Eça & Outras 25
Julho 2015
Centenário de Paulo Cavalcanti
É sabido e conhecido como Eça de
Queirós tem sido admirado, estudado e divulgado no Brasil, muito mais do que em
qualquer outro país fora de Portugal. Numa escala empírica diríamos que
estariam a seguir Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, Cuba e China.
Escala empírica, repito, pois como temos vindo a noticiar nesta página, o
escritor tem vindo a ser traduzido em muitas outras línguas e estudado noutras
paragens.
Mas o Brasil ama Eça de Queirós,
onde ele nunca esteve fisicamente, mas aí se divulgou em vida através das suas
crónicas na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, das edições – algumas piratas
– dos seus romances, da sua polémica com Machado de Assis, dos seus amigos
brasileiros em Paris. Do mesmo modo poderemos dizer que, muito para além de
aspetos circunstanciais analisados com finíssima ironia, Eça também o amava, descrevendo-o
como «uma nação tão amorável, tão generosa, tão hospitaleira, tão europeia e de tão vasta
fraternidade, como é o Brasil, para sua grande honra entre as nações» (Uma Campanha Alegre).
Não nos admiremos pois quando nos
anos 90 do século passado o Brasil emitiu uma coleção de selos de correio
homenageando os grandes escritores brasileiros de língua portuguesa e, entre
eles, lá estava Eça de Queirós, circunstância que levou muitos cidadãos daquele
país a pensarem que ele era seu compatriota, o que não tem mal nenhum.
Leiam-no, que logo terão tempo para descobrir a sua biografia, aliás
precisamente pela primeira vez tentada pelo escritor brasileiro Miguel de Mello
em 1911. E ao universal não fazem mossa os pormenores da paroquialidade.
Entre os seus grandes cultores
brasileiros, conta-se, sem dúvida, Paulo Cavalcanti, que a mão amiga desse
outro seu atual representante no Brasil, que é Dagoberto Carvalho Júnior, me
fez chegar numa publicação editada pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE)
justamente intitulada “Paulo Cavalcanti 100 anos”, tendo no interior um seu
artigo intitulado “Paulo Cavalcanti, escritor eciano”.
O homenageado, que nasceu em 1915 em
Olinda, Recife, formou-se em Direito, tendo sido promotor público, deputado,
autarca e defensor de presos políticos. Filiado no Partido Comunista
Brasileiro, onde teve como correligionário o grande arquiteto Óscar Niemeyer,
foi ele próprio várias vezes preso e impedido de exercer os seus direitos de
cidadania durante a ditadura. Foi também escritor e crítico literário, tendo
sido em 1984 eleito presidente da secção de Pernambuco da União Brasileira de
Escritores e, em 1988, seu presidente de honra e do 1.º Congresso de Escritores
do Nordeste.
Em 1945, nas comemorações do centenário
do nascimento de Eça e do concurso literário comemorativo promovido pela
Diretoria de Documentação e Cultura da Prefeitura do Recife, escreve o ensaio
“Eça de Queiroz, o revolucionário” que foi classificado em quarto lugar pelo
júri, mas mesmo assim publicado pela sua novidade e ousadia, em “Eça de
Queiroz. Documentário de uma comemoração”, onde então nos atirou à cara:
«Vê-se, por aí, quanto tem sido incompreendida a arte de Eça de Queiroz,
principalmente em Portugal. Tido, embora, como desnacionalizador, foi,
entretanto, um dos maiores cultores do lusitanismo. Em verdade, seu patriotismo
não se deixou empolgar pelo sentimento das palhaçadas cívicas» (Cavalcanti,
1947:142). Só em 1989 visitaria Portugal.
