sexta-feira, 24 de julho de 2015


Eça & Outras 25 Julho 2015

Centenário de Paulo Cavalcanti

          É sabido e conhecido como Eça de Queirós tem sido admirado, estudado e divulgado no Brasil, muito mais do que em qualquer outro país fora de Portugal. Numa escala empírica diríamos que estariam a seguir Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, Cuba e China. Escala empírica, repito, pois como temos vindo a noticiar nesta página, o escritor tem vindo a ser traduzido em muitas outras línguas e estudado noutras paragens.
          Mas o Brasil ama Eça de Queirós, onde ele nunca esteve fisicamente, mas aí se divulgou em vida através das suas crónicas na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, das edições – algumas piratas – dos seus romances, da sua polémica com Machado de Assis, dos seus amigos brasileiros em Paris. Do mesmo modo poderemos dizer que, muito para além de aspetos circunstanciais analisados com finíssima ironia, Eça também o amava, descrevendo-o como «uma nação tão amorável, tão generosa, tão hospitaleira, tão europeia e de tão vasta fraternidade, como é o Brasil, para sua grande honra entre as nações» (Uma Campanha Alegre).
            Não nos admiremos pois quando nos anos 90 do século passado o Brasil emitiu uma coleção de selos de correio homenageando os grandes escritores brasileiros de língua portuguesa e, entre eles, lá estava Eça de Queirós, circunstância que levou muitos cidadãos daquele país a pensarem que ele era seu compatriota, o que não tem mal nenhum. Leiam-no, que logo terão tempo para descobrir a sua biografia, aliás precisamente pela primeira vez tentada pelo escritor brasileiro Miguel de Mello em 1911. E ao universal não fazem mossa os pormenores da paroquialidade.
            Entre os seus grandes cultores brasileiros, conta-se, sem dúvida, Paulo Cavalcanti, que a mão amiga desse outro seu atual representante no Brasil, que é Dagoberto Carvalho Júnior, me fez chegar numa publicação editada pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE) justamente intitulada “Paulo Cavalcanti 100 anos”, tendo no interior um seu artigo intitulado “Paulo Cavalcanti, escritor eciano”.
            O homenageado, que nasceu em 1915 em Olinda, Recife, formou-se em Direito, tendo sido promotor público, deputado, autarca e defensor de presos políticos. Filiado no Partido Comunista Brasileiro, onde teve como correligionário o grande arquiteto Óscar Niemeyer, foi ele próprio várias vezes preso e impedido de exercer os seus direitos de cidadania durante a ditadura. Foi também escritor e crítico literário, tendo sido em 1984 eleito presidente da secção de Pernambuco da União Brasileira de Escritores e, em 1988, seu presidente de honra e do 1.º Congresso de Escritores do Nordeste.
            Em 1945, nas comemorações do centenário do nascimento de Eça e do concurso literário comemorativo promovido pela Diretoria de Documentação e Cultura da Prefeitura do Recife, escreve o ensaio “Eça de Queiroz, o revolucionário” que foi classificado em quarto lugar pelo júri, mas mesmo assim publicado pela sua novidade e ousadia, em “Eça de Queiroz. Documentário de uma comemoração”, onde então nos atirou à cara: «Vê-se, por aí, quanto tem sido incompreendida a arte de Eça de Queiroz, principalmente em Portugal. Tido, embora, como desnacionalizador, foi, entretanto, um dos maiores cultores do lusitanismo. Em verdade, seu patriotismo não se deixou empolgar pelo sentimento das palhaçadas cívicas» (Cavalcanti, 1947:142). Só em 1989 visitaria Portugal.
Entretanto em 1948, com o escritor e jornalista Silvino Lopes, funda o Clube dos Amigos de Eça de Queiroz, que depois evoluirá para a atual Sociedade Eça de Queirós, a que presidiu enquanto viveu, bem assim como à Associação de Imprensa de Pernambuco. Fascinado pelo texto “O Povo”, publicado por Eça aos 22 anos no Distrito de Évora, tomava este como expoente doutrinário da sua ação pública em defesa do bem-estar dos seus concidadãos nos diversos cargos públicos que foi assumindo. Em 1959 publica “Eça de Queiroz, agitador no Brasil”, recentemente reeditado em português e inglês por aquela editora. Repositório de uma intensa recolha da repercussão dos escritos queirosianos na sociedade brasileira de Goiana, tornou-se «obra da maior importância para a fortuna crítica do mestre poveiro», como sobre ela agora escreveu Dagoberto Carvalho J.or, ex- secretário e ex- presidente daquela Sociedade sediada no Recife e de que fazem parte como sócios de honra A. Campos Matos, Carlos Reis, Isabel Pires de Lima, J. Rentes de Carvalho e o signatário desta mal alinhavada prosa comemorativa, na honrosa companhia de tantos outros portugueses do Brasil, ou no Brasil, e de brasileiros de Portugal, ou em Portugal. Como vocemecês quiserem, que aqui não importa muito a filosofia da prosa.
Ainda no programa deste centenário, a referida editora publicou também, em formato digital, a tetralogia de Cavalcanti “O caso eu conto como o caso foi”, subtítulo Memórias Políticas, e os títulos: “Fatos do meu tempo”; “Nos tempos do Prestes”; “Da coluna Prestes à queda de Arraes”; “A luta clandestina”. Tudo isto são grandes coisas do país irmão, onde um dos seus mais prestigiados intelectuais do século XX atribui a Eça a lição de muita da sua cultura humanística.
Mas há também os pequenos gestos que nos aconchegam o quotidiano. Com a publicação veio o postal comemorativo dos 50 anos da Sociedade Eça de Queiroz, do Recife, concebido por Moema Cavalcanti, a filha do homenageado, com aquelas sempre amigas palavras de Dagoberto. Colecionamos emoções. E Eça é um mar Atlântico delas, nestes cem anos do queirosiano Cavalcanti que um dia escreveu “Não há neutralidade em face da vida”.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor

Cursus honorum
  
Confrade do Vinho do Porto
           
Eduardo Vitor Rodrigues; Foto CMG 

No passado dia 20 de junho Eduardo Vitor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, foi insigniado no grau de infanção na Confraria do Vinho do Porto. O capítulo teve lugar no Pátio das Nações do Palácio da Bolsa. Na ocasião foram também distinguidos, entre outros, Assunção Cristas, ministra da Agricultura e do Mar, e Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto. O agraciado é também confrade honorário da Confraria Queirosiana.




Doutoramento em História da Arte
           
Doutora Susana Moncóvio.
Foto Miguel Pena
No passado dia 1 de julho, Susana Moncóvio, mestre em História da Arte, membro dos corpos gerentes dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana e do seu Gabinete de História, Arqueologia e Património, e investigadora no Solar, apresentou provas de doutoramento na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em História da Arte com a tese sobre “O Centro Artístico Portuense (1880-1893). Socialização do Ensino, da História e da Arte Moderna no Portugal de oitocentos”, a qual teve como orientadora a Prof. Doutora Maria Leonor Botelho, tendo sido aprovada pelo júri com distinção por unanimidade.




Prémio da APE
Mário Cláudio.
Foto Fernando Liberdade
O escritor Mário Cláudio voltou a vencer o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído ao seu livro “Retrato de Rapaz” que fantasia as relações de Leonardo Da Vinci com um jovem aprendiz, fazendo parte de uma trilogia sobre amores entre pessoas de idades e condições diferentes. A decisão foi divulgada no passado dia 17 de julho, trinta anos depois do escritor ter recebido o mesmo prémio pelo romance “Amadeo” em que a personalidade principal é o pintor futurista português morto pela pneumónica em 1918, pouco tempo depois de andar a fazer de picador numa tourada na Granja.
Natural do Porto, onde nasceu em 1941, em setembro próximo publicará uma autobiografia intitulada “Astronomia” sobre as três fases da sua vida. Mário Cláudio é confrade de honra da Confraria Queirosiana.


