sexta-feira, 25 de dezembro de 2015




Selos, cartas e postais

         Entre os dias 1 a 13 de dezembro decorreu no Solar Condes de Resende a FilexGaya 2015, mostra filatélica organizada pelo Clube de Colecionadores de Gaia, comemorativa dos 170 anos do nascimento de Eça de Queirós. Entre muitos outros aspetos e, entre eles talvez o mais duradouro, o Solar teve pela primeira vez um postal com a imagem do seu pátio de entrada também impressa num selo e obliterada com um carimbo próprio com o seu logótipo, ou seja um inteiro postal.
São conhecidas as representações queirosianas na Filatelia e na Macrofilia portuguesa e brasileira, através de selos, carimbos e inteiros postais, e da Cartofilia com a edição de vários postais que, de tempos a tempos, se vão acrescentando com novos espécimes que fazem as delícias dos colecionadores. Recordemos aqui os selos emitidos pelos Correios de Portugal e pelos do Brasil em 1995, e de novo pelos de Portugal no ano 2000.
Mas menos conhecida ainda será a atividade epistolográfica do escritor que se traduz já em cerca de mil cartas e algumas dezenas de postais publicados por A. Campos Matos, o que demonstra que Eça de Queirós foi um comunicador postal compulsivo ao longo da vida, tendo ainda em conta que nem sequer conhecemos toda a sua correspondência, pois uma boa parte dela terá ido para o fundo do mar, naufragada com o navio que trazia para Portugal uma parte dos seus pertences após o seu falecimento em Paris. Quantas cartas e postais se terão assim perdido irremediavelmente nessa desgraça. Por outro lado, de quando em vez, ainda aparecem cartas inéditas no espólio dos destinatários, já para não falarmos da sua correspondência oficial que deverá existir no arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
            No Solar Condes de Resende, no arquivo que foi da família de sua mulher, também existem várias cartas, desde o século XVII até ao início do século XX, algumas das quais já publicadas, mas ainda não tratadas do ponto de vista Pré-filatélico ou Filatélico. Estão também nesse caso alguns outros núcleos documentais em fase de tratamento arquivístico, o espólio J. Rentes de Carvalho e o próprio arquivo do Gabinete de História, Arqueologia e Património.
            Por sua vez a autarquia gaiense possui notáveis coleções epistolares, como é o caso da correspondência entre Camilo Castelo Branco e o seu editor Eduardo da Costa Santos, pertencente à Coleção Marciano Azuaga e em depósito na Biblioteca Pública Municipal, já publicada e estudada por Alexandre Cabral. Também os arquivos pessoais de Teixeira Lopes, com cartas da mulher de Eça de Queirós e de Luís de Magalhães, algumas das quais o escultor publicou nas suas memórias, bem assim como o espólio epistolar de Diogo de Macedo, ambos existentes na Casa Museu Teixeira Lopes. Também muitas outras cartas em arquivos de empresas, instituições e de particulares, como o Arquivo Histórico A. A. Ferreira, cujo núcleo Hunt, Roope & Companhia deu origem ao artigo de Colin Lewis «Newfoundland–Oporto mail 1810-1865», na prestigiada BNATopics, vol. 61, n.º 4, outubro - dezembro de 2004, p. 5-33. Ou o Arquivo Histórico Adriano Ramos Pinto, com correspondência inédita com variadíssimas personalidades, sobretudo portuguesas e brasileiras, e uma fabulosa coleção de cartofilia, para além de tudo o mais que já tivemos oportunidade de publicar, com Graça Nicolau de Almeida, no livro Adriano Ramos Pinto Vinhos e Arte, 2013.
            As coleções epistolares são fundamentais para o entendimento da história universal, nacional e local e o seu estudo poderá um dia aclarar, por exemplo, as verdadeiras relações de Júlio Dinis com Grijó, as de Camilo com o Candal ou as de Adriano de Paiva, o inventor do princípio da televisão, com os físicos do seu tempo. Mas do ponto de vista Pré-filatélico ou Filatélico, elas poderão dar um enorme contributo para o estudo dos Correios em Portugal e das relações da Barra do Douro, e das duas cidades que a ladeiam, com o mundo, através do correio marítimo.
            Ao acolher esta iniciativa do Clube de Colecionadores de Gaia, apoiada pela autarquia e pela Confraria Queirosiana, o Solar teve em mente contribuir para uma maior divulgação da Filatelia e também da rentabilização cultural do seu espólio, enquanto vai acolhendo e divulgando o espólio alheio, partilhando assim a resplandecente luz do conhecimento de uma das mais nobres ocupações humanas que hoje está em rápida transformação: a comunicação postal que vence distâncias e abre portas de entendimento onde antes só havia os muros da distância, do desconhecimento ou da indiferença, substituídos por um possível entendimento através de um selo e um carimbo postal que assim autenticam essa relação, balizando-a no tempo e na história.

