sábado, 25 de outubro de 2025

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 206, sábado, 25 de outubro de 2025

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

Francisco de Olazabal e o capilé

No passado dia 30 de setembro faleceu o querido amigo Francisco Javier de Olazabal. Conhecíamo-nos desde os anos oitenta do século passado quando a Casa Ferreira, ainda na posse da família, estava a valorizar o seu património histórico, nomeadamente o seu arquivo, e me encomendou o livro Um Português em Londres…, publicado em 1988. Em 1990, no centenário do Oporto Golf Club, chamou-me a colaborar no livro da efeméride, lançado em 1994. Em volta destes projetos, e dos que se sucederam, em várias visitas e estadias na Quinta do Vale Meão, fomos partilhando grandes conversas sobre o Douro, o Vinho do Porto, a Granja, o Centro Histórico de Gaia…

Filho de Jaime de Olazabal y Mendoça e de Maria do Carmo Rebello Valente de Olazabal, nasceu no Porto em 1938. Descendente de D. João VI, dos duques de Loulé e dos condes da Azambuja, de D. Antónia Adelaide Ferreira e dos condes de Arbelaiz (País Basco), casou com Maria Luisa Nicolau de Almeida,  filha de Fernando Nicolau de Almeida e de Maria José Rosas Nicolau de Almeida, e foi pai de Francisco, Jaime e Luisa. Era um verdadeiro «granjola» (descendente de famílias radicadas no século XIX na Granja, Vila Nova de Gaia) e sabia o nome de todos os seus empregados e colaboradores de Gaia e do Douro, com cujo bem estar se preocupava.

Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, em 2010 a Universdade de Trás-os-Montes e Alto Douro atribuiu-lhe o grau de Doutor honoris causa, cerimónia a que tive o gosto de assistir.

Desempenhou relevantes cargos profissionais no setor vitivinícola: administrador-delegado da Sociedade dos Vinhos do Porto Constantino, adjunto e presidente da administração da A. A. Ferreira, S. A. (Casa Ferreirinha), presidente da Sogrape Distrribuição, S. A., administrador da Sogrape Vinhos de Portugal, S. A. e da Sogrape SGPS.

Em 1994, com seus três filhos, adquire a totalidade da Quinta do Vale Meão, Vila Nova de Foz Côa, fundada nos finais do século XIX por sua trisavó D. Antónia Adelaide Ferreira, tendo constituido a firma F. Olazabal & Filhos, L.da. Em 2002, com a nova geração de vitivnicultores das quintas do Vallado, Niepoort, Vale D. Maria e Crasto, participa na criação dos “Douro Boys” e em 2004 o seu vinho Quinta do Vale Meão 2004 foi pontuado 97 em 100 pela revista Wine Spectator (EUA).

Foi vogal e presidente da direção da Assocação de Exportadores de Vinho do Porto (AEVP); fez parte da direção da Comissão Interprofisional da Região Demarcada do Douro (CIRDD) e foi chanceler da Confraria do Vinho do Porto. E presidente da direção do Oporto Golf Club, sediado em Espinho.

Condecorado pelo Estado Português com o grau de grande oficial da Ordem de Mérito Agrícola a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia atribuiu-lhe a Medalha de Mèrito Profissional, classe ouro.

Em 2014, com a colaboração do Gabinete de História, Arqueologia e Patrimóno, publicou o livro Quinta do Vale Meão, com um prefácio meu, depois de me  incentivar a elaborar o estudo «Vale Meão. Antecedentes de uma quinta vinícola e olivícola no Douro Superior», divulgado na revista Douro, Vinho, História e Património, n.º 3, desse mesmo ano, pp. 143-170.

Muitos destes aspetos recordei em «Quinta do Vale Meão, de Francisco Javier de Olazabal», publicado a 25 de fevereiro de 2016 em eca-e-outras.blospot.com e a 30 de março seguinte no jornal As Artes Entre As Letras. Mas muitos outros poderia recordar, como aquele em que, com sua mulher Maria Luiza me recebeu, com Maria de Fátima Teixeira, no Vale Meão em visita com o escritor José Rentes de Carvalho, de quem eram devotos leitores, numa jornada inesquecível, e em outras posteriores até tempos recentes, pois sempre que o escritor vinha a Estevais do Mogadouro “estava obrigado” a informá-lo ou a combinar juntarmo-nos em almoços celebrativos no restaurante O Lagar em Moncorvo, quantas vezes com outros amigos e seus admiradores, no último dos quais tivemos a presença da Eng.ª Paula Carvalhal vereadora da Câmara Municipal de Vila Nova se Gaia.