Cursos, Conferências & Palestras
A 4 de julho, integrado no programa Open House Porto, J. A. Gonçalves Guimarães proferiu uma palestra no Mosteiro de Corpus Christi sobre a história deste monumento do Centro Histórico de Gaia.
             Integrada no 22º Festival Internacional de Música de Gaia, decorreu no passado dia 18 de julho no Auditório Municipal uma conferência-concerto sobre “A Ópera na obra de Eça de Queirós” proferida pelo confrade queirosiano Professor Doutor Mário Vieira de Carvalho, acompanhada da execução de trechos de óperas de Augusto Machado, Gounod e Offenbach pelo Estúdio de Ópera do Conservatório Superior de Música de Gaia, sob a direção musical da Professora Fernanda Correia. No final uma sala cheia aplaudiu de pé o conferencista, os intérpretes, a direção e o Professor Doutor Mário Mateus diretor do Conservatório e do Festival, estando presentes os corpos gerentes da Confraria Queirosiana que assim se associaram ao ato.
            Na Fundação Eça de Queiroz, sediada em Baião, está a decorrer, entre 19 e 25 de julho, o habitual Curso Internacional de Verão, este ano subordinado ao tema “Eça e o romance oitocentista: transformações cinematográficas e televisivas”.
A 22 de julho no Espaço Porto Cruz, ainda em Vila Nova de Gaia, J. A. Gonçalves Guimarães apresentou o n.º 3 da revista “Douro. Vinho, História e Património. Wine, History and Heritage”, propriedade da APHVIN/GEHVID, de cujos corpos gerentes faz parte.
            No próximo dia 30 de julho, às 21,30 horas, nas habituais palestras das últimas quintas-feiras do mês do Solar Condes de Resende, a historiadora da Arte Doutora Susana Moncóvio falará sobre “O escultor Joaquim Gonçalves da Silva (1863 – 1912). Contributos para a sua biografia”.
           
Escavações arqueológicas
             Entre os próximos dias 19 e 27 de agosto decorrerá no Castelo de Crestuma a última intervenção do atual projeto nesta estação arqueológica iniciado em 2010 e que determinou que o sítio tem ocupação desde a Idade do Ferro até ao período da Reconquista, mas com particular evidência entre os séculos IV e VII, no período suévico-visigótico. Os trabalhos serão dirigidos por J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva, coordenadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR-CQ, e a intervenção continuará agora num único espaço onde começaram a aparecer construções em pedra nos anos transatos. A presente campanha conta com o apoio técnico do Parque Biológico de Gaia e do Solar Condes de Resende e o apoio institucional do Município de Vila Nova de Gaia, da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma e da empresa SUMA.

Livros, Revistas, Jornais & Blogues

As Artes entre as Letras, ano VI
           

No passado dia 8 de julho na delegação do norte da Ordem dos Médicos decorreu a sessão comemorativa do 6º aniversário e da 150ª edição do Jornal As Artes entre as Letras, dirigido por Nassalete Miranda e que mensalmente publica a página Eça & Outras da Confraria Queirosiana. Durante a sessão foi lançado o livro “Somos Mochos” de Aureliano da Fonseca, que apresenta uma boa parte da sua coleção de mais de 600 exemplares. O presente número do jornal, com capa de Emerenciano, contém artigos e depoimentos da sua diretora, Guilherme d’ Oliveira Martins, Francisco Ribeiro da Silva e outros habituais colaboradores.


Crónicas do Porto
Mário Dorminsky, diretor do Fantasporto, lançou no passado dia 12 na FNAC do Gaiashoping um novo livro intitulado “Portugal à espera. Crónicas do Porto” editado por Seda Publicações. A apresentação esteve a cargo de Artur Jorge Basto.