J. A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor
                                 

Natal de Oeiras
Dagoberto Carvalho Jr.
Chamavam-se “berços”
– de alecrim, andré-miúdo
e ingênua criatividade –
os presépios da minha infância,
cuja visitação era o Natal de Oeiras.
Antes das “árvores” que vieram de fora
e tomaram as salas,
colorindo-as de alegria alheia.
Lembro-me do que foi de Burane,
na Praça da Bandeira;
o de Dona Lourdes, na Rua do Norte;
o do Colégio das Irmãs,
em seu sobrado-convento,
antigo palácio dos presidentes da província.
O da casa de minha avó,
no Beco do Quartel,
tinha cama de madeira
porque o menino já era grande
e dormia de vestido de gesso.
Uma vez faltou luz elétrica.
 Demora-me a noite na memória,
como a lanterna vermelha que me levou
aos santos endereços da saudade.
Que nunca mais deixou de iluminar os meus Natais.
Natal de 2010


Sócios & Confrades

J. Rentes de Carvalho e esposa em Estevais do Mogadouro com delegação da Confraria Queirosiana
Rentes de Carvalho

         Foi recentemente publicado em De Gruyter – Ibero 2015:151-169 um artigo de Carlos Nogueira, da Universidade de Vigo, intitulado «Autobiografia, memória e tempo nos romances de J. Rentes de Carvalho», o qual pode ser visto em ielt.fcsh.unl.pt/notícias,1915, uma notável análise e síntese sobre a obra deste nosso confrade. Entretanto, para voltarem mais uma vez a confirmar que o escritor gaiense, durio-transmontano, holandês, europeu e felizmente ainda terráqueo existe mesmo, em carne, osso, mente e sagesse de vivre, no passado dia 20 de dezembro uma delegação da Confraria Queirosiana, composta por Maria de Fátima Teixeira, Susana Moncóvio e o autor destas linhas e da foto, deslocou-se a Moncorvo e a Estevais do Mogadouro para o cumprimentarem na companhia de sua esposa Loeckie, e ao mesmo tempo procurarem saber dos novos projetos literários, antes da sua próxima “fuga” para Amsterdam, por estrada, como sempre fazem. Na primavera sai novo livro em que Eça estará por detrás da sina migratória dos portugueses.

João Nicolau de Almeida

         No passado dia 16 de dezembro decorreu na Casa Ramos Pinto o habitual almoço de Natal, no qual estiveram presentes administradores e funcionários superiores da empresa, outras personalidades ligadas ao Douro e ao mundo dos vinhos, e o mesário-mor da Confraria Queirosiana, arqueólogo de Ervamoira. Na ocasião festejaram-se os quarenta anos de João Nicolau de Almeida como enólogo da marca e os vinte e cinco anos de sucessos do seu vinho “Duas Quintas”, tendo então sido anunciada pelo próprio a sua próxima passagem de testemunho na administração a Jorge Rosas. Novos desafios o esperam na empresa João Nicolau de Almeida & Filhos, e por isso aqui deixamos a este nosso consócio, glória da vitivinicultura nacional, os nossos votos de continuação de grandes sucessos, nomeadamente com o “Quinta do Monte Xisto 2013”.

Vida Queirosiana

Eça de Queirós em Coimbra

          Com a colaboração do jornal Público, terminaram no passado dia 4 de dezembro na Biblioteca Joanina as comemorações dos 725 anos da Universidade de Coimbra, que Eça de Queirós frequentou, e que tiveram como um dos seus momentos altos uma conversa entre os heterónimos Carlos Fradique Mendes e Bernardo Soares protagonizada pelos académicos Carlos Reis e Jerónimo Pizarro, no dia em que a brasileira Adriana Calcanhotto passou a ser embaixadora desta universidade. Entretanto o projeto Minha Língua, Minha Pátria, que o Público promoveu no Brasil, será também lançado em Portugal no próximo ano.