Uma das últimas vezes em que convivemos esteve também presente o nosso comum amigo luso-brasileiro Dr. Ricardo Hadad. E aí, mais uma vez, ouvimos as suas estorietas com um impagável sentido de humor das quais quero aqui recordar uma delas com sentido autobiográfico, das muitas que lhe ouvi. Partilhou então connosco que, quando era menino tinha conhecido muito bem a Senhora Dona Sofia, pois frequentava-lhe a casa na Granja. E já então a admirava com suprema reverência devido à sua fama de poeta e escritora, chegando a querer descobrir-lhe o segredo desse carisma e, se possível, imitá-lo E um dia - eureka! - pensou ter descoberto o segredo que tinha de por em prática. Estando em sua casa à hora do lanche, recusou o habitual leite ou chá, afirmando perentoriamente que daí em diante só beberia capilé. A mãe ficou atónita com o ultimato e perguntou ao menino onde teria ele andado a beber essa exótica bebida. E lá veio a revelação: «em casa da Senhora Dona Sofia e é por tal beber que ela é uma grande poeta. E eu, quando for grande, também quero ser conhecido como ela. Por isso a partir de hoje só bebo capilé». E acrescentou: «não acharam piada nenhuma e não me deram capilé a beber, e por isso nunca fui poeta, a não ser de vinhos que espero que suscitem obras primas de literatura». O nosso comum amigo Haddad, também apreciador de poesia e de uma boa estória com humor, não esqueceu a revelação deste senhor dos vinhos e, procurando na sua monumental garrafeira, encontrou uma antiga garrafa de Xarope Capilé da Fábrica Ancora, Lisboa, talvez da mesma marca que Sophia de Mello Breyner Andersen beberia e que fiquei de lhe entregar acompanhada do seguinte bilhete: «Amigo Francisco Olazabal. Ainda há tempo para Poesia. Abraço Ricardo Haddad. 11-12-2024».

Tendo, entretanto, recebido a notícia de que a sua enfermidade se agravara, achei prudente levar-lhos, a garrafa e o escrito, à Granja em dia mais animoso, esquecendo que, mesmo os criadores de famas imorredoiras, como é o caso, não são eternos, e um dia pregam-nos a partida de nos deixarem com estas queridas memórias que aqui partilho com todos aqueles que tiveram o gosto e o prazer de terem conhecido o Vito, como era carinhosamente tratado. E a Granja já há muito tempo que não via tantos amigos juntos na sua capela no adeus que lhe quiseram tributar no passado dia 1 de outubro. «A luz cai, magnífica, sobre isto tudo, tão forte, tao viva, que parece pousar sobre as coisas como uma espécie de névoa luminosa» (Eça de Queirós, O Egito).

J. A. Gonçalves Guimarães

historiador

 

A ASCR-CQ esteve em…

 

Na sequência dos convites que nos foram dirigidos pelos partidos e coligações políticas concorrentes à autarquia ou pela Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia para efeitos de debate de programas e propostas eleitorais, no passado dia 30 de setembro recebemos na sede da ASCR – CQ a visita do Dr. Luís Filipe Meneses e comitiva da coligação Gaia Sempre na Frente (PSD+CDS+IL), que se vieram inteirar do funcionamento da associação; recorde-se, a propósito, que o cabeça de lista referido é confrade honorário desde 2003. No dia 2 de outubro estivemos na sede da FCVNG no colóquio com o Dr. André Araújo, da coligação CDU, e no dia 3 com o Dr. João Martins da coligação Bloco+Livre+… Não se realizaram colóquios com o Chega, nem com o Partido Liberal Social, por estas formações partidárias não os terem agendado.

 

                                           Encontro Nacional FAMP 2025, no Museu do Douro; fotografia AAMD.

