Selos, cartas e postais
Entre os dias 1 a 13 de dezembro decorreu
no Solar Condes de Resende a FilexGaya 2015, mostra filatélica organizada pelo
Clube de Colecionadores de Gaia, comemorativa dos 170 anos do nascimento de Eça
de Queirós. Entre muitos outros aspetos e, entre eles talvez o mais duradouro,
o Solar teve pela primeira vez um postal com a imagem do seu pátio de entrada
também impressa num selo e obliterada com um carimbo próprio com o seu
logótipo, ou seja um inteiro postal.
São conhecidas as representações
queirosianas na Filatelia e na Macrofilia portuguesa e brasileira, através de
selos, carimbos e inteiros postais, e da Cartofilia com a edição de vários
postais que, de tempos a tempos, se vão acrescentando com novos espécimes que
fazem as delícias dos colecionadores. Recordemos aqui os selos emitidos pelos
Correios de Portugal e pelos do Brasil em 1995, e de novo pelos de Portugal no
ano 2000.
Mas menos conhecida ainda será a atividade
epistolográfica do escritor que se traduz já em cerca de mil cartas e algumas
dezenas de postais publicados por A. Campos Matos, o que demonstra que Eça de
Queirós foi um comunicador postal compulsivo ao longo da vida, tendo ainda em
conta que nem sequer conhecemos toda a sua correspondência, pois uma boa parte
dela terá ido para o fundo do mar, naufragada com o navio que trazia para
Portugal uma parte dos seus pertences após o seu falecimento em Paris. Quantas
cartas e postais se terão assim perdido irremediavelmente nessa desgraça. Por
outro lado, de quando em vez, ainda aparecem cartas inéditas no espólio dos
destinatários, já para não falarmos da sua correspondência oficial que deverá
existir no arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
No Solar Condes de Resende, no
arquivo que foi da família de sua mulher, também existem várias cartas, desde o
século XVII até ao início do século XX, algumas das quais já publicadas, mas
ainda não tratadas do ponto de vista Pré-filatélico ou Filatélico. Estão também
nesse caso alguns outros núcleos documentais em fase de tratamento
arquivístico, o espólio J. Rentes de Carvalho e o próprio arquivo do Gabinete
de História, Arqueologia e Património.
Por sua vez a autarquia gaiense
possui notáveis coleções epistolares, como é o caso da correspondência entre
Camilo Castelo Branco e o seu editor Eduardo da Costa Santos, pertencente à
Coleção Marciano Azuaga e em depósito na Biblioteca Pública Municipal, já
publicada e estudada por Alexandre Cabral. Também os arquivos pessoais de
Teixeira Lopes, com cartas da mulher de Eça de Queirós e de Luís de Magalhães,
algumas das quais o escultor publicou nas suas memórias, bem assim como o
espólio epistolar de Diogo de Macedo, ambos existentes na Casa Museu Teixeira
Lopes. Também muitas outras cartas em arquivos de empresas, instituições e de
particulares, como o Arquivo Histórico A. A. Ferreira, cujo núcleo Hunt, Roope &
Companhia deu origem ao artigo de Colin Lewis «Newfoundland–Oporto mail
1810-1865», na prestigiada BNATopics, vol. 61, n.º 4, outubro - dezembro de
2004, p. 5-33. Ou o Arquivo Histórico Adriano Ramos Pinto, com correspondência
inédita com variadíssimas personalidades, sobretudo portuguesas e brasileiras,
e uma fabulosa coleção de cartofilia, para além de tudo o mais que já tivemos
oportunidade de publicar, com Graça Nicolau de Almeida, no livro Adriano Ramos Pinto Vinhos e Arte, 2013.
As coleções epistolares são
fundamentais para o entendimento da história universal, nacional e local e o
seu estudo poderá um dia aclarar, por exemplo, as verdadeiras relações de Júlio
Dinis com Grijó, as de Camilo com o Candal ou as de Adriano de Paiva, o
inventor do princípio da televisão, com os físicos do seu tempo. Mas do ponto
de vista Pré-filatélico ou Filatélico, elas poderão dar um enorme contributo
para o estudo dos Correios em Portugal e das relações da Barra do Douro, e das
duas cidades que a ladeiam, com o mundo, através do correio marítimo.
Ao acolher esta iniciativa do Clube
de Colecionadores de Gaia, apoiada pela autarquia e pela Confraria Queirosiana,
o Solar teve em mente contribuir para uma maior divulgação da Filatelia e
também da rentabilização cultural do seu espólio, enquanto vai acolhendo e
divulgando o espólio alheio, partilhando assim a resplandecente luz do
conhecimento de uma das mais nobres ocupações humanas que hoje está em rápida
transformação: a comunicação postal que vence distâncias e abre portas de
entendimento onde antes só havia os muros da distância, do desconhecimento ou da
indiferença, substituídos por um possível entendimento através de um selo e um
carimbo postal que assim autenticam essa relação, balizando-a no tempo e na
história.