Prémio Fundação Eça de Queiroz

         Estão abertas as inscrições até ao dia 1 de Março próximo para os concorrentes a este prémio instituído pela Câmara de Baião e pela Fundação Eça de Queiroz, edição 2015/2016. Segundo o regulamento, podem habilitar-se os autores de textos sobre o universo literário de Eça de Queirós e/ou da Geração de 70, nas áreas dos estudos literários, estudos históricos, estudos culturais, estudos ecoliterários e outros. Consultar www.feq.pt/premio-feq-edicão-2015-2016.html

Projetos de investigação

Património Cultural de Gaia

Na sequência do protocolo firmado entre o Município de Vila Nova de Gaia, através da pessoa do seu presidente Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, e a Confraria Queirosiana, representada pelo seu presidente Prof. José Manuel Tedim, celebrado no passado dia 21 de novembro, o qual tem como objetivo o levantamento, análise e divulgação do Património Cultural de Gaia através da edição de 10 livros e outras ações complementares, decorreu no passado dia 11 de dezembro uma reunião geral na Casa da Presidência, à qual estiveram presentes muitos dos coordenadores e investigadores deste projeto. Sobre a importância do mesmo no contexto do programa cultural do município falou o presidente da câmara tendo definido as suas caraterísticas profissionais o coordenador geral J. A. Gonçalves Guimarães. No próximo dia 30 de dezembro decorrerá no Solar Condes de Resende a primeira reunião geral de coordenadores das áreas temáticas e, no dia 4 de janeiro, inicia os seus trabalhos a equipa de investigadores permanentes.

Equipa das ânforas

         No Solar Condes de Resende têm vindo a desenvolver-se uma série de estudos destinados a dissertações de mestrado e teses de doutoramento por um grupo de investigadores de arqueologia luso-espanhol orientados por Rui Morais, professor da FLUP e António Manuel Silva, do Gabinete de História; Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o contributo de Pedro Pereira do CITCEM (FLUP), os quais estão a analisar os milhares de fragmentos de ânforas encontrados em escavações arqueológicas em Vila Nova de Gaia desde os finais dos anos setenta do século passado, nomeadamente das estações do Castelo de Gaia, Monte Murado, Igreja do Bom Jesus de Gaia, Castelo de Crestuma e outras, tendo vindo a exponenciar a evidência das fortes e antigas ligações das povoações da margem esquerda do Rio Douro ao mundo mediterrânico. Para os distinguir de outros grupos de investigação que frequentam a Casa, o pessoal do Solar chama-lhes “a equipa das ânforas”.

Livros


O Egito Faraónico

            No passado dia 17 de dezembro foi lançado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa um novo livro de egiptologia de Luís Manuel de Araújo, intitulado O Egito Faraónico. Uma Civilização Com Três Mil Anos. O autor é professor naquela faculdade, investigador no seu Centro de História e secretário da sua revista Cadmo, e diretor da nova série da Revista de Portugal.

Aves de Portugal Continental

            No passado dia 15 de dezembro tinha sido lançado na Biblioteca Pública de Gaia o livro Aves de Portugal Continental, coordenado por José Frade e com prefácio de Nuno Oliveira, editado pela Almalusa.

Cursos e palestras

Cursos do Solar

            Entretanto prosseguiu no Solar Condes de Resende o curso livre sobre “13 monumentos e sítios carismáticos do Douro Atlântico (Gaia/ Porto/Matosinhos)” organizado pela Academia Eça de Queirós . Depois de no passado dia 14 de novembro José Manuel Tedim ter falado sobre “O Mosteiro da Serra do Pilar”, a 28 desse mês Luís Manuel Real falou sobre “A Sé do Porto”, a 5 de dezembro foi a vez de Henrique Guedes sobre “A Capela do Senhor da Pedra” e a 12 Joel Cleto sobre “O Mosteiro de Leça do Balio”.
            Seguem-se a 9 de janeiro as palestras sobre o “O Senhor de Matosinhos”, por José Manuel Tedim, a 17 “O Parque Biológico de Gaia e outros parques”, por Nuno Oliveira e a 31 “A Torre e o complexo dos Clérigos”, de novo por José Manuel Tedim. Prosseguindo depois em fevereiro, terminando a 6 de março.

Palestras do Solar

            Devido aos festejos da quadra natalícia e de fim de ano não se realiza no Solar este mês de dezembro a habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, sendo retomadas no dia 28 de janeiro com o tema “O Património Cultural de Gaia” por J. A. Gonçalves Guimarães.
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Eça & Outras, IIIª. Série, n.º 86 – sexta-feira, 25 de dezembro de 2015; propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação da página: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Dagoberto Carvalho J.or

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