Nos passados dias 26 a 28 de setembro decorreu no Museu do Douro na Régua o Encontro Nacional FAMP 2025, subordinado ao tema “Os vossos Museus, a nossa paixão”, o qual contou com a presença de vários grupos de amigos de museus e monumentos de Portugal. A receção aos participantes decorreu no fim-de-tarde de sexta-feira de 26 no terraço daquele museu, onde decorreram os trabalhos a partir das 10 horas do dia seguinte, tendo falado na sessão de abertura Helena Gil, vogal do conselho diretivo da Fundação Museu do Douro, Maria do Rosário Alvellos, presidente da direção da FAMP e o Doutor Alexandre Pais, presidente de conselho de administração da "Museus e Monumentos de Portugal, EPE", tendo também feito intervenções e comunicações Rita Dargent, diretora do Museu Nacional dos Coches; Alexandra Falcão, diretora do Museu de Lamego e Maria José de Sousa diretora do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa.

Estiveram presentes para intervir no programa as seguintes associações: Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana; Associação de Amigos do Museu do Douro; Grupo de Amigos da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves; Grupo de Amigos do Museu de Alberto Sampaio; Grupo de Amigos do Museu de Penafiel; Liga de Amigos do Museu Nacional Machado de Castro; Liga dos Amigos do Douro Património Mundial; Sociedade de Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior. Na sessão de encerramento falaram Ana Rita Lopes, dos Jovens FAMP; Maria do Rosário Alvellos e Maria Leonor Marinho, respetivamente presidente e secretária da direção da FAMP.

O encontro teve um jantar de encerramento no dia 27 no restaurante “Castas e Pratos” na Régua, a que se seguiu no dia seguinte uma visita ao Pinhão e um passeio de barco com almoço regional no Rio Douro.

A associação ASCR-CQ esteve representada por António Pinto Bernardo, J. A. Gonçalves Guimarães e Manuel Nogueira dos corpos gerentes e pela associada Ângela Moreira, do Museu das Casinhas de Bonecas do Porto. Na sessão de abertura o presidente da direção falou sobre «Os Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana» enquadramento associativo, estatutos e objetivos».

 

 

                                            Doutor Francisco Javier de Olazabal  (1938-2025); fotografia Medialivre


No passado dia 1 de outubro, o presidente da direção e vários associados e confrades estiveram no funeral do Doutor Francisco Javier de Olazabal, nosso associado na Capela da Granja em São Félix da Marinha, Vila Nova de Gaia.

 


Nos dias 23 e 24 de outubro decorreu no auditório Dr. António Pedro Pinto de Mesquita da Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Porto o III Congresso Porto Romântico, coordenado pelo Professor Doutor Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, provedor da instituição e catedrático da Universidade Católica do Porto, instituição parceira desta realização, como aliás das edições anteriores. Vários foram os historiadores associados e membros dos corpos gerentes da ASCR-CQ, bem assim como investigadores do seu Gabinete de História, Arqueologia e Património que estiveram presentes com comunicações. Por ordem de apresentação no programa, Maria de Fátima Teixeira falou sobre «”António Augusto Teixeira de Vasconcelos um dos mais ilustres e dos mais notáveis jornalistas portugueses, um dos escriptores mais elegante e espirituosos...,”»; António Barros Cardoso sobre «Os “Ratos da Alfândega de Pantana” – Sátira do Porto Romântico»; J. A. Gonçalves Guimarães sobre «O juiz Teixeira de Queiroz e o conde do Bolhão: revisitação de um episódio de corrupção no Porto Romântico»; Eva Baptista sobre «Bernardo de Almeida Lucas: expressão multifacetada do legado romântico portuense»; Licínio Santos sobre «A 2.a Geração dos Nicolau de Almeida: A afirmação social e comercial de uma família gaiense no Porto de Oitocentos»; e Nuno Resende sobre «Reconstituir e cartografar vestígios da sociabilidade romântica do Porto através das Cartes-de-Visite: poses, gestos e cenários no retrato fotográfico de estúdio (~1860~1890)». As Atas serão publicadas em 2026.

