sábado, 25 de janeiro de 2025

 

Eça & Outras, sábado, 25 de janeiro de 2025

IIº Centenário do Nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Eça de Queirós no Panteão

 

Por resolução da Assembleia da República de 15 de janeiro de 2021 foram concedidas honras de Panteão Nacional ao bacharel em Direito, cônsul de carreira e escritor Eça de Queirós, nascido a 25 de novembro de 1845 na Póvoa de Varzim e falecido em Neuilly-sur-Seine, França, a 16 de agosto de 1900, sepultado no cemitério do Alto de São João em Lisboa a 17 de setembro desse ano, trasladado para jazigo de família no cemitério de Santa Cruz do Douro, Baião, a 15 de setembro de 1989 e daí trasladado de novo para o Panteão Nacional em a 8 de janeiro de 2025.

Por convite à Confraria Queirosiana, associação protocolada com a Fundação Eça de Queiroz desde 2006, por parte do seu presidente Dr. Afonso Reis Cabral, confrade de honra da primeira, esta associou-se no passado dia 5 de janeiro à homenagem ao escritor n presença dos seus restos mortais presentes em câmara ardente no átrio da Casa da Quinta de Vila Nova no, fazendo a respetiva guarda de honra. Para tal a direção mobilizou um significativo número de confrades seniores e juniores, que se revezaram dois a dois junto do féretro. E quem não pode vir também esteve presente neste ato simbólico: uns pediram para que por eles pusessem a mão no ataúde e pronunciassem o seu nome baixinho; outros mais exotéricos opinaram que indo Eça para o Panteão em Lisboa, sempre teremos por aí Fradique Mendes. José Rentes de Carvalho enviou um e-mail de Amsterdam em que confidenciava: «…no próximo domingo, quando se encontrar de turno junto dos restos mortais do Mestre, a quem muito devo, vai sentir perpassar uma aragem. Serei eu, a anunciar desse modo a minha gratidão e o meu respeito. Com o abraço de sempre. José». Na hora da partida quando a urna saía o portal uma aragem fez-se sentir forte na rama das centenárias árvores fronteiras à capela. José tinha chegado para um até sempre, pois ali continuará perpetuado na Casa que visitou, nos seus pertences vindos de Paris e ali recolhidos, nos cursos e evocações regulares da sua vida e obra e até, certamente, no jazigo de seus filhos e outros familiares que ali permanecem no cemitério da terra.

Esta homenagem nacional pode e deve servir para dar de novo a ler e a reler a sua obra e, se tal for possível, a encolher as desnecessárias mitologias em volta da sua vida e a engrandecer as notáveis verdades que a mesma procurou concentrar e transmitir. Não nos acalenta a ideia corrente de que em volta das grandes figuras se constroem sempre barroquismos de fábulas, que apenas indicam preguiças de estudo. Para além de haver muito mau leitor, que lê, não o que o escritor escreveu, mas sim o que acha que ele deveria ter escrito, sendo mais fácil inventar do que ter disciplinas de aprendizagem. Conforme se confirma nestes dias, quer de viva voz, quer em artigos de jornais e revistas, quer em reportagens radiofónicas ou televisíveis, nas redes sociais, vai por aí um mundo de dislexias queirosianas que atingem o paroxismo, normalmente introduzidas pela frase “se Eça fosse vivo diria que… escreveria isto… escreveria aquilo”. Mas não, estejam descansados: do escritor só temos o que realmente nos deixou escrito e tal é imenso. E, por favor, distingam e interpretem as ficções, as metáforas, as «nouvelles phantaisistes» face às realidades do seu tempo que terminou a 16 de agosto de 1900. As primeiras são obras de Arte literária; as suas profecias, essas são vergonhas nossas. E, se querem atualizar-se com o pensamento de Eça, leiam-lhe o livro Emigração como força civilizadora, pois ele não escreveu só romances, crónicas ou correspondência. Também escreveu textos profissionais e de pensamento social.