Entretanto em 1948, com o escritor e
jornalista Silvino Lopes, funda o Clube dos Amigos de Eça de Queiroz, que
depois evoluirá para a atual Sociedade Eça de Queirós, a que presidiu enquanto
viveu, bem assim como à Associação de Imprensa de Pernambuco. Fascinado pelo
texto “O Povo”, publicado por Eça aos 22 anos no Distrito de Évora, tomava este
como expoente doutrinário da sua ação pública em defesa do bem-estar dos seus
concidadãos nos diversos cargos públicos que foi assumindo. Em 1959 publica “Eça
de Queiroz, agitador no Brasil”, recentemente reeditado em português e inglês
por aquela editora. Repositório de uma intensa recolha da repercussão dos
escritos queirosianos na sociedade brasileira de Goiana, tornou-se «obra da
maior importância para a fortuna crítica do mestre poveiro», como sobre ela
agora escreveu Dagoberto Carvalho J.or, ex- secretário e ex-
presidente daquela Sociedade sediada no Recife e de que fazem parte como sócios
de honra A. Campos Matos, Carlos Reis, Isabel Pires de Lima, J. Rentes de
Carvalho e o signatário desta mal alinhavada prosa comemorativa, na honrosa
companhia de tantos outros portugueses do Brasil, ou no Brasil, e de
brasileiros de Portugal, ou em Portugal. Como vocemecês quiserem, que aqui não
importa muito a filosofia da prosa.
Ainda no programa deste centenário, a referida
editora publicou também, em formato digital, a tetralogia de Cavalcanti “O caso
eu conto como o caso foi”, subtítulo Memórias Políticas, e os títulos: “Fatos
do meu tempo”; “Nos tempos do Prestes”; “Da coluna Prestes à queda de Arraes”; “A
luta clandestina”. Tudo isto são grandes coisas do país irmão, onde um dos seus
mais prestigiados intelectuais do século XX atribui a Eça a lição de muita da
sua cultura humanística.
Mas há também os pequenos gestos que nos
aconchegam o quotidiano. Com a publicação veio o postal comemorativo dos 50
anos da Sociedade Eça de Queiroz, do Recife, concebido por Moema Cavalcanti, a
filha do homenageado, com aquelas sempre amigas palavras de Dagoberto.
Colecionamos emoções. E Eça é um mar Atlântico delas, nestes cem anos do
queirosiano Cavalcanti que um dia escreveu “Não há neutralidade em face da
vida”.
J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor
Cursus honorum
Confrade do
Vinho do Porto
Eduardo Vitor Rodrigues; Foto CMG |
No passado dia 20 de junho Eduardo Vitor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, foi insigniado no grau de infanção na Confraria do Vinho do Porto. O capítulo teve lugar no Pátio das Nações do Palácio da Bolsa. Na ocasião foram também distinguidos, entre outros, Assunção Cristas, ministra da Agricultura e do Mar, e Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto. O agraciado é também confrade honorário da Confraria Queirosiana.
Doutora Susana Moncóvio. Foto Miguel Pena |
Prémio da APE
Mário Cláudio. Foto Fernando Liberdade |
O escritor Mário Cláudio voltou a vencer
o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores,
atribuído ao seu livro “Retrato de Rapaz” que fantasia as relações de Leonardo Da
Vinci com um jovem aprendiz, fazendo parte de uma trilogia sobre amores entre
pessoas de idades e condições diferentes. A decisão foi divulgada no passado
dia 17 de julho, trinta anos depois do escritor ter recebido o mesmo prémio
pelo romance “Amadeo” em que a personalidade principal é o pintor futurista
português morto pela pneumónica em 1918, pouco tempo depois de andar a fazer de
picador numa tourada na Granja.
Natural do Porto, onde nasceu em 1941,
em setembro próximo publicará uma autobiografia intitulada “Astronomia” sobre
as três fases da sua vida. Mário Cláudio é confrade de honra da Confraria
Queirosiana.
Cursos, Conferências
& Palestras
A 4 de julho, integrado no programa Open
House Porto, J. A. Gonçalves Guimarães proferiu uma palestra no Mosteiro de
Corpus Christi sobre a história deste monumento do Centro Histórico de Gaia.