 





No dia 23 de outubro passado decorreu no Solar Condes de Resende uma visita guiada pelo responsável pelo equipamento, Dr. João Fernandes, à exposição «Marciano Azuaga, da coleção privada ao museu público» que se encontra patente no andar superior do edifício. Encerrado o seu «museu» nos anos trinta do século passado, passados quase cem anos, muitos dos objetos que o constituíram voltam assim a ser disponibilizados ao público a quem o colecionador os ofereceu em 1904, quando doou a sua coleção ao município gaiense. Tendo grande parte dela sido transferida para o Solar em 1987, desde então o seu anterior diretor e colaboradores desenvolveram esforços no sentido da recatalogação integral deste espólio por núcleos temáticos; o seu estudo específico e enquadramento museológico por especialistas, a sua divulgação através de publicações profissionais; o empréstimo de peças para exposições temporárias, locais, nacionais e internacionais; e a comparação com idênticas coleções em Portugal e no estrangeiro, de que resultaram várias publicações numa já extensa bibliografia, sendo a mais recente o estudo de GUIMARÃES, J. A. Gonçalves; GUIMARÃES, Susana (2025) - O Museu Azuaga na génese dos museus gaienses, recentemente editado pela Confraria Queirosiana.

A visita contou com a presença da vereadora da Cultura e da Programação Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal e de outros quadros autárquicos, tendo também estado presentes dirigentes, associados e confrades da ASCR-CQ que felicitaram a atual equipa profissional do Solar pelo trabalho desenvolvido que tornou possível esta verdadeira reparação cultural. A exposição pode ser vista de terça a domingo das 9 às 12,30 e das 14 às 17,30 horas.

 

A ASCR-CQ organiza e promove…

Palestra das últimas quintas-feiras do mês

Como anunciado, realizou-se no passado dia 02 de outubro no Solar Condes de Resende a habitual palestra das últimas quintas-feiras do mês, desta vez na primeira de outubro devido a uma reprogramação de atividades que a tal obrigou. Foi palestrante o Dr. Marcus Vinícius, médico radiologista que se dedica ao estudo das “misteriosidades humanas” e que falou sobre «O Golem e o Rabino Judah Löew (folclore judaico), um tema retomado pela cinematografia internacional ao longo do século XX e até à atualidade.

A próxima palestra será na quinta-feira, dia 30 de outubro, entre as 18,30 e as 19,30 horas e terá como tema «Visita guiada à exposição “Marciano Azuaga: da coleção privada ao museu publico”» e será palestrante o Dr. João Fernandes, responsável pelo Solar Condes de Resende e confrade da ASCR-CQ.

Curso sobre Camilo Castelo Branco

 

Prof. Doutor Sérgio Sousa

No sábado dia 04 de outubro, pela15 horas decorreu, no Solar Condes de Resende a sessão de abertura do curso livre evocativo dos 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025) organizado pela Academia Eça de Queirós dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana. Esta primeira sessão contou com a presença da Eng.ª Paula Carvalhal, vereadora do Pelouro da Cultura e da Programação Cultural em representação da presidente da Câmara, do presidente da ASCR-CQ e outros membros dos corpos gerentes e associados e de vários professores deste curso. Após a distribuição dos certificados do curso anterior e das palavas de abertura das entidades presentes, o agrupamento musical “Eça Bem Dito”, dirigido pela pianista Maria João Ventura executou algumas canções do seu repertório camiliano, que farão parte de um concerto final a realizar na Casa de Camilo, em São Miguel de Seide no final do curso. A lição de abertura foi proferida pelo Prof. Doutor Sérgio Sousa, da Universidade do Minho, sobre «Teoria da Literatura: o que é? Para que serve?».

A segunda aula, sobre «Camilo Castelo Branco e Vila Nova de Gaia» realizou-se no dia 11 de outubro, proferida pelo Prof. Doutor J. A. Gonçalves Guimarães, da Academia Eça de Queirós e a terceira terá lugar no dia 25 de outubro sobre «A Gastronomia em Camilo» pela Prof. Dr.ª Elzira Queiroga, da Casa de Camilo – Centro de Estudos Camilianos de Vila Nova de Famalicão.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 206, sábado, 25 de outubro de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Família Olazabal; Federação dos Amigos dos Museus de Portugal (FAMP); Associação de Amigos do Museu do Douro (AAMD).

 

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 206, quinta-feira, 25 de setembro de 2025

 

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

 

Que força é essa, José?