No dia 8 de janeiro, a convite do presidente da Assembleia da República, a Confraria Queirosiana também se fez representar na cerimónia do Panteão, onde igualmente encontraram muitos outros confrades em representação de variadíssimas instituições, desde deputados até académicos, passando por alguns descendentes do escritor. Ouvido o elogio fúnebre escrito pelo trineto Afonso Reis Cabral, e as intervenções de José Pedro Aguiar-Branco e de Marcelo Rebelo de Sousa, entrecortadas por excertos das suas obras e de algumas músicas da sua vida, ficou-nos a sensação de que finalmente Portugal pagou uma dívida de gratidão para com um dos seus maiores, não sem o habitual regateio das pequenas feiras das vaidades locais. E dei por mim a constatar que a cúpula de Santa Engrácia estava a chorar grossas pingas da chuva que lá fora caíam sobre o vizinho palácio lisboeta dos Condes de Resende, mole imensa que ali recorda a família da mulher de Eça. E a trazer à memória a obra de A. Campos de Matos, a qual, questionadora até ao fim me brindou com a interrogação sobre uma nova interpretação do verdadeiro motivo central de Os Maias, que de modo algum entendia que fosse o fait divers do ignorado incesto, mas qual o papel da mulher na sociedade oitocentista. E por entre o render da guarda republicana lembrei-me de todos aqueles com quem tenho falado sobre a vida e obra do escritor desde que muito jovem o comecei a ler em busca de uma portugalidade que nos escapa porque tão grande, diversificada e fugidia ela é.

Quanto a eternidades, recordemos algumas das palavras do próprio Eça: «Podes-me tu dizer quem eram os ministros do Império em 1856… para o saber precisas desenterrar e esgravatar com repugnância velhos jornais bolorentos… uma dessas figuras de Estado que dormem nos arquivos e que pertencem só à erudição histórica… na longa fila dos papas… uma vaga tiara com um número; mas duzentos anos passarão, e mil – e o nome, a figura, a vida de certo homem que não governou… estará tão fresca e rebrilhante como hoje na memória dos homens. Porquê? Porque um dia… ele escreveu… (Eça de Queirós, prefácio a Azulejos pelo Conde de Arnoso). Creio bem que o mesmo se passará com este escritor que agora Portugal homenageia.

J. A. Gonçalves Guimarães

historiador

 

Homenagem nacional a Eça de Queirós

Nos passados dias 4 e 5 de janeiro na homenagem nacional que começou na Fundação Eça de Queiroz em Santa Cruz do Douro, Baião, estiveram presentes nas cerimónias e na guarda de honra aos restos mortais do escritor os seguintes confrades da Confraria Queirosiana (alguns também em representação de outras instituições): Afonso Reis Cabral presidente da administração da FEQ e confrade honorário; Amélia Maria Gomes Sousa Cabral confrade honorária; António Pinto Bernardo da direção da ASCR-CQ; Carla Alexandra de Jesus Almeida; Carlos Alberto Dias de Sousa da MAG da ASCR-CQ; Dalila Rodrigues ministra da Cultura e confrade honorária; Engrácia da Costa Tavares; Eva Cristina Ventura Baptista; Fernando Rui Morais Soares da direção da ASCR-CQ; Inês Cunha Jorge; João Emílio S. Carvalho de Almeida da MAG da ASCR-CQ; João Fernandez Cardoso de Albuquerque; João Martins Cardoso de Albuquerque; Joaquim António Gonçalves Guimarães da direção da ASCR-CQ; José Luís Carneiro, deputado e confrade honorário; José Manuel Alves Tedim da MAG da ASCR-CQ; Luísa Martins Cardoso de Albuquerque; Manuel Guimarães da Fonseca Nogueira da direção da ASCR-CQ; Manuel Maria Moreira da direção da ASCR-CQ; Maria de Fátima Teixeira secretária da direção da ASCR-CQ; Mário Cláudio confrade honorário e escritor; Paula Carvalhal presidente do conselho de curadores do conselho de administração da FEQ em representação da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e confrade honorária.

