Eleições! Eleições!
A 24 de
Agosto de 1820 eclodiu no Porto uma revolução organizada por civis que
pretendiam devolver aos portugueses algum do rumo perdido após as Invasões
Francesas, a transferência da Corte para o Brasil e a sujeição do governo
interino de Lisboa ao exército de ocupação inglês. Vivendo do comércio
transatlântico, os negociantes portuenses, cujos filhos entretanto tinham ido a
Coimbra bacharelar-se em Direito, pretendiam também continuar a ter acesso aos
mercados, nomeadamente o brasileiro, pelo menos em igualdade de circunstâncias
com ingleses e os negociantes de outros países do norte da Europa. Depois
queriam uma Constituição, uma lei matricial que refundasse a comunidade
nacional e que abrangesse todos os portugueses, que fizesse elevar da condição
de súbditos e os transformasse em cidadãos.
Como nisto de revoluções as armas são importantes,
aliciaram para a causa alguns militares para garantirem não só que não se
oporiam à revolta, mas que depois do seu triunfo assegurariam que essa mudança
não redundaria em anarquia generalizada, até porque o povo tinha fome e esta
não se compadece com muitas demoras bem intencionadas ou teóricas. Aos
militares que aderiram interessava-lhes sobretudo correrem com os oficiais
ingleses, cuja presença os humilhava, e que o rei voltasse do Brasil para
redistribuir promoções e titulaturas. Não seriam todos, mas a maioria não
queria sequer ouvir falar em Constituição. Vencida a causa, logo em dezembro de
1820 convocam-se eleições para deputados às Cortes, ou seja para uma assembleia
nacional que colocasse Portugal na Europa do seu tempo. O círculo eleitoral de
base considerado foi a paróquia, pois não havia outro. Assim se iniciou entre
nós a Democracia que, como é sabido, tem no ato eleitoral o seu mais expressivo
ritual. Desde então, com muitos avanços e recuos, no último trimestre deste ano
de 2017 e a caminho de 200 anos de eleições, vamos outra vez às urnas, desta
feita para eleger os responsáveis pela administração local, juntas de freguesia
(ou uniões) e respetivas assembleias de freguesia, e câmaras municipais e
respetivas assembleias municipais. Ficará ainda desta vez de fora do sufrágio
direto e universal a eleições dos representantes dos cidadãos para as
assembleias metropolitanas e respetivas juntas. Lá chegaremos; será uma questão
de tempo.
As eleições no tempo de Eça de Queirós motivaram-lhe
alguns saborosos comentários que hoje importa reler e confrontar com a realidade
atual, tendo em conta que já não trocamos a intenção de voto, nesta ou naquela
lista de candidatos, por um prato de carneiro com batatas nem pelo pipo de
vinho com torneira disponível. Já estamos longe da situação em que no século
XIX se realizava «…o cerimonial exterior das suas eleições: - porque as
eleições, elas próprias, já estavam feitas havia muito, segundo o costume
consagrado e venerável, por meio de uma lista de círculos e um lápis, no
remanso das secretarias. Restava só a solenidade de ir o povo às urnas. Todos sabemos, porém, que em muitos círculos se
evita o barulho e a poeira desta cerimónia – reduzindo a eleição a uma simples
ata que as autoridades lavram depois da missa, a um canto da sacristia. O povo,
esse, fica nas suas moradas, quieto e certo de que o senhor administrador está
«fazendo» o senhor deputado» (Eça de Queirós, Da colaboração no «Distrito de Évora», III, (1867)). É que,
entretanto, também passamos pelo Estado Novo, em que existia «Uma maioria
nomeada pelo Governo e que passivamente obedece às instruções do Governo: um
Governo organizado por um chefe, e que fielmente segue as indicações desse
chefe» (Idem), como Eça muito bem
adivinhou, mas que não queremos repetir, pois não queremos voltar à «cauda da
Europa».
Quanto aos candidatos que nos querem representar, embora
muitos falem como se se quisessem representar a eles próprios, ouçamos ainda as
sábias palavras do senhor cônsul: «Dir-me-ão que eu sou absurdo ao ponto de
querer que haja um Dante em cada paróquia, e de exigir que os Voltaires nasçam
com a profusão dos tortulhos. Bom Deus, não! Eu não reclamo que o país escreva
livros, ou que faça artes: contentar-me-ia que lesse os livros que já estão
escritos, e que se interessasse pelas artes que já estão criadas. A sua
esterilidade assusta-me menos que o seu indiferentismo. O doloroso espetáculo é
vê-lo jazer no marasmo, sem vida intelectual, alheio a toda a vida nova, hostil
a toda a originalidade, crasso e mazorro, amuado ao seu canto, com os pés ao
sol, o cigarro nos dedos, e a boca às moscas… É isto que punge» (Eça de Queirós, Cartas de Inglaterra).
Hoje, felizmente, tudo entre nós é muito diferente. E se
tu meu caro leitor (permita-se-me este tom coloquial) ainda não deste pelas
diferenças, então convém que te prepares, pois vai haver eleições para escolher
quem vai governar o Teu município, a Tua cidade, a Tua aldeia. A Tua terra.
Eleições! Eleições!