Terminou a festa da Feira do Livro do Porto 2025, este ano de homenagem a Sérgio Godinho, para os da minha geração «o nosso Sérgio», como «o nosso Zeca Afonso», o «nosso Zé Mário Branco»; o «nosso Adriano Correia de Oliveira» e mais alguns “nossos”: não nos levem a mal este sentido de apropriação que, na realidade, é mais de identificação com os intérpretes e as canções que, desde o tempo da nossa raiva contra a Guerra do Vietname e contra a Última Guerra Colonial Portuguesa, nos embalaram a esperança em um mundo melhor, mais justo e sem guerras. Para os jovens dos anos sessenta, como para os de hoje, não era, nem é, pedir muito. Apenas o exigir o direito à vida e a vivê-la com uma certa graça, por entre alguns desencantos e partidas das estações do comboio e das estradas da vida. E não nos enganamos, pois bem sabemos onde estão os precipícios. E vamos avisando os jovens de hoje que eles ainda existem por aí. Eles não os conheceram nem estão no seu GPS. Mas as canções de Sérgio Godinho, como as dos outros «nossos», sempre alertaram para eles, por entre encantos melódicos e palavras de bronze destes cantautores que se ergueram tão alto com o 25 de Abril. E na Alameda das Tílias uma nova árvore com um nome, no meio de outros de referência, agora a tília do Sérgio. No jardim do Palácio de Cristal, pavilhão de desportos vários e vistas larguíssimas para Vila Nova de Gaia, o Porto e o mar, onde se pode subir às alturas possíveis em visita guiada e segura com emoções de vertigens calculadas.

A Feira este ano, em certos momentos, deu-lhe para parecer um “sãojoão” sem martelinhos, tal era a romaria compacta de gentes, amigos, conhecidos, debutantes e vedetas das escritas e de outras artes. A Confraria Queirosiana lá esteve, como vai sendo hábito, a vender os seus livros e revistas, e os da Associação Portuguesa de História da Vinha e do Vinho, que eles foram feitos para serem lidos, comentados e partilhados. E também para prestar a sua homenagem ao escritor José Rentes de Carvalho nos seus 95 anos, através da presença do original de um seu novo busto modelado pelo escultor Hélder de Carvalho e destinado a ser colocado na aldeia de Estevais do Mogadouro, onde o escritor tem a sua casa que foi de seus avós. E através do livro que elaborei com uma recolha de textos escritos desde 2005, quando finalmente o conheci pessoalmente naquela aldeia com a companhia de Maria de Fátima Teixeira e Eva Baptista, e que intitulei Eça & Outras 2. J. Rentes de Carvalho 95 anos. Foi ali apresentado no dia 29 de agosto pelo meu caro colega e companheiro de lides associativas, António Manuel S. P. Silva perante uma plateia de Amigos e o meu neto Luís Filipe, que estas coisas também são de afetos. A recensão crítica será publicada em breve no número anual da revista da Confraria. Na impossibilidade de o homenageado estar presente, mandei-lhe alguns exemplares para Amsterdam, pedindo-lhe a sua condescendência para com os aleijões da obra, que a intenção foi boa e sincera. Mas a sua generosidade falou mais alto e a 15 de setembro mandou-me o seguinte e-mail: «Caríssimo Joaquim/ Por certo, e com estranheza pelo descuido, já se perguntou porque demoro a agradecer o livro em que faz de mim personagem principal./ Razões tenho de sobra, pois fiquei e continuo sinceramente embasbacado, mesmo depois de duas vezes o ter lido, e muitas mais procurando, descrente, uma ou outra passagem. É que o Joaquim escreve sobre mim de maneira tão sincera e variada, que deixa para trás o corrente em biografias, pois doseia com talento, conhecimento, e elegância, as diversas partes do “retrato”, contribuindo assim para que o retratado se sinta elogiado, mas dentro dos limites em que o conhecimento de causa põe travão a qualquer tendência de orgulho ou vaidade./ Leitor que sempre fui de biografias, esta sua obra  foi, é, para mim novidade, pois combina o conhecimento das vivências do retratado, com a leitura atenta e crítica dos seus escritos, doseando com singular elegância a análise do que neles é pessoal ou público./ Vou deixar passar algum tempo até fazer uma terceira leitura, mas mesmo uma nona ou décima em nada poderão diminuir o impacto que me causou a primeira. Isso menos por se tratar de mim, mas porque é coisa rara uma tão elegante e tão bem doseada autópsia de vivências, escritos e amizade./ Por aqui me fico, incapaz de lhe dizer o que a sua amizade e este seu livro são para mim./ Com o grande abraço de sempre./ José». Não sei que dizer. Desde miúdo que aceito os ralhetes como ocasião de planear correções. Mas os elogios deixam-me atordoado. Lembro-me sempre quando era menino e numa festa de natal da escola primária me atribuíram dois prémios de mérito: um, já era bom, encheu-me o peito; mas dois, o segundo logo na mesma ocasião, deixou-me enrascado. Não seria engano? Não era para outro colega que não tivera nenhum? E porquê dois prémios à mesma pessoa, se o habitual era um só? Agora, perante aquele e-mail estou na mesma situação: um prémio foi o prazer de ter organizado o livro e já me bastava esse; mas um outro, as palavras do homenageado e a sua amizade deixaram-me atónito: será que sou merecedor? Respondam também vocês.