No Panteão Nacional no dia 8 de janeiro estiveram pelo menos os seguintes confrades, também muitos dos quais em representação de outras instituições: Afonso Reis Cabral descendente do escritor que leu o elogio fúnebre, presidente da administração da FEQ e confrade honorário; Carlos Reis professor da Universidade de Coimbra e coordenador da Edição Crítica das obras do escritor, que leu diversos trechos das suas obras, e confrade honorário; Dalila Rodrigues ministra da Cultura e confrade honorária; Guilherme de Oliveira Martins, presidente da administração da Fundação Calouste Gulbenkian e confrade honorário; Isabel Pires de Lima professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto que leu diversos trechos das suas obras, e confrade honorária; Joaquim António Gonçalves Guimarães da direção da ASCR-CQ e confrade honorário; José Luís Carneiro, deputado e confrade honorário; José Manuel Alves Tedim da MAG da ASCR-CQ; Maria da Graça Eça de Queiroz Cabral Nicolau de Almeida descendente do escritor; Mário Vieira de Carvalho professor jubilado da Universidade Nova de Lisboa, ex-secretário de estado da Cultura e confrade honorário, e Paula Carvalhal presidente do conselho de curadores do conselho de administração da FEQ em representação da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia e confrade honorária.

No âmbito da concessão de Honras de Panteão Nacional Evocação a José Maria Eça de Queiroz, o Grupo de Trabalho da Assembleia da República convidou diversas entidades a desenvolverem iniciativas que analisem, comentem e divulguem a vida e obra do escritor. A associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, EUP (ASCR-CQ), no âmbito deste convite, vai promover as seguintes: janeiro, 30, quinta-feira, 18,30-19,30 horas - «Eça de Queirós no Egito e Terra Santa», conferência no Solar Condes de Resende e por videoconferência de acesso livre pelo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, egiptólogo, professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vice-presidente da direção da ASCR-CQ; diretor da Revista de Portugal; fevereiro, 27, quinta-feira, 18,30-19,30 horas - «Entre a Arcada e São Bento. Eça de Queirós vê Lisboa», videoconferência de acesso livre pela Mestre Irene Fialho do CLP da Universidade de Coimbra, investigadora do IELT (Instituto de Estudos de Literatura e Tradição) da Universidade Nova de Lisboa; membro do conselho cultural da Fundação Eça de Queiroz e da ASCR-CQ; março, 27, quinta-feira, 18,30-19,30 horas - «Eça de Queirós na Roménia», videoconferência de acesso livre pela Prof.ª Doutora Cristina Petrescu da Universidade Babeș-Bolyai de Cluj-Napoca, Roménia, confrade honorária da Confraria Queirosina; abril, 24, quinta-feira, 18,30-19,30 horas – «Os roteiros queirosianos e o Turismo Cultural», conferência no Solar Condes de Resende e por videoconferência de acesso livre pelo Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães, presidente da direção da ASCR-CQ; em maio em datas a indicar será feito o Roteiro queirosiano de Gaia e Porto, com visita guiada organizada pela ASCR-CQ.

 

Cursos e palestras no Solar



No próximo ano letivo a começar em outubro, a Academia Eça de Queirós, grupo de trabalho para o ensino da associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, em colaboração com o Solar Condes de Resende (Câmara Municipal de Vila Novade Gaia) vai realizar mais um curso livre desta vez evocativo do IIº Centenário do Nascimento de Camilo Castelo Branco, com as seguintes aulas temáticas previstas, ministradas por especialistas que já produziram obras de investigação sobre o tema: 1 – Teoria da Literatura: o que é? Para que serve?; 2 – Camilo Castelo Branco e Vila Nova de Gaia, por J. A. Gonçalves Guimarães; 3 – Retratos de Gaia pela objetiva literária; 4 – Domingos Carvalho da Silva, um poeta brasileiro, por António Conde; 5 – Os escritores “esquecidos”: Teixeira de Vasconcelos um escritor “camiliano”, por Maria de Fátima Teixeira; 6 – Camilo e Eça de Queirós, por Irene Fialho; 7 – Um personagem camiliano: o Abade Santana de Mafamude, por João Fernandes; 8 – Itinerários Camilianos; 9 – A Casa Museu em São Miguel de Seide; 10 – J. Rentes de Carvalho e a ficção atual; 11 – Camilo e a Arte; 12 – Camilo e o Teatro; 13 - Camilo e o Cinema. Em breve será divulgado o programa definitivo e a totalidade dos professores contatados.

Entretanto continuam as aulas do presente curso sobre “Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril, prosseguindo como programado: a 6.ª sessão decorrerá a 01 de fevereiro pelo Prof Doutor Nuno Resende sobre «A Fotografia e o 25 de Abril», e a 7.ª sessão no dia 15 de fevereiro pelo Professor Doutor David Rodrigues sobre «Educação: 25 é metade de 50 ou 50 é o dobro de 25?». As próximas palestras das últimas quintas-feiras do mês serão preenchidas pelo programa dedicado à evocação da vida e obra de Eça de Queirós acima referidas.

