Eleições à porta e ao ferrolho
Nada mais normal do que, em democracia,
haver eleições livres de temos a tempos, nas quais o cidadão expressa a sua
vontade, preocupações e ansiedades através do voto: para o seu representante no
condomínio, para os dirigentes das suas associações e coletividades, para os
órgãos autárquicos (câmaras municipais e juntas de freguesia, talvez em breve,
também para as áreas metropolitanas e regiões); para os deputados à Assembleia
da República, de onde sairá o governo da nação; para os deputados ao Parlamento
Europeu, de onde continuará a sair uma ideia civilizacional da Europa face ao
mundo; alguns outros para serem eleitores e eleitos em órgãos internacionais.
Creio bem que já não interessa à gente informada o voltarmos a repisar a
história da democracia e do direito ao voto e de quantos se bateram e morreram
por ele e a sua respeitabilidade; só não conhecerá essa luta civilizacional
quem não quer e, nesse caso, não valerá a pena perder tempo com ignaros. Se são
assim para um gesto tão fundamental, sê-lo-ão igualmente para outras coisas.
Cínicos, dirão certamente que têm o direito a serem apáticos sociais: mas
também nós, os cidadãos participantes, temos o direito de os desconsiderar e
remetê-los para o caixote do lixo das humanas causas. Sempre com a esperança de
que assistentes sociais, psicólogos e outros agentes de educação pública os
consigam regenerar e integrar na sociedade que, por ignorância, preguiça ou
desleixo endócrino, desdenham.
Como vamos de novo entrar num dos
habituais ciclos eleitorais e como costumo ser convidado para apoiar este ou
aquele candidato ou partido, permitam-me partilhar algumas premissas que a mim
próprio coloco para essa participação. E podem crer que, mesmo quando elas se
não verificam, nunca deixei de participar ativamente. Não sou dono sequer da
minha própria democracia, posso estar errado nos pressupostos enunciados e a
vontade coletiva é a que vigora, mesmo quando não concordo com ela. E não vejo
que possa ser de outro modo. Mas o melhor é começar por definir princípios em
abstrato, se bem que eles venham depois a ser defendidos, ou não, por pessoas
concretas. E por isso há que confirmar, a priori, se as pessoas em quem
penso votar serão capazes de defender os princípios em que acredito. Faço o
possível por saber quem são os candidatos naquilo que deles deve ser público:
que profissão exercem e se nela são eficazes; o que, entretanto, fizeram até
aos dias de hoje; se conhecem e respeitam a comunidade que os elege; e, só
então, quais os princípios que dizem defender. Não voto em quem não têm
profissão, ou que não se sabe qual ela é (político e outras ocupações hoje
muito na moda não as considero profissão…); não voto em fracassados,
inadaptados ou pessoas “com muito jeitinho para”; não voto em propagandistas de
religiões, seitas ou outras agremiações “que querem salvar a humanidade” ou
estão ao seu serviço; não voto em “iluminados” mas em pessoas comuns; não voto
em catastrofistas ou profetas de dilúvios a haver; não voto em subservientes ou
pessoas com espinal medula mental derreada pela ganhuça ou pelas conveniências.
Só depois desta joeira é que vou ver em que partidos possam estar filiados ou
pelos quais são candidatos aqueles em quem poderei votar. E se o candidato
defende uma coisa e o partido outra, então também não voto nele para não
comprar contradições. E, obviamente, não voto em bandeirinhas.
Aqui há uns anos pediram-me para apoiar
um candidato e assinar o respetivo manifesto. Quando o li verifiquei que nunca
subscreveria uma coisa daquelas e expliquei-lhes a minha negativa por escrito:
para um cargo com uma boa necessidade de universalidade não subscrevo
candidaturas com princípios paroquiais, bairristas ou de regionalismos
exacerbados, nem que se servem do apoio, ainda que simbólico, de instituições
que não cumprem com as suas obrigações sociais, como alguns clubes de futebol;
não subscrevo candidaturas que tratem a Cultura como um fait divers ou uma ocupação para desocupados, ou um anel para por
no dedo das conveniências; ou para dar ocupação a velhinhas que se acham muito
importantes mas que não se sabe bem porquê; não voto em candidatos que defendem
mitologias ou obscurantismos, ou políticas do faz de conta para cumprir metas;
não voto naqueles que, tendo já passado pela política ativa, deles não dei
conta, ou então dei, mas por questões a não repetir. E não voto em males
menores, mas sim em bens promissores. Já me tenho enganado? Já. A seguir
procuro corrigir. Mas mesmo com escolhas desmotivantes, nunca deixei, nem
deixarei, de cumprir o voto.