Além da venda de livros e revistas, a Feira serviu também para divulgar os objetivos da Confraria e as atividades do Solar Condes de Resende como casa queirosiana internacional, onde em breve terá início mais um curso livre sobre os 200 anos de Camilo Castelo Branco e a 22 de novembro o capítulo anual onde serão insigniados como novos confrades algumas personalidades nacionais, brasileiras e moçambicanas, que Eça de Queirós era um escritor do mundo e de um mundo mais humanista se quer que continue. Para além da visita de Marcelo Rebelo de Sousa, de Carlos Fiolhais, de Francisco José Viegas, e de várias outras personalidades, também muitos associados e confrades nos deram o gosto de por ali passarem, conversarem, trocarem ideias e completarem as suas coleções da Revista de Portugal, e da Gaya. Estudos de História. Arqueologia e Património, e outras edições do nosso variado portfólio editorial, com autores como Alberto Silva Fernandes, António Manuel S. P. Silva, Eça de Queirós, Francisco Queiroz, Gonçalo de Vasconcelos e Sousa, Joana Ribeiro, J. A. Gonçalves Guimarães, José Marques, José Pereira do Couto Soares, Licínio Santos, Luís Manuel de Araújo, Maria de Fátima Teixeira, Nuno Resende e Susana Guimarães, e muitos outros nas revistas acima referidas.

Às vezes interrogo-me sobre o que, para além da busca impenitente do saber e da convivialidade, andaremos todos por aqui a fazer: e não posso deixar de lembrar-me desta “tirada” queirosiana «A nação que não tem sábios, grandes críticos, analisadores, reconstruidores, ásperos buscadores do ideal não pode pesar muito no mundo político, como não pode pesar muito no mundo moral» (Eça de Queirós, Prosas Barbaras). Obrigado, caríssimo José Rentes de Carvalho pela força que continua a dar-nos, que bem dela precisamos.

 

J. A. Gonçalves Guimarães

historiador

 

 

Estamos em…

Estando a decorrer a campanha eleitoral para as autarquias, a ASCR-CQ tem recebido vários convites das várias forças partidárias para estar presente em diversos colóquios e outras manifestações cívicas por elas promovidos, a que temos procurado corresponder. Assim, nos debates promovidos pela Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia na sua sede, estivemos no dia 08 de setembro com o candidato Dr. Luís Filipe Menezes pela coligação PSD/CDS/IL; no dia 11 com os candidatos do ADN à Câmara e à Assembleia Municipal, respetivamente Dr. Rui Sequeira e Dr. Nuno Pereira; no dia 22 com o candidato do VOLT, Dr. Danel Gaio e no dia 23 com o candidato do PS, Dr. João Paulo Correia. No dia 07 de setembro estivemos ainda na Praia da Granja na sessão evocativa do Pacto da Granja ali ocorrido em 1976 promovida pela coligação Bloco de Esquerda/ Livre/ Independentes. Em todos os casos procuramos inteirar-nos sobre as propostas dos diversos partidos e coligações ao eleitorado sobre associativismo e cultura na área do município de Vila Nova de Gaia.