 

A ASCR-CQ esteve presente...

Para além dos acontecimentos referentes à homenagem nacional a Eça de Queirós acima descritos, a ASR-CQ esteve no dia 7 de janeiro no Museu dos Coches em Lisboa numa reunião da FAMP, representada pelo seu presidente J. A. Gonçalves Guimarães. No dia 18 de janeiro no capítulo da Confraria da Fogaça realizado no Castelo de Santa Maria da Feira a oração de sapiência foi proferida pelo Prof. Doutor José Manuel Tedim, presidente da mesa da assembleia geral da ASCR-CQ. Na sequência das reuniões que a associação tem vindo a realizar com os representantes dos partidos e coligações com assento na assembleia municipal de Vila Nova de Gaia, reuniu no passado dia 21 com André Araújo e outro representantes da CDU – Vila Nova de Gaia, inteirando-os do trabalho realizado em 2024 e do programa proposto para 2025.

 

Distinções e nomeações

A Prof.ª Doutora Annabela Rita, professora e diretora de licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro daASCR-CQ foi recentemente galardoada com o Prémio Personalidade do Ano 2024 outorgado pela editora e rede internacional de livrarias “Mágico de Oz”, tendo na cerimónia recebido a comenda Luís de Camões instituída pelo Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal, pela Literarte e por aquela editora em homenagem ao poeta no seu V Centenário.

A professora emérita da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ex-ministra da Cultura e confrade honorária, Professora Doutora Isabel Pires de Lima, foi recentemente eleita, por voto secreto e maioria absoluta entre os membros do conselho de administração, presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves, tendo anteriormente desempenhado as funções de vice-presidente e integrado a comissão executiva, tendo portanto uma longa ligação à instituição.

 

 

Livros


Do blogue Eça de Queirós © 2024 do Professor Doutor Carlos Reis, 21 de Dezembro de 2024, partilhamos as seguintes edições queirosianas: «A Ilustre Casa de Ramires, edição Penguin. Foi recentemente publicado no Brasil, pela Penguin - Companhia das Letras, o romance A Ilustre Casa de Ramires, com texto estabelecido por Daiane Cristina Pereira e Giuliano Lelis Ito Santos, e introdução por Hélder Garmes. A presente edição adota o texto estabelecido por Elena Losada Soler, para a série Edição Crítica das Obras de Eça de Queirós, publicado pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, em 1999.».


Idem, 29 de Dezembro de 2024, «Carlos Quiroga, A costela galega de Eça de Queirós. Ourense: Dr. Alveiros, 2021, p. 10: O fio condutor deste trabalho é a pesquisa e exposição da ascendência apontada no título. A demonstração do vínculo fundamenta-se nos documentos genealógicos relativos ao próprio escritor, ao remontar a linha ascendente da sua consanguinidade e provar a referência indicada. Foi esse o moroso processo de busca e interpretação dos dados que seguimos, método por outra parte habitual. Também na nossa apresentação vamos observar essa cadeia genealógica que acompanha a linha genealógica em sentido inverso»

Do linguista Fernando Venâncio, autor do best seller Assim Nasceu Uma Língua, agora uma ficção em que o protagonista é Carlos Fradique Mendes, “amigo” de Eça de Queirós, desta feita avô do atual milionário Cristiano Fradique que encomenda ao jovem jornalista Martinho da Telha… Um livro com «uma escrita leve, viva e carregada de humor» editado pela Guerra e Paz Editores a partir de 28 de janeiro próximo.

A Academia Alagoana de Letras vem promovendo um programa de leitura para reclusos que se tornou referência nacional, incentivando a divulgação de textos de escritores alagoanos entre os reclusos e assim promovendo com sucesso a reinserção social dos detidos, pois os resultados demonstram uma evidente queda na reincidência prisional dos destinatários. Uma ação prática da utilização dos benefícios da cultura ao serviço das populações.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 197, sábado, 25 janeiro de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: blogue Carlos Reis; Academia Alagoana de Letras.

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