J. Rentes de
Carvalho |
No passado dia 30
de maio a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a Câmara Municipal de Mogadouro
homenagearam J. Rentes de Carvalho na Biblioteca Municipal Trindade Coelho,
onde uma sala repleta ouviu o escritor apresentar o seu mais recente livro
intitulado Trás-os-Montes, o Nordeste,
apresentado por Francisco José Mateus Albuquerque Guimarães, presidente da
edilidade, David Lopes, administrador e diretor-geral da fundação e Francisco
José Viegas, escritor e editor. Para além dos referidos e de jornalistas vindos
de Lisboa que aterrados aterraram no aeródromo local, viam-se muitos
conterrâneos, amigos e admiradores da sua escrita vertical e limpa, singular na
azáfama editorial deste país. Com a frontalidade habitual apresentou o seu
maior pequeno grande livro, feito de pedaços de vida, amarguras, afeições e
ilusões transmontanas entendidas e explicadas por quem as sente visceralmente e
nessas vísceras inclui o cérebro bem sovado na masseira do pão da inteligência,
o que nunca é fácil nem se espere como resultado de inspirações. Por isso cada
página lhe deve ter custado horas de luta consigo próprio, jogando entre a
memória, a devoção à terra e às gentes, a lealdade aos amigos da estrada
percorrida entre o cais de Vila Nova de Gaia, onde nasceu, Viana do Castelo,
onde se fez homem, Amsterdam onde criou profissão de professor da língua e da
arte de ser português e família holandesa, Estevais do Mogadouro onde se
reencontrou consigo próprio e com gerações infindáveis de gente que esgadanhou
no quotidiano uma razão de existir e o conforto dos minguados sete prazeres da
vida, nestas berças sempre muito contadas pelo agreste do ser e do ter. Desde
então que não quer esse mundo e aflições só pra si, mas quer partilhá-lo com os
outros, como quem corta generosa fatia do pão centeio para matar fomes que
andam para aí disfarçadas de comezainas intelectuais.
Começando
por definir a sua geografia transmontana, que não é a histórica, nem a
administrativa e muito menos a folclórica, deu conta o autor que mais fácil lhe
seria escrever sobre o Portugal parido pelos decretos lisboetas do que pôr-se a
litigar nesta causa própria, onde é juiz, testemunha, guarda, oficial de
diligências, réu e público que assiste e comenta, tudo numa pessoa só. Este
livro não é um auto-de-fé masoquista, mas um processo inacabado que não conduz
a sentenças nem a condenações. Flui como o Douro, depois dos apertos das
arribas, a que seguemos meandros que o hão de levar ao mar onde o sol se
esconde nos horizontes adivinhados. Não tivesse J. Rentes de Carvalho nascido
junto à sua foz e das ondas desse mar, que desde tamanhinho o levaram a querer
saber para onde iam os barcos que via partir, e certamente seria mais um
daqueles escritores que dissertam sobre pescadinhas de rabo na boca pessoais e
sobre a casticidade dos que não conhecem, pois os inventam à revelia das suas
evidências para sucessos de literaturas digestivas, ainda que quase sempre
chatas. E este facto, que na realidade o impediu de ser mais um daqueles
pastores transmontanos que guardam académicas e estéreis cabras sonhando com
estrangeiras amantes, não deixa ele próprio de o referir neste livro: «Sim, sou
de Gaia, com orgulho e afeição. Nela nasci, me criei, descobri mundos, o largo
do Monte (dos) Judeus foi para mim alma
mater, janela que me proporcionou o maravilhoso e mais caleidoscópico
panorama que qualquer um pode desejar: toda uma cidade defronte como em
gigantesco ecrã, a sarabanda do rio a espicaçar uma fantasia que ainda tudo
desconhecia de navegações, heroísmos, agruras da vida, batalhas ou Índias, mas
lhe deixava pressentir que, para lá do bulício, ficava um mundo que só podia
ser de alegria, beleza e maravilhas.
À
escola que Gaia foi para mim continuo grato e nunca pagarei a dívida, mas
sentimento igual merece-me a paisagem rude, majestosa, estática, sofrida, em
que nasceram, viveram, amarguraram, foram a enterrar, aqueles de quem sou o
último da linha.» (pág. 32).