J.
A. Gonçalves Guimarães
Mesário-mor
Natal
de Oeiras
Dagoberto
Carvalho Jr.
Chamavam-se “berços”
– de alecrim, andré-miúdo
e ingênua criatividade –
os presépios da minha infância,
cuja visitação era o Natal de Oeiras.
Antes das “árvores” que vieram de fora
e tomaram as salas,
colorindo-as de alegria alheia.
Lembro-me do que foi de Burane,
na Praça da Bandeira;
o de Dona Lourdes, na Rua do Norte;
o do Colégio das Irmãs,
em seu sobrado-convento,
antigo palácio dos presidentes da província.
O da casa de minha avó,
no Beco do Quartel,
tinha cama de madeira
porque o menino já era grande
e dormia de vestido de gesso.
Uma vez faltou luz elétrica.
Demora-me a noite
na memória,
como a lanterna vermelha que me levou
aos santos endereços da saudade.
Que nunca mais deixou de iluminar os meus Natais.
Natal de 2010
Sócios & Confrades
J. Rentes de Carvalho e esposa em Estevais do Mogadouro com delegação da Confraria Queirosiana |
Rentes de Carvalho
Foi recentemente publicado em De Gruyter –
Ibero 2015:151-169 um artigo de Carlos Nogueira, da Universidade de Vigo,
intitulado «Autobiografia, memória e tempo nos romances de J. Rentes de
Carvalho», o qual pode ser visto em ielt.fcsh.unl.pt/notícias,1915, uma notável
análise e síntese sobre a obra deste nosso confrade. Entretanto, para voltarem
mais uma vez a confirmar que o escritor gaiense, durio-transmontano, holandês,
europeu e felizmente ainda terráqueo existe mesmo, em carne, osso, mente e sagesse de vivre, no passado dia 20 de
dezembro uma delegação da Confraria Queirosiana, composta por Maria de Fátima
Teixeira, Susana Moncóvio e o autor destas linhas e da foto, deslocou-se a
Moncorvo e a Estevais do Mogadouro para o cumprimentarem na companhia de sua
esposa Loeckie, e ao mesmo tempo procurarem saber dos novos projetos
literários, antes da sua próxima “fuga” para Amsterdam, por estrada, como
sempre fazem. Na primavera sai novo livro em que Eça estará por detrás da sina
migratória dos portugueses.
João Nicolau de Almeida
No passado dia 16 de dezembro decorreu na
Casa Ramos Pinto o habitual almoço de Natal, no qual estiveram presentes
administradores e funcionários superiores da empresa, outras personalidades
ligadas ao Douro e ao mundo dos vinhos, e o mesário-mor da Confraria
Queirosiana, arqueólogo de Ervamoira. Na ocasião festejaram-se os quarenta anos
de João Nicolau de Almeida como enólogo da marca e os vinte e cinco anos de
sucessos do seu vinho “Duas Quintas”, tendo então sido anunciada pelo próprio a
sua próxima passagem de testemunho na administração a Jorge Rosas. Novos
desafios o esperam na empresa João Nicolau de Almeida & Filhos, e por isso
aqui deixamos a este nosso consócio, glória da vitivinicultura nacional, os
nossos votos de continuação de grandes sucessos, nomeadamente com o “Quinta do
Monte Xisto 2013”.
Vida Queirosiana
Eça de Queirós em Coimbra
Com a colaboração
do jornal Público, terminaram no passado dia 4 de dezembro na Biblioteca
Joanina as comemorações dos 725 anos da Universidade de Coimbra, que Eça de
Queirós frequentou, e que tiveram como um dos seus momentos altos uma conversa
entre os heterónimos Carlos Fradique Mendes e Bernardo Soares protagonizada
pelos académicos Carlos Reis e Jerónimo Pizarro, no dia em que a brasileira
Adriana Calcanhotto passou a ser embaixadora desta universidade. Entretanto o
projeto Minha Língua, Minha Pátria, que o Público promoveu no Brasil, será
também lançado em Portugal no próximo ano.