J. A Gonçalves
Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana
Roteiros
queirosianos
Visita
a Évora
Nas
comemorações dos 150 anos da estadia de Eça de Queirós na capital do Alentejo a
dirigir o semanário Distrito de Évora, a associação Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana vai organizar uma visita a esta cidade nos dias
20 e 21 de Maio.
As
inscrições podem ser feitas junto da entidade organizadora.
Livros
& Revistas
Cursos,
palestras, colóquios, jornadas…
Fórum
de Avintes
No passados dias 17 e 18 de fevereiro de
correu na Junta de Freguesia de Avintes o XXVII Fórum Avintense, organização
anual da autarquia local com a colaboração da Confraria da Broa de Avintes, o
qual tem como objetivo «apresentar e debater os mais diversos temas…sobre o
passado, o presente ou o futuro….de Avintes.
No presente ano, apresentaram comunicações
Eva Baptista sobre “A Festa escolar em Avintes na aurora do século XX”; J. A.
Gonçalves Guimarães sobre “José de Almeida Celorico um negociante de Vila Nova
de Gaia devoto do Senhor do Palheirinho”; Abel Ernesto Barros sobre “Os
azulejos no nosso concelho”; e Nuno Gomes Oliveira “História Natural do Rio
Febros”, entre outros.
Professor
José Manuel Tedim
No
passado domingo, dia 19 de fevereiro, o historiador da Arte, professor da
Universidade Portucalense e presidente da direção dos Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana, falou no Museu e Igreja da Misericórdia do
Porto sobre a benfeitora desta instituição Luzia Joaquina Bruce.
A
partir do próximo dia 15 de março, às quartas-feiras, das 18,30 às 19, 45, na
Associazione Socio-Culturale Italiana del Portogallo Dante Alighieri, rua da
Restauração 409 no Porto, este professor iniciará um novo ciclo de “Encontros
com a Arte” desta vez sobre Escultura Italiana.
Conde
de Burnay
Conforme
divulgamos anteriormente, no dia 23 passado, nas habituais palestras das
últimas quintas-feiras do mês do Solar Condes de Resende, o Professor Doutor
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, coordenador do volume do Património Humano do
Projeto de Levantamento do Património Cultural Gaiense (PACUG), apresentou a
conferência “ O Conde de Burnay e a sua época”, cuja casa na Granja ainda
existe e foi mesmo objeto de recuperação em data recente.
O
Cerco do Porto
Ontem,
dia 24 de fevereiro, decorreu na Ordem da Lapa, na Galeria dos Retratos da
Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, um seminário sobre “ O Cerco do
Porto”, organizado pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique e pela
Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, com a colaboração da Direção
Geral de Recursos da Defesa Nacional, o qual teve como orador na sua abertura o
Prof. Doutor Francisco Ribeiro da Silva, mesário para a Cultura desta irmandade
e também da Misericórdia do Porto. Sobre este acontecimento da história
nacional, que incidiu com particular relevância nos atuais municípios de Porto,
Vila Nova de Gaia, Vila do Conde, Matosinhos, Maia e Gondomar, entre os
diversos oradores falaram José Manuel Tedim, sobre “Patrimónios desaparecidos
com o Cerco do Porto”, e J. A. Gonçalves Guimarães sobre “A outra margem do
Cerco do Porto”.
No
encerramento a representante da Câmara Municipal do Porto apresentou o projeto
de turismo militar intitulado “O Porto Liberal”, que será centrado no mausoléu
com o coração de D. Pedro existente na igreja da Lapa.
Jantar
de encerramento do curso sobre História Naval
Nos próximos dias 4 e 18 de março, sábados
à tarde, entre as 15 e as 17 horas, prosseguirá no Solar Condes de Resende o
curso livre sobre História Naval do Noroeste de Portugal, organizado pela
Academia Eça de Queirós com a colaboração da Câmara Municipal de Gaia e do
Solar Condes de Resende. No dia 4, o Prof. Doutor Álvaro Garrido, da
Universidade de Coimbra falará sobre “A Pesca do Bacalhau, apenas uma epopeia?”
e no dia 18 o Prof. Doutor Jorge Alves falará sobre “O Porto de Leixões” na
aula de encerramento.
Nesse
mesmo dia haverá um jantar de encerramento do curso na Quinta da Boeira em Vila
Nova de Gaia, precedido de uma visita comentada à sua coleção de modelos de
embarcações históricas e prova de vinhos. No final do jantar atuarão os Eça Bem
Dito, o coro do Solar com a pianista Maria João Ventura. As inscrições, abertas
a todos os sócios inscritos ou não no curso, podem ser feitas para a direção da
Confraria Queirosiana.
Camélias
do Solar Condes de Resende
Pompónia,
Pamplona, Pompom,
Da
beleza sem aroma têm o dom.
Quinta,
Solar, propriedade,
No
centenário jardim sabem toda a Verdade.
Da
Casa, dos Convidados, dos Senhores,
Todas
as histórias, amores e desamores.
Anseiam
pela frescura que tem tardado
Para
as belas flores abrir
Pelo
manto da noite orvalhado
E os
luares de Inverno a sorrir.
Pomponia,
Pamplona, Pompom…
Susana Guimarães, 25.01.2017
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 99 – sábado, 25 de fevereiro de 2017;
propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te.
n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email:
queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral; colaboração: Susana Guimarães.
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