O votar numa eleição não é como apostar
num cavalo de corrida, a ver se ele ganha. É certo que entre nós se cultiva
muito a figura do chefe, do presidente, do líder. Mas também é verdade que todo
o navio que quer vencer procelas tem de ter um comandante experiente e
eficiente. Mas se este não tiver uma boa equipa de imediatos a embarcação ou
vai aos zig-zagues, ou erra o destino, ou encalha, ou vai ao fundo. Quando
chega a bom porto é certamente mérito do comandante, mas também da tripulação,
e não dos passageiros ou dos armadores. Procuro, pois, votar, não numa só
pessoa, mas em equipas com comandantes e adjuntos credíveis, considerando-os a
todos, e não apenas o primeiro.
E também não sou fundamentalista de
coisa nenhuma. Tenho para mim que «… um homem realmente não pode ter a rigidez
impassível de um princípio. Os princípios são insensíveis e intangíveis – e os
homens são um feixe de nervos sujeitos a todas as influências, mesmo as da
chuva e do vento. É absurdo pretender que um poeta seja tão poético como os
seus poemas, um padre tão transcendente como o seu dogma – e que um estadista,
elevado ao poder para representar uma ideia, se torne tão impessoal como ela, e
como ela prossiga impassivelmente na sua evolução, mesmo quando a Terra trema e
os céus em torno caiam. (Eça de Queirós, Cartas
de Paris, Cartas Familiares).
Como profissional da Cultura - e a minha vida tem sido a minha profissão -, vou catar nos programas dos candidatos os seguintes simples aspetos: qual o conceito ou conceitos que dela têm? Quais as instituições que acham que a representam e a rejuvenescem? Quem acham que são os seus agentes e que papel ativo lhes reservam se forem eleitos? Outros votarão por outras razões, princípios, slogans, ou sabe-se lá que mais. Eu voto naqueles que me satisfazem naquelas perguntas. São esses os que eu apoio. Mas, se não encontrar os candidatos ideais entre todos os partidos que concorrem, há de haver uns que se aproximam mais das minhas convicções do que outros. E não estamos em época de esperar termos o céu na terra.
J.
A. Gonçalves Guimarães
secretário da direção
Palestras, Conferências e Colóquios
Curso sobre História Local e Regional
Prossegue aos
sábados à tarde no Solar Condes de Resende o curso livre evocativo dos 40 anos
das 1.as Jornadas de História Local e Regional organizadas em 1983
pelo Gabinete de História e Arqueologia com o patrocínio da Câmara Municipal de
Vila Nova de Gaia. Assim, no passado dia 6 de janeiro, o arqueólogo e
historiador Dr. Manuel Luís Real falou sobre «A Alta
Idade Média entre nós: perspetivas acerca da evolução do território
pré-nacional, a norte do Tejo»; no dia 20 de janeiro o Prof. Doutor Luís Amaral
falou sobre «Estruturas de organização social, de ordenamento territorial e de
exercício de poder: os municípios em Portugal, entre os séculos XI e XIV». O
curso prosseguirá no próximo dia 3 de fevereiro com o Prof. Doutor Amândio
Barros a falar sobre: «O Rio Douro e a Expansão». O curso em preparação para o
ano 2024/2025 deverá abordar de forma multidisciplinat os 50 anos do 25 de
Abril de 1974.