Prémio Fundação Eça de Queiroz
Estão abertas as inscrições até ao dia 1
de Março próximo para os concorrentes a este prémio instituído pela Câmara de
Baião e pela Fundação Eça de Queiroz, edição 2015/2016. Segundo o regulamento,
podem habilitar-se os autores de textos sobre o universo literário de Eça de
Queirós e/ou da Geração de 70, nas áreas dos estudos literários, estudos
históricos, estudos culturais, estudos ecoliterários e outros. Consultar www.feq.pt/premio-feq-edicão-2015-2016.html
Projetos de investigação
Património Cultural de Gaia
Na sequência do protocolo firmado entre o
Município de Vila Nova de Gaia, através da pessoa do seu presidente Prof.
Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, e a Confraria Queirosiana, representada pelo
seu presidente Prof. José Manuel Tedim, celebrado no passado dia 21 de
novembro, o qual tem como objetivo o levantamento, análise e divulgação do
Património Cultural de Gaia através da edição de 10 livros e outras ações
complementares, decorreu no passado dia 11 de dezembro uma reunião geral na
Casa da Presidência, à qual estiveram presentes muitos dos coordenadores e
investigadores deste projeto. Sobre a importância do mesmo no contexto do
programa cultural do município falou o presidente da câmara tendo definido as
suas caraterísticas profissionais o coordenador geral J. A. Gonçalves
Guimarães. No próximo dia 30 de dezembro decorrerá no Solar Condes de Resende a
primeira reunião geral de coordenadores das áreas temáticas e, no dia 4 de
janeiro, inicia os seus trabalhos a equipa de investigadores permanentes.
Equipa das ânforas
No Solar Condes de Resende têm vindo a
desenvolver-se uma série de estudos destinados a dissertações de mestrado e
teses de doutoramento por um grupo de investigadores de arqueologia luso-espanhol
orientados por Rui Morais, professor da FLUP e António Manuel Silva, do
Gabinete de História; Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana, com o
contributo de Pedro Pereira do CITCEM (FLUP), os quais estão a analisar os
milhares de fragmentos de ânforas encontrados em escavações arqueológicas em
Vila Nova de Gaia desde os finais dos anos setenta do século passado,
nomeadamente das estações do Castelo de Gaia, Monte Murado, Igreja do Bom Jesus
de Gaia, Castelo de Crestuma e outras, tendo vindo a exponenciar a evidência
das fortes e antigas ligações das povoações da margem esquerda do Rio Douro ao
mundo mediterrânico. Para os distinguir de outros grupos de investigação que
frequentam a Casa, o pessoal do Solar chama-lhes “a equipa das ânforas”.
Livros
O Egito Faraónico
No passado dia 17 de dezembro foi
lançado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa um novo livro de
egiptologia de Luís Manuel de Araújo, intitulado O Egito Faraónico. Uma Civilização Com Três Mil Anos. O autor é
professor naquela faculdade, investigador no seu Centro de História e
secretário da sua revista Cadmo, e diretor da nova série da Revista de
Portugal.
Aves de Portugal Continental
No passado dia 15 de dezembro tinha
sido lançado na Biblioteca Pública de Gaia o livro Aves de Portugal Continental, coordenado por José Frade e com
prefácio de Nuno Oliveira, editado pela Almalusa.
Cursos e palestras
Cursos do Solar
Entretanto prosseguiu no Solar
Condes de Resende o curso livre sobre “13 monumentos e sítios carismáticos do
Douro Atlântico (Gaia/ Porto/Matosinhos)” organizado pela Academia Eça de
Queirós . Depois de no passado dia 14 de novembro José Manuel Tedim ter falado
sobre “O Mosteiro da Serra do Pilar”, a 28 desse mês Luís Manuel Real falou
sobre “A Sé do Porto”, a 5 de dezembro foi a vez de Henrique Guedes sobre “A Capela
do Senhor da Pedra” e a 12 Joel Cleto sobre “O Mosteiro de Leça do Balio”.
Seguem-se a 9 de janeiro as
palestras sobre o “O Senhor de Matosinhos”, por José Manuel Tedim, a 17 “O
Parque Biológico de Gaia e outros parques”, por Nuno Oliveira e a 31 “A Torre e
o complexo dos Clérigos”, de novo por José Manuel Tedim. Prosseguindo depois em
fevereiro, terminando a 6 de março.
Palestras do Solar
Devido aos festejos da quadra
natalícia e de fim de ano não se realiza no Solar este mês de dezembro a
habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, sendo retomadas no dia 28
de janeiro com o tema “O Património Cultural de Gaia” por J. A. Gonçalves
Guimarães.
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Eça
& Outras, IIIª. Série, n.º 86 – sexta-feira, 25 de dezembro de 2015;
propriedade dos Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Cte. n.º 506285685 ; NIB: 001800005536505900154 ; IBAN:
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A. Gonçalves Guimarães (TE-638); redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia
Cabral; colaboração: Dagoberto Carvalho J.or
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