Integrada no 22º Festival Internacional de
Música de Gaia, decorreu no passado dia 18 de julho no Auditório Municipal uma conferência-concerto
sobre “A Ópera na obra de Eça de Queirós” proferida pelo confrade queirosiano
Professor Doutor Mário Vieira de Carvalho, acompanhada da execução de trechos
de óperas de Augusto Machado, Gounod e Offenbach pelo Estúdio de Ópera do
Conservatório Superior de Música de Gaia, sob a direção musical da Professora
Fernanda Correia. No final uma sala cheia aplaudiu de pé o conferencista, os
intérpretes, a direção e o Professor Doutor Mário Mateus diretor do
Conservatório e do Festival, estando presentes os corpos gerentes da Confraria
Queirosiana que assim se associaram ao ato.
Na Fundação Eça de Queiroz,
sediada em Baião, está a decorrer, entre 19 e 25 de julho, o habitual Curso
Internacional de Verão, este ano subordinado ao tema “Eça e o romance
oitocentista: transformações cinematográficas e televisivas”.
A 22 de julho no Espaço Porto Cruz,
ainda em Vila Nova de Gaia, J. A. Gonçalves Guimarães apresentou o n.º 3 da
revista “Douro. Vinho, História e Património. Wine, History and Heritage”,
propriedade da APHVIN/GEHVID, de cujos corpos gerentes faz parte.
No próximo dia 30 de julho, às 21,30
horas, nas habituais palestras das últimas quintas-feiras do mês do Solar
Condes de Resende, a historiadora da Arte Doutora Susana Moncóvio falará sobre “O
escultor Joaquim Gonçalves da Silva (1863 – 1912). Contributos para a sua
biografia”.
Escavações
arqueológicas
Entre os próximos dias 19 e 27 de agosto
decorrerá no Castelo de Crestuma a última intervenção do atual projeto nesta
estação arqueológica iniciado em 2010 e que determinou que o sítio tem ocupação
desde a Idade do Ferro até ao período da Reconquista, mas com particular
evidência entre os séculos IV e VII, no período suévico-visigótico. Os
trabalhos serão dirigidos por J. A. Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva,
coordenadores do Gabinete de História, Arqueologia e Património dos ASCR-CQ, e
a intervenção continuará agora num único espaço onde começaram a aparecer
construções em pedra nos anos transatos. A presente campanha conta com o apoio
técnico do Parque Biológico de Gaia e do Solar Condes de Resende e o apoio
institucional do Município de Vila Nova de Gaia, da União de Freguesias de Sandim,
Olival, Lever e Crestuma e da empresa SUMA.
Livros,
Revistas, Jornais & Blogues
As Artes entre
as Letras, ano VI
No passado dia 8 de julho na
delegação do norte da Ordem dos Médicos decorreu a sessão comemorativa do 6º
aniversário e da 150ª edição do Jornal As Artes entre as Letras, dirigido por
Nassalete Miranda e que mensalmente publica a página Eça & Outras da Confraria
Queirosiana. Durante a sessão foi lançado o livro “Somos Mochos” de Aureliano
da Fonseca, que apresenta uma boa parte da sua coleção de mais de 600
exemplares. O presente número do jornal, com capa de Emerenciano, contém
artigos e depoimentos da sua diretora, Guilherme d’ Oliveira Martins, Francisco
Ribeiro da Silva e outros habituais colaboradores.
Crónicas do
Porto
Mário Dorminsky, diretor do Fantasporto,
lançou no passado dia 12 na FNAC do Gaiashoping um novo livro intitulado
“Portugal à espera. Crónicas do Porto” editado por Seda Publicações. A
apresentação esteve a cargo de Artur Jorge Basto.