Conferências El
Corte Inglés
Estão a decorrer em Vila Nova de Gaia e
em Lisboa, nas salas de Âmbito Cultural desta empresa, várias conferências e
cursos de curta duração ministrados por vários oradores. Entre os dias 8 e 12
de janeiro passados, o egiptólogo e orientalista Luís Manuel de Araújo, falou
em Lisboa sobre «Onde tudo começou: as civilizações da Mesopotâmia», curso
breve que repetiu em Gaia entre os dias 15 e 19 do mesmo mês. Também em Gaia, a
22 de janeiro e a 5 de fevereiro, o historiador da Arte José Manuel Tedim
dissertou sobre «Arte Portuguesa no tempo de Luís Vaz de Camões». No dia 19 de
março o historiador, arqueólogo e divulgador cultural Joel Cleto falará em
Lisboa sobre «O Porto em Lisboa, Lisboa no Porto».
Palestra da última quinta-feira
Hoje, 25 de janeiro, na habitual palestra da última quinta-feira do mês organizada pela associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, presencial no Solar Condes de Resende e via Zoom, a historiadora da Arte Dr.ª Vera Gonçalves falará sobre «[…] Para gozo do público e consulta dos estudiosos: Diogo de Macedo sobre as casas-museu. O caso da Coleção de Arte de Fernando de Castro», abordando a ação desde escultor, museólogo e teórico da Arte na sua conceção sobre a importância daquelas instituições culturais.
Reuniões e Celebrações
Velhotes de Valadares
No
passado dia 15 de janeiro a direção da associação Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana fez-se representar na tomada de posse por
vários membros dos seus corpos sociais na tomada e posse dos novos eleitos da
Confraria dos Velhotes de Valadares, Vila Nova de Gaia. Para além dos habituais
discursos próprios do momento, atuou um grupo de cantores de Janeiras do rancho
folclórico local e um saxofonista. Seguiu-se a degustação daqueles doces
tradicionais e o convívio entre os presentes.
Autores, Livros e Revistas
A obra de Eça de Queirós continua a proporcionar
novas edições com novos formatos, apresentações e arranjos temáticos, como é o
caso desta recente Eça de Queiroz Correspondência. Cartas aos Vencidos da Vida. Colectânea
Inédita, a coletânea, não as cartas, pois como está escrito no
«Preambulo do editor» Francisco Abreu, já todas elas se encontram na «excelente
edição de A. Campos Matos», editada em 2008. Um pequeno apontamento sobre «Os
Vencidos da Vida», seguido de breves «Biografias» dos ditos. a cronologia «Eça
onde estava e o que fazia» e alguma iconografia, antecedem as cartas dirigidas
a Carlos de Lima Mayer, Carlos Lobo d´Ávila, Conde de Aroso, Conde de Ficalho,
Conde de Sabugosa, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, José Duarte Ramalho
Ortigão e Marquês de Soveral. Até à data não se conhecem cartas dirigidas por
Eça a Guerra Junqueiro e a António Cândido. Edição de Manufactura, chancela da
Europress, Lisboa, 2023.
As comemorações dos cinquenta anos do 25 de Abril de 1974, um dos mais importantes acontecimentos da História de Portugal do século XX, são certamente um bom pretexto uma necessidade para a revisitação dos acontecimentos, dos seus protagonistas e das suas ações, sobretudo por parte daqueles que os viveram ou neles tomaram parte ativa. É o que aborda este novo livro do Eng.º Ricardo Charters d’ Azevedo onde recorda e interpreta os acontecimentos entre duas datas balizadoras na região de Leiria, mas ode chegavam as interrogações e as vontades que a mudança proporcionou naqueles dias.
Distinção
A APPM
(Associação Portuguesa de Profissionais de Marketing) atribuiu recentemente ao
Prof. Doutor Carlos Brito o certificado de “Senador de Marketing”,
distinção que assim se junta ao já grande palmarés detido por este professor especialista
nesta área do Economia.
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Eça
& Outras, III.ª série, n.º 185, quinta-feira, 25 de janeirro de 2024;
propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende -
Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de
Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia;
C.te n.º 506285685; NIB:
0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com;
www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com;
eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e
publicação no jornal As Artes Entre As
Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira;
inserção: Amélia Cabral; colaboração: João Fernandes.
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