 

A ASCR-CQ esteve em…

                                            António Manuel S. P. Silva apresenta o livro sobre J. Rentes de Carvalho

Como referido na página anterior, entre os dias 22 de agosto e 07 de setembro a associação esteve presente na Feira do Livro do Porto com um pavilhão para venda dos seus livros e revistas e também os da Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/ GEHVID) com quem temos protocolo de cooperação. No dia 29 de agosto junto ao Lago dos Cavalinhos teve lugar o lançamento da obra Eça & Outras 2. J. Rentes de Carvalho 95 Anos, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães, presidente da direção da ASCR-CQ, tendo a apresentação do livro e do autor estado a cargo do Prof. Doutor António Manuel Silva, do Gabinete de História, Arqueologia e Património.

Durante esta Feira do Livro vários foram os nossos associados que apresentaram as suas últimas produções literárias, como David Rodrigues que a 5 de setembro aí lançou o livro de poemas Astrolábio, o qual será igualmente apresentado no próximo dia 6 de outubro na Biblioteca do Palácio Galveias em Lisboa.

 

A ASCR-CQ vai estar em…

Hoje, dia 25 de setembro, pelas 18 horas, J. A. Gonçalves Guimarães apresentará na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia o livro de António Conde, CCD Gaia - 50 anos a espalhar sorrisos, edição comemorativa dos 50 anos da criação desta associação dos funcionários da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

Entre os dias 26 a 28 de setembro no Museu do Douro, na Régua, o Encontro Nacional FAMP 2025, subordinado ao tema “Os vossos Museus, a nossa paixão” organizado com a colaboração da direção do museu e da Associação de Amigos do Museu do Douro. J. A. Gonçalves Guimarães, presidente da direção da ASCR-CQ falará no dia 27, sábado, pelas 11,30.

 

A ASCR-CQ organiza e promove…

A habitual palestra da última 5.ª feira do mês de setembro realizar-se-á na quinta-feira, 02 de outubro de 2025, 18,30 - 19,30, presencial e por videocnferência, a partir do Solar Condes de Resende, sendo conferencista o médico radiologista Dr. Marcus Vinícios Cocentino Fernandes sobre «O Golem e o Rabino Judaw Löew (Folclore judaico)». A participação é livre e o link de acesso fornecido a todos os interessados.

 


No próximo sábado dia 04 de outubro pela15 horas decorrerá no Solar Condes de Resende a sessão de abertura do curso livre evocativo dos 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-2025) organizado pela associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, com sessões presenciais e videoconferência. Nesta primeira sessão, aberta a todos sem necessidade de inscrição, para além das palavras de abertura pelas entidades presentes, serão interpretadas canções camilianas pelo agrupamento musical “Eça Bem Dito” dirigido pela pianista Maria João Ventura, entregues os certificados do curso anterior e proferida a lição de abertura pelo Prof. Doutor Sérgio Sousa, da Universidade do Minho, sobre «Teoria da Literatura: o que é? Para que serve?». A frequência das restante aulas do curso obrigam a inscrição prévia,

 

Associados da ASCR-CQ

Diversos associados ou dirigentes da ASCR-CQ, a título pessoal, ou integrados noutras instituições, têm vindo a desenvolver diversas ações, algumas das quais registamos:

No dia 30 de agosto a orquestra Dixie Gang que em como um dos seus músicos titulares (piano; banjo) o Professo Doutor David Rodrigues atuou no Távola Jazz Club em Lisboa com o habitual sucesso.

No dia 6 de setembro, no programa Raízes Vivas comemorativo do Foral de Tendais organizado pela Câmara Municipal de Cinfães, o Prof. Doutor Nuno Resende, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, falou sobre “Rostos e Histórias de Vida”.

No dia 18 de setembro, nas Jornadas Europeias do Património 2025, o Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, professor jubilado da Universidade de Lisboa, apresentou no Museu Nacional do Traje, em Lisboa, a conferência sobre «O traje no Antigo Egito: uma evolução na continuidade».

Nos dias 26 e 267 de setembro na Universidade Babes-Bolyal, de Cluj-Napoc, Roménia, vai decorrer um colóquio internacional sobre «Camilo Castelo Branco: 250 anos de memórias vivas», com a prestação da Prof.ª Doutora Cristina Petrescu, aí docente.

 

Livros


No próximo dia 8 de outubro no Cinema Batalha do Porto, Afonso Reis Cabral vai ter o seu mais recente livro O último Avô apresentado ao público ledor por Mário Cláudio. Trata.se de uma estória de enredo familiar que se reporta à Última Guerra Colonial Portuguesa.