Mas
também em terra alguma do litoral se entendem estes túneis do marão bem
sofridos entre o lugar onde se nasce e aquele de onde herdamos uma infinita
saudade nunca vencida mas a haver pelo que poderia ou deveria ter sido e não
foi. Por isso a maior parte dos gaienses – mais de 300.000 transmontanos,
minhotos, beirões, peritejanos, britânicos, brasileiros ou outros – estão
sempre a pensar na terra do avô ou da bisavó e quando filosofam, escrevem,
musicam, esculpem, modelam, pintam, realizam filmes, concretizam teorias e
máquinas ou fazem outras obras onde acrescentam como ingredientes uns pozinhos
de futuro, sabem bem de que paraísos perdidos ou a haver estão a falar. São
eles assim e J. Rentes de Carvalho um dos que melhor os define.
Neste
livro o autor abriu o peito, mas não garante «que este Nordeste Transmontano
seja o genuíno, corresponda por inteiro a uma realidade, ou encaixe na visão e
no sentimento que outros têm dele» (pág. 75). Mas é com certeza um tributo leal
à sua gente «toda de extremos, tão pronta para uma ingenuidade infantil como
para a cegueira fatal». E com a leitura deste livro podemos agora bem dizer que
Trás-os-Montes é já ali.
J. A Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana
Eventos comemorativos
No
dia 3 de junho a Escola Secundária de Canelas promoveu no Solar Condes de
Resende um Sarau Queirosiano entre as 16 e as 23 horas, por onde passaram
danças de salão do séc. XIX, dramatização de quadros da época, jantar
queirosiano, leitura de excertos de As
Farpas, recital de poesia, soirèe
musical, exposição temática; muitos alunos, professores e familiares.
Dia de
Itália
No
dia 4 decorreram, como habitualmente no Palácio do Freixo no Porto, as
comemorações da Festa Nazionale d’ Italia, organizadas pelo ConsolatoOnorario
d’Italia e pela Associazione Socio-Culturale Italiana dellPortogallo Dante
Alighieri, nas quais estiveram presentes diversos amigos e confrades
queirosianos, estando a direção representada pelo presidente José Manuel Tedim,
J. A. Gonçalves Guimarães,António Pinto Bernardo e Susana Moncóvio.
Monumento
No passado dia 3 de junho foi
inaugurado em Vila Nova de Gaia um Monumento ao Associativismo promovido pela
Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, de que é presidente César
Oliveira e da qual a Confraria Queirosiana é associada. Da autoria da escultora
Helena Fortunato, apresenta-se com notável dimensão e implantado numa zona de
expansão da cidade. Constituído por uma sólida coluna central em granito, tem
inseridos nas laterais elementos giratórios em aço que simbolizam as diversas
áreas do movimento associativo e as suas dinâmicas. Foi inaugurado pelo
presidente da Câmara Municipal, Eduardo Vitor Rodrigues, tendo estado presentes
associações internacionais, nacionais, regionais e locais.
Livros
& Revistas
O
Melhor Jornal escolar
No dia 27 de
maio decorreu no Pavilhão Municipal de Gaia a Gala do concurso “Melhor Escola”
destinado a galardoar os melhores jornais escolares promovidos pelo jornal O Gaiense, nos quais estiveram
envolvidos diversos amigos e confrades queirosianos, nomeadamente nos jornais
das escolas Secundária de Canelas (1.º Melhor Jornal e Melhor Reportagem) e
Diogo de Macedo, Olival (3.ª Melhor Jornal e Prémio Online). Esta produção
ficou perpetuada na edição de um livro com reprodução da totalidade dos jornais
produzidos, entregue a cada um dos participantes, professores e alunos da
escola vencedora pelo presidente da Junta de Freguesia de Canelas e pelo
diretor daquele semanário no passado dia 22 de junho no Solar Condes de
Resende.
No
dia 9 de junho foi lançado no Arquivo Municipal Alberto Sampaio em Vila Nova de
Famalicão o número 2 da revista Vinho
Verde. História e Património. HistoryandHeritage, publicada pela Associação
Portuguesa da história da Vinha e do Vinho (APHVIN/GEHVID), dedicada aos 175
anos do nascimento de Alberto Sampaio com artigos de, entre outros, Francisco
Ribeiro da Silva sobre “Alberto Sampaio e Oliveira Martins. Notas de leitura da
correspondência recíproca (1884-1894)” e J. A. Gonçalves Guimarães “Alberto
Sampaio e a Revista de Portugal”.
No
passado dia 17 de junho no auditório da Assembleia Municipal de Vila Nova de
Gaia, José António Afonso lançou o seu mais recente livro, intitulado Escolas Rurais na 1.ª República Portuguesa
1910-1926. Discursos e representações sobre aperiferia, editado pela Whitebooks.
