 1518 com várias iniciativas. Assim, no passado dia 28 de junho, na
celebração do Dia do Município no Auditório Municipal, foram agraciados pelo
presidente da Câmara, Eduardo Vitor Rodrigues, com a Medalha de Ouro de Mérito
Municipal, Sebastião Feyo de Azevedo, ex-reitor da Universidade do Porto e
Manuel de Novaes Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Porto e do
Douro. No início dessa mesma sessão, J. A. Gonçalves Guimarães fez a
apresentação do livro aí lançado O Foral
Manuelino de Vila Nova de Gaya. 1518-2018, editado pela autarquia, o qual,
para além da edição fac-similada o documento e respetiva transcrição, apresenta
uma introdução de Cândido dos Santos, vertida para inglês por Susana Guimarães,
e ainda estudos de Francisco Ribeiro da Silva e de Amândio Barros, sobre a
cidade e o município no século XVI.
J. Rentes de Carvalho
Entretanto no passado mês de
dezembro as Edições Lusitânia do Porto publicaram um livro de Caros Nogueira,
doutorado em Literatura Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade do
Porto e co-regente da cátedra José Saramago da Universidade de Vigo, intitulado
São feitas de palavras as palavras.
Ensaios de Literatura Portuguesa,
no qual, entre muitos outros ensaios, apresenta «Montedor, de J. Rentes de Carvalho: romance clássico moderno», p.
261-283 e «Autobiografia, memória e tempo nos romances de J. Rentes de Carvalho»,
p. 285-312.
Confrarias
A delegação da Confraria Queirosiana no cortejo evocativo do Foral de1518 |
Ofertas à Confraria Queirosiana
Ao longo dos
anos vários têm sido os sócios dos Amigos do Solar Condes de Resende –
Confraria Queirosiana e outros doadores que legaram à instituição diversos
espólios bibliográficos e outros que se encontram depositados e disponíveis na
sua sede: entre várias peças avulsas resultado de várias doações, recordamos os
espólios de Manuel Inácio Luiz (doado por seu filo Acácio Luís), Prof. J.
Rentes de Carvalho, Dr.ª Júlia Cunha (doado pelo Dr. Marcus Vinicius Cocentino
Fernandes), Dr. Raúl Ferreira da Silva, Rocha Artes Gráficas, Eng.º Charters de
Azevedo, Carlos Alberto de Jesus Almeida (partituras musicais e outros doadas
por sua filha Paul Almeida) e Arq.to António Rocha Ferreira. No que
se refere a obras de Arte, para além de um quadro a óleo do Visconde de Beire,
de Susana Guimarães, de um de Eça de Queirós, de A. Dias Machado, de um retrato
de J. Rentes de Carvalho de Adélio Martins, do busto em bronze do mesmo
escritor por Hélder de Carvalho, recentemente foram oferecidos uma paisagem a
óleo de Alexandre Rufo, e dois outros quadros a óleo de Adélio Martins,
representando o Largo dos Judeus e a paisagem de Gaia e do Porto que dele se
avista, baseados na obra Ernestina de
J. Rentes de Carvalho.
As
Artes entre as Letras
Hélder de Carvalho
Edgar Cardoso por Hélder de Carvalho |
Nos últimos
tempos o escultor Hélder de Carvalho tem apresentado ao público notáveis
trabalhos seus, quer magníficos retratos publicados no jornal As Artes Entre as Letras, como o de Guilherme de Oliveira Martins no recente
numero de aniversário, quer obras modeladas em barro e vertidas em bronze. Para
além do busto do escritor J. Rentes de Carvalho, inaugurado no Solar Condes de
Resende no passado dia 19 de maio, no dia 22 de junho, durante a visita do II
World Heritage Congresss. Steel Bridges of Large Arch ao Laboratório Edgar
Cardoso, situado em Gaia junto à Ponte Maria Pia, apresentou aos congressistas
um estudo para um busto do patrono da instituição. No dia 29 de junho inaugurou
um grande busto de Alberto Amaral, ex-reitor da Universidade do Porto, na
respetiva Faculdade de Ciências.
Psicanálise
e Cultura
Livros e Periódicos
Douro
Douro.
Vinho, História & Património. Wine, History and Heritage, propriedade
da Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/GEHVID),
dirigida pelo Prof. Doutor António Barros Cardoso, da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, que fez a sua apresentação, seguido do diretor do IVPD,
Dr. Manuel de Novaes Cabral, que salientou a importância desta revista para a
contextualização da História dos vinhos portugueses, seguido da Prof. Doutora
Célia Taborda, da Universidade Lusófona do Porto, que fez a apresentação do seu
conteúdo. Este número, entre vários estudos de investigadores portugueses e
estrangeiros, apresenta, do seu diretor, para além do editorial, «Douro e Porto
– destinos cruzados pelos meandros de um Rio»; de Maria de Fátima Teixeira,
investigadora do Gabinete de História, Arqueologia e Património da
ASCR-Confraria Queirosiana, «A Fábrica de Arcos de Ferro da Companhia Geral da
Agricultura das Vinhas o Alto Douro»; e de Nuno Resende, também da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto e coordenador no PACUG, «Imagens e caminho: a
fotografia como fonte para o estudo das vias. O caso da cidade do Porto
(1849-1930)», e ainda uma recensão sobre «Judeus de Lamego e outros
cristãos-novos do Alto Douro (séculos XV-XVIII)» de J. M. Braz.
No dia 19 de julho no Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto teve lugar a sessão de lançamento do número 6 da revista
Poemas da minha vida
Na sequência
do que vem fazendo há anos com personalidades marcantes da vida portuguesa,
desta vez a editora Modo de Ler do Porto convidou Manuel de Novaes Cabral,
diretor do IVDP a reunir em livro os seus “Poemas da Minha Vida”, uma coletânea
de versos escritos por amigos seus, os quais foram lançados em agradáveis
sessões, no passado dia 5 de julho na Cooperativa Árvore no Porto, e no dia 11
na Livraria Buchholz em Lisboa. A apresentação contou com a presença de
literatos, diseurs, cantores,
confrades e amigos do autor desta antologia.
Tendais
Nuno Resende autografa a sua obra mais recente |
No passado dia
22 de julho, pelas 11,30 horas da manhã, foi lançado na residência paroquial de
Santa Cristina de Tendais, Município de Cinfães, um novo livro de Nuno Resende,
professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, intitulado A Igreja de Tendais. Culto, comunidade e
Memória, que vem assim adicionar mais um volume à já sua notável
bibliografia sobre o património duriense.
Palestras
Na habitual palestra das últimas
quintas-feiras do Solar Condes de Resende, excecionalmente no passado dia 5 de
julho por no dia 28 se ter comemorado o Dia do Município, o Dr. André Macedo
apresentou o seu estudo sobre “A necrópole romana do Monte Sameiro em Valadares”;
na próxima quinta-feira, 26 de julho pelas 21,30 horas, o Dr. Paulo Costa,
falará sobre “Os forais medievais de Vila Nova de Gaia”.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 119, quarta-feira, 25 de julho de 2018;
propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685; NIB:
0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt;
confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães
(TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.
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