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Eça & Outras, III.ª série, n.º 205, quinta-feira, 25 de setembro de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral.

 

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

 

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 204, segunda-feira, 25 de agosto de 2025

 

IIº Centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825-1890)

 

Alzheimerização da política e da sociedade

Todos nós já ouvimos falar da doença de Alzheimer, essa anomalia neurodegenerativa comum de demência que aparece lentamente e se agrava com o tempo, inicialmente com perda de memória e dificuldade em recordar eventos recentes, depois dificuldades na linguagem, desorientação, alterações de humor, desmotivação, desinteresses vários e comportamento agressivo, rumo à camisa de forças por caridade. É mesmo possível que muitos de nós conheçam pessoas a quem esta doença foi diagnosticada pela ciência médica em diferentes graus de evidência, dos muito leves aos verdadeiramente graves. Com a agravante dos sintomas e suas consequências serem, até hoje, irreversíveis e, em muitos casos, se confundirem com normalíssimas manifestações do comportamento humano: não será aceitável alguma perda de memória numa sociedade diariamente bombardeada por um número incontrolável de informações? Uma mente seletiva, que guarda para mais tarde recordar apenas o que lhe apetece ou é agradável, está necessariamente doente? E nunca nenhum de nós tropeçou num fonema difícil ainda que corriqueiro? E aqueles que, além dos gagos, desde muito novos têm formas de expressão inusitadas, vá-se lá saber porquê, como adornarrr muitas palavrrras com excessos de rrr? E bem sabemos das variações dos GPS individuais, com gente a indicar-nos com o ar mais sério deste mundo que o Norte é para Sul e a curva da estrada à esquerda é para o lado do fígado e da mão direita. Distrações? E quantas vezes não temos tantos e tão bons motivos para desancar verbalmente (fisicamente é incitamento à violência…) alguém que nos agrediu com factos ou ações que não merecem qualquer bom humor? Ah! E quanto a motivações temos falado: quando vemos “passar à nossa frente” o sujeito ou sujeita com menos habilitações, menor curriculum e irrelevante obra feita, alardeando habilidades e vencimentos, acham que é fácil mantar saudavelmente as motivações? Outros interesses e desinteresses variam ao longo da nossa vida e convém recordar que Gil Vicente, Camões, Cervantes, Shakespeare, Verdi, e tutti quanti, bem gozaram, literária, cenográfica e musicalmente falando, com “interesses” que a sociedade acha (pelo menos assim o diz…) que já se deveriam ter transformado em desinteresses individuais, mas que teimam em persistir. Os falstaffes são sempre ridicularizados. E quanto à violência física ela é muito bem tolerada quando é exercida pelos adeptos do futebol e pelas polícias sobre os cidadãos apanhados em “contramão”. Fora disso, só as guerras não são catalogadas como “comportamento agressivo” alzheimerizado; creio bem que ainda ninguém diagnosticou esta doença, já em fase muito adiantada, a Putin ou a Netanyahu. Enfim, já tínhamos lido que nem sempre é fácil diagnosticá-la. E que também não há cura. Só paliativos. Como este e outros textos.

Por tudo isto, e no que me diz respeito, sempre que qualquer coisa parecida me afeta, prefiro comparar-me aos mais recentes computadores com que lidamos todos os dias: são fantásticos a guardar informação, mas nem sempre conseguimos lembrarmo-nos onde neles a arquivamos, qual o nome da pasta ou do ficheiro, qual a palavra passe, e quando encontrados, nem sempre “abrem” logo e, quando são “pesados”, demoram o seu tempo. É preciso pois saber esperar e não entrar em pânico, e nem vale a pena ir a correr atrás do neurologista, até porque a sociedade fabrica em quantidade muitas profissões, exceto várias daquelas que fazem falta. Coisas do planeamento universitário e dos governos, para os quais umas estatísticas servem e outras nem por isso.

Mas nesta fase do cio eleitoral (leram bem, escrevi mesmo cio) em que já todos nos encontramos, um outro fenómeno emerge por aí com virulência: em vez de compreensíveis esforços para diagnosticar, acompanhar e minorar por profissionais competentes os efeitos alzheimerosos que em boa verdade por aí andarão, aparecem-nos candidatos de diversos partidos