Nova edição de O
Egipto. Notas de viagem
Com a chancela da Feitoria dos
Livros, acaba de ser lançada uma nova edição de “O Egipto. Notas de viagem” de
Eça de Queiroz, com prefácio e anotações de A. Campos Matos que «procurou nesta
edição, a 1ª ilustrada… proporcionar um texto mais depurado do que o da 1.ª
edição e edições correntes, eivadas de incorrecções, baseando-se na informação
de dois especialistas que referenciaram tais anomalias: Jean Girodon e Luís
Manuel de Araújo. Entendeu, além disso, que as ilustrações do texto se
afiguravam indispensáveis, sobretudo para evidenciar o carácter arquitectural
de excepção das mesquitas muçulmanas do Cairo, a que Eça foi extremamente
sensível…
Oferece-se
deste modo ao público leitor de Eça a sugestiva edição de uma obra juvenil, de
grande importância como marco essencial da sua evolução literária.» (da
apresentação da presente edição). A 1ª edição foi preparada pelos filhos José
Maria e Alberto na Granja, Vila Nova de Gaia, em 1926.
Nova edição (primeira
bilingue) de A Cidade e as Serras
O Município de Baião, através da Alêtheia
Editores, acaba de publicar uma nova edição, bilingue, de “A Cidade e as
Serras/The City and the Mountains” de Eça de Queirós com tradução de Margareth
Jull Costa, capa de Ricardo Alves e no interior, a separar as duas versões, 16
cromatografias de outros tantos autores. Com prefácio do Dr. José Luís
Carneiro, presidente do município, esta nova edição vem com certeza permitir
uma especial divulgação da obra de um dos maiores escritores portugueses de
sempre junto do público estrangeiro que nos visita, mas também, mais uma vez, que
os portugueses «se deliciem com a leitura de um dos textos literários que ainda
hoje continua a confrontar-nos com o que é essencial nas nossas vidas».
Museus, Coleções
& Exposições
Abriu o MMIPO
No passado dia 15 de julho foi
inaugurado o Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO), localizado na Rua das
Flores, o qual apresenta nos seus espaços documentos, objetos arqueológicos e
obras de arte relacionadas com os mais de 500 anos desta instituição fundada em
1499 por D. Manuel I. Para além de muitos retratos de benfeitores, estatuária
religiosa, ourivesaria e paramentaria, sobressai na coleção exposta o grande
quadro Fons Vitae, atribuído ao
pintor holandês Colijn de Corter e onde estão retratados aquele rei, a rainha e
os príncipes, terminando o roteiro do museu na igreja cuja fachada é de Nasoni.
Ideia com mais de cem anos, o projeto foi agora concretizado sob a orientação
do mesário do Culto e Cultura, Professor Doutor Francisco Ribeiro da Silva,
tendo sido inaugurado pelo primeiro-ministro, tendo também estado presentes o
presidente da direção dos ASCR-CQ, Prof. Doutor José Manuel Tedim, que tinha
anteriormente participado no ciclo de conferências que antecederam esta
inauguração, e outros confrades.
“Cister no
Douro”
Hoje, dia 25 de julho, pelas 17
horas, na biblioteca do Museu dos Transportes e Comunicações na Alfândega do
Porto é apresentado o catálogo da exposição itinerante “Cister no Douro”, organizada
pelo Museu de Lamego e coordenado pelo nosso confrade Prof. Doutor Nuno Resende,
investigador e docente da FLUP, com a colaboração de mais treze investigadores,
que assinam os estudos agora publicados sobre este notável património do Vale
do Douro e seus afluentes.
Confrarias & Associações
Associação de
Coletividades de Vila Nova de Gaia
No passado dia 10 de julho, na
Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, César Oliveira, presidente da Mesa
da Assembleia Geral dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana, tomou posse como presidente da direção da Associação das
Coletividades de Vila Nova de Gaia, tendo como presidente da Mesa da Assembleia
Geral o confrade queirosiano e presidente da câmara Eduardo Vitor Rodrigues e
ainda o associado queirosiano Edmundo Coutinho nos corpos gerentes. A direção
dos ASCR-CQ fez-se representar na ocasião por vários dos seus membros.
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Eça & Outras, IIIª.
Série, n.º 81 – sábado, 25 de julho de 2015; propriedade dos Amigos do Solar
Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB:
001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J.
A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral; colaboração neste número: Dagoberto Carvalho J.or; A. Campos
Matos.
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