Nova edição de O Egipto. Notas de viagem
           
Com a chancela da Feitoria dos Livros, acaba de ser lançada uma nova edição de “O Egipto. Notas de viagem” de Eça de Queiroz, com prefácio e anotações de A. Campos Matos que «procurou nesta edição, a 1ª ilustrada… proporcionar um texto mais depurado do que o da 1.ª edição e edições correntes, eivadas de incorrecções, baseando-se na informação de dois especialistas que referenciaram tais anomalias: Jean Girodon e Luís Manuel de Araújo. Entendeu, além disso, que as ilustrações do texto se afiguravam indispensáveis, sobretudo para evidenciar o carácter arquitectural de excepção das mesquitas muçulmanas do Cairo, a que Eça foi extremamente sensível…
Oferece-se deste modo ao público leitor de Eça a sugestiva edição de uma obra juvenil, de grande importância como marco essencial da sua evolução literária.» (da apresentação da presente edição). A 1ª edição foi preparada pelos filhos José Maria e Alberto na Granja, Vila Nova de Gaia, em 1926.

Nova edição (primeira bilingue) de A Cidade e as Serras
             
O Município de Baião, através da Alêtheia Editores, acaba de publicar uma nova edição, bilingue, de “A Cidade e as Serras/The City and the Mountains” de Eça de Queirós com tradução de Margareth Jull Costa, capa de Ricardo Alves e no interior, a separar as duas versões, 16 cromatografias de outros tantos autores. Com prefácio do Dr. José Luís Carneiro, presidente do município, esta nova edição vem com certeza permitir uma especial divulgação da obra de um dos maiores escritores portugueses de sempre junto do público estrangeiro que nos visita, mas também, mais uma vez, que os portugueses «se deliciem com a leitura de um dos textos literários que ainda hoje continua a confrontar-nos com o que é essencial nas nossas vidas».

Museus, Coleções & Exposições

Abriu o MMIPO
            No passado dia 15 de julho foi inaugurado o Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO), localizado na Rua das Flores, o qual apresenta nos seus espaços documentos, objetos arqueológicos e obras de arte relacionadas com os mais de 500 anos desta instituição fundada em 1499 por D. Manuel I. Para além de muitos retratos de benfeitores, estatuária religiosa, ourivesaria e paramentaria, sobressai na coleção exposta o grande quadro Fons Vitae, atribuído ao pintor holandês Colijn de Corter e onde estão retratados aquele rei, a rainha e os príncipes, terminando o roteiro do museu na igreja cuja fachada é de Nasoni. Ideia com mais de cem anos, o projeto foi agora concretizado sob a orientação do mesário do Culto e Cultura, Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva, tendo sido inaugurado pelo primeiro-ministro, tendo também estado presentes o presidente da direção dos ASCR-CQ, Prof. Doutor José Manuel Tedim, que tinha anteriormente participado no ciclo de conferências que antecederam esta inauguração, e outros confrades.

“Cister no Douro”
            Hoje, dia 25 de julho, pelas 17 horas, na biblioteca do Museu dos Transportes e Comunicações na Alfândega do Porto é apresentado o catálogo da exposição itinerante “Cister no Douro”, organizada pelo Museu de Lamego e coordenado pelo nosso confrade Prof. Doutor Nuno Resende, investigador e docente da FLUP, com a colaboração de mais treze investigadores, que assinam os estudos agora publicados sobre este notável património do Vale do Douro e seus afluentes.

Confrarias  & Associações
Associação de Coletividades de Vila Nova de Gaia
No passado dia 10 de julho, na Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, César Oliveira, presidente da Mesa da Assembleia Geral dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, tomou posse como presidente da direção da Associação das Coletividades de Vila Nova de Gaia, tendo como presidente da Mesa da Assembleia Geral o confrade queirosiano e presidente da câmara Eduardo Vitor Rodrigues e ainda o associado queirosiano Edmundo Coutinho nos corpos gerentes. A direção dos ASCR-CQ fez-se representar na ocasião por vários dos seus membros.
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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 81 – sábado, 25 de julho de 2015; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração neste número: Dagoberto Carvalho J.or; A. Campos Matos.



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