A mesa esteve composta por Albino Almeida, presidente daquele órgão autárquico,
J. A. Gonçalves Guimarães pela Confraria Queirosiana e pelo solar Condes de
Resende, pelo autor, professor na Universidade do Minh, e pela Prof.ª Doutora
Margarida Louro Felgueiras da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto, que fez a apresentação da obra, salientando o seu
contributo para a compreensão da problemática da escolaridade e oportunidades
sociais das crianças do mundo ruralizado da 1.ª República, cuja realidade se
estendeu muito para além desta baliza cronológica e histórica.
Palestras
e visitas culturais
No Solar
Condes de Resende prosseguem as palestras das últimas quintas-feiras do mês.
Assim no passado dia 25 de Maio, Maria de Fátima Teixeira apresentou o tema “
Os acionistas da Companhia de Fiação de Crestuma” e no próximo dia 29 de junho,
J. A. Gonçalves Guimarães falará sobre “O Museu Viking de Roskilde e uma
proposta para o Museu do Barco Rabelo de Gaia”.
Diversos
confrades queirosianos têm feito também várias palestras e visitas guiadas
comentadas noutras instituições cujas notícias nos vão chegando: assim, no
passado dia 18 de junho, José Manuel Tedim, realizou uma “visita d’ autor” no
MMIPO – Museu e Igreja da Misericórdia do Porto, sob o tema “Benfeitores da
SCMP – António Bessa Leite”. No próximo dia 30 de junho decorrerá no forte de
São João Baptista da Foz do Douro, Porto, o I Encontro Nacional de
Literaturismo - Roteiros Literários, Turismo e Gastronomia, organizado por José
Valle de Figueiredo e promovido pela União das Freguesias de Aldoar, Foz do
Douro e Nevogilde, no qual participarão, entre outros, pelas 10 horas, o
organizador e J. A. Gonçalves Guimarães num painel sobre “Pelos caminhos de
Camilo – Roteiros camilianos de Ribeira de Pena, Famalicão, Gaia, Porto e
Beiras”. Pelas 15 horas haverá um painel sobre Literatura, Turismo e Gastronomia
em que participarão, entre outros, Manuel de Novaes Cabral, presidente do
Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, e Olga Cavaleiro, presidente da
Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas; no dia 31 de julho pelas 10
horas, José Augusto Maia Marques falará sobre “Geografia de Mulheres da Beira de abel Botelho” e às
12,30, José Valle de Figueiredo sobre “Jardim da Europa à Beira-mar plantado
(Tomás Ribeiro e a Geografia Cultural de Parada de Gonta)”. Nesse mesmo dia,
mas às 15,30 apresentará, em colaboração, a “A Foz Literária” com uma visita
aos lugares mais emblemáticos.
Exposições
No
próximo dia 1 de julho, pelas 18 horas, será inaugurada no Museu de Olaria em
Barcelos a exposição de cerâmica contemporânea de José Ramos “ Buscando o
Simples”. Autor de inconfundível obra onde os esmaltes contrastam com as
terras, o autor apresentará as suas mais recentes criações neste museu
encantatório que exibe a arte popular de trabalhar o barro sem prejuízo das
mais avançadas propostas artísticas. Haverá uma performance de dança
contemporânea.
Prémios
No passado dia
16 de junho a Associação Portuguesa de Museologia atribuiu os prémios APOM
2017, tendo sido distinguido com uma menção honrosa o Catálogo da exposição
temporária realizada na Casa Museu Marta Ortigão Sampaio (CMP) e Museu da
Quinta de Santiago (CMM) intitulada Aurélia, mulher artista (1866-1922), que
contou com a colaboração de Susana Moncóvio,investigadora do Gabinete de
História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ, autora do texto “Mulheres
artistas antes de Aurélia de Sousa: a lenta metamorfose de uma condição no
espaço da Academia Portuense de Belas-Artes”, ali publicado.
A biografia
romanceada de Mário Cláudio «Astronomia», publicado em Outubro de 2015 foi
declarada vencedora do XXII Grande Prémio de LiteraturaDSTGroup, devendo o
galardão ser entregue no próximo dia 30 de junho no Teatro Circo no decorrer da
Feira do Livro de Braga.
Eça & Outras, III.ª série,
n.º 103 – domingo, 25 de junho de 2017; propriedade dos Amigos do Solar Condes
de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685 ; NIB: 0018000055365059001540; IBAN:
PT50001800005536505900154; email:
queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt;
confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com;
vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães
(TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração:
Susana Moncóvio
Sem comentários:
Enviar um comentário