sábado, 25 de fevereiro de 2017

Eça & Outras

Eleições! Eleições!

           A 24 de Agosto de 1820 eclodiu no Porto uma revolução organizada por civis que pretendiam devolver aos portugueses algum do rumo perdido após as Invasões Francesas, a transferência da Corte para o Brasil e a sujeição do governo interino de Lisboa ao exército de ocupação inglês. Vivendo do comércio transatlântico, os negociantes portuenses, cujos filhos entretanto tinham ido a Coimbra bacharelar-se em Direito, pretendiam também continuar a ter acesso aos mercados, nomeadamente o brasileiro, pelo menos em igualdade de circunstâncias com ingleses e os negociantes de outros países do norte da Europa. Depois queriam uma Constituição, uma lei matricial que refundasse a comunidade nacional e que abrangesse todos os portugueses, que fizesse elevar da condição de súbditos e os transformasse em cidadãos.
           Como nisto de revoluções as armas são importantes, aliciaram para a causa alguns militares para garantirem não só que não se oporiam à revolta, mas que depois do seu triunfo assegurariam que essa mudança não redundaria em anarquia generalizada, até porque o povo tinha fome e esta não se compadece com muitas demoras bem intencionadas ou teóricas. Aos militares que aderiram interessava-lhes sobretudo correrem com os oficiais ingleses, cuja presença os humilhava, e que o rei voltasse do Brasil para redistribuir promoções e titulaturas. Não seriam todos, mas a maioria não queria sequer ouvir falar em Constituição. Vencida a causa, logo em dezembro de 1820 convocam-se eleições para deputados às Cortes, ou seja para uma assembleia nacional que colocasse Portugal na Europa do seu tempo. O círculo eleitoral de base considerado foi a paróquia, pois não havia outro. Assim se iniciou entre nós a Democracia que, como é sabido, tem no ato eleitoral o seu mais expressivo ritual. Desde então, com muitos avanços e recuos, no último trimestre deste ano de 2017 e a caminho de 200 anos de eleições, vamos outra vez às urnas, desta feita para eleger os responsáveis pela administração local, juntas de freguesia (ou uniões) e respetivas assembleias de freguesia, e câmaras municipais e respetivas assembleias municipais. Ficará ainda desta vez de fora do sufrágio direto e universal a eleições dos representantes dos cidadãos para as assembleias metropolitanas e respetivas juntas. Lá chegaremos; será uma questão de tempo.
           As eleições no tempo de Eça de Queirós motivaram-lhe alguns saborosos comentários que hoje importa reler e confrontar com a realidade atual, tendo em conta que já não trocamos a intenção de voto, nesta ou naquela lista de candidatos, por um prato de carneiro com batatas nem pelo pipo de vinho com torneira disponível. Já estamos longe da situação em que no século XIX se realizava «…o cerimonial exterior das suas eleições: - porque as eleições, elas próprias, já estavam feitas havia muito, segundo o costume consagrado e venerável, por meio de uma lista de círculos e um lápis, no remanso das secretarias. Restava só a solenidade de ir o povo às urnas. Todos sabemos, porém, que em muitos círculos se evita o barulho e a poeira desta cerimónia – reduzindo a eleição a uma simples ata que as autoridades lavram depois da missa, a um canto da sacristia. O povo, esse, fica nas suas moradas, quieto e certo de que o senhor administrador está «fazendo» o senhor deputado» (Eça de Queirós, Da colaboração no «Distrito de Évora», III, (1867)). É que, entretanto, também passamos pelo Estado Novo, em que existia «Uma maioria nomeada pelo Governo e que passivamente obedece às instruções do Governo: um Governo organizado por um chefe, e que fielmente segue as indicações desse chefe» (Idem), como Eça muito bem adivinhou, mas que não queremos repetir, pois não queremos voltar à «cauda da Europa».
           Quanto aos candidatos que nos querem representar, embora muitos falem como se se quisessem representar a eles próprios, ouçamos ainda as sábias palavras do senhor cônsul: «Dir-me-ão que eu sou absurdo ao ponto de querer que haja um Dante em cada paróquia, e de exigir que os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos. Bom Deus, não! Eu não reclamo que o país escreva livros, ou que faça artes: contentar-me-ia que lesse os livros que já estão escritos, e que se interessasse pelas artes que já estão criadas. A sua esterilidade assusta-me menos que o seu indiferentismo. O doloroso espetáculo é vê-lo jazer no marasmo, sem vida intelectual, alheio a toda a vida nova, hostil a toda a originalidade, crasso e mazorro, amuado ao seu canto, com os pés ao sol, o cigarro nos dedos, e a boca às moscas… É isto que punge» (Eça de Queirós, Cartas de Inglaterra).
           Hoje, felizmente, tudo entre nós é muito diferente. E se tu meu caro leitor (permita-se-me este tom coloquial) ainda não deste pelas diferenças, então convém que te prepares, pois vai haver eleições para escolher quem vai governar o Teu município, a Tua cidade, a Tua aldeia. A Tua terra. Eleições! Eleições!

J. A Gonçalves Guimarães
Mesário-mor da Confraria Queirosiana

Roteiros queirosianos

Visita a Évora

         Nas comemorações dos 150 anos da estadia de Eça de Queirós na capital do Alentejo a dirigir o semanário Distrito de Évora, a associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana vai organizar uma visita a esta cidade nos dias 20 e 21 de Maio.
         As inscrições podem ser feitas junto da entidade organizadora.

Livros & Revistas

        

O Chefe Hélio Loureiro, com a colaboração de outros chefes, acaba de lançar um novo livro intitulado À Moda do Porto, o qual apresenta um conjunto de receitas tidas como tradicionais daquela cidade com o respetivo enquadramento gastronómico. O autor é membro de 25 confrarias nacionais e estrangeiras, incluindo a Confraria Queirosiana.



Cursos, palestras, colóquios, jornadas…

Fórum de Avintes

         No passados dias 17 e 18 de fevereiro de correu na Junta de Freguesia de Avintes o XXVII Fórum Avintense, organização anual da autarquia local com a colaboração da Confraria da Broa de Avintes, o qual tem como objetivo «apresentar e debater os mais diversos temas…sobre o passado, o presente ou o futuro….de Avintes.
No presente ano, apresentaram comunicações Eva Baptista sobre “A Festa escolar em Avintes na aurora do século XX”; J. A. Gonçalves Guimarães sobre “José de Almeida Celorico um negociante de Vila Nova de Gaia devoto do Senhor do Palheirinho”; Abel Ernesto Barros sobre “Os azulejos no nosso concelho”; e Nuno Gomes Oliveira “História Natural do Rio Febros”, entre outros.

Professor José Manuel Tedim

         No passado domingo, dia 19 de fevereiro, o historiador da Arte, professor da Universidade Portucalense e presidente da direção dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, falou no Museu e Igreja da Misericórdia do Porto sobre a benfeitora desta instituição Luzia Joaquina Bruce.
         A partir do próximo dia 15 de março, às quartas-feiras, das 18,30 às 19, 45, na Associazione Socio-Culturale Italiana del Portogallo Dante Alighieri, rua da Restauração 409 no Porto, este professor iniciará um novo ciclo de “Encontros com a Arte” desta vez sobre Escultura Italiana.

Conde de Burnay

         Conforme divulgamos anteriormente, no dia 23 passado, nas habituais palestras das últimas quintas-feiras do mês do Solar Condes de Resende, o Professor Doutor Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, coordenador do volume do Património Humano do Projeto de Levantamento do Património Cultural Gaiense (PACUG), apresentou a conferência “ O Conde de Burnay e a sua época”, cuja casa na Granja ainda existe e foi mesmo objeto de recuperação em data recente.

O Cerco do Porto

         Ontem, dia 24 de fevereiro, decorreu na Ordem da Lapa, na Galeria dos Retratos da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, um seminário sobre “ O Cerco do Porto”, organizado pela Universidade Portucalense Infante D. Henrique e pela Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, com a colaboração da Direção Geral de Recursos da Defesa Nacional, o qual teve como orador na sua abertura o Prof. Doutor Francisco Ribeiro da Silva, mesário para a Cultura desta irmandade e também da Misericórdia do Porto. Sobre este acontecimento da história nacional, que incidiu com particular relevância nos atuais municípios de Porto, Vila Nova de Gaia, Vila do Conde, Matosinhos, Maia e Gondomar, entre os diversos oradores falaram José Manuel Tedim, sobre “Patrimónios desaparecidos com o Cerco do Porto”, e J. A. Gonçalves Guimarães sobre “A outra margem do Cerco do Porto”.
         No encerramento a representante da Câmara Municipal do Porto apresentou o projeto de turismo militar intitulado “O Porto Liberal”, que será centrado no mausoléu com o coração de D. Pedro existente na igreja da Lapa.

Jantar de encerramento do curso sobre História Naval

         Nos próximos dias 4 e 18 de março, sábados à tarde, entre as 15 e as 17 horas, prosseguirá no Solar Condes de Resende o curso livre sobre História Naval do Noroeste de Portugal, organizado pela Academia Eça de Queirós com a colaboração da Câmara Municipal de Gaia e do Solar Condes de Resende. No dia 4, o Prof. Doutor Álvaro Garrido, da Universidade de Coimbra falará sobre “A Pesca do Bacalhau, apenas uma epopeia?” e no dia 18 o Prof. Doutor Jorge Alves falará sobre “O Porto de Leixões” na aula de encerramento.
         Nesse mesmo dia haverá um jantar de encerramento do curso na Quinta da Boeira em Vila Nova de Gaia, precedido de uma visita comentada à sua coleção de modelos de embarcações históricas e prova de vinhos. No final do jantar atuarão os Eça Bem Dito, o coro do Solar com a pianista Maria João Ventura. As inscrições, abertas a todos os sócios inscritos ou não no curso, podem ser feitas para a direção da Confraria Queirosiana.


Camélias do Solar Condes de Resende
Pompónia, Pamplona, Pompom,
Da beleza sem aroma têm o dom.
Quinta, Solar, propriedade,
No centenário jardim sabem toda a Verdade.
Da Casa, dos Convidados, dos Senhores,
Todas as histórias, amores e desamores.

Anseiam pela frescura que tem tardado
Para as belas flores abrir
Pelo manto da noite orvalhado
E os luares de Inverno a sorrir.

Pomponia, Pamplona, Pompom…

Susana Guimarães, 25.01.2017

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 99 – sábado, 25 de fevereiro de 2017; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; C.te. n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Susana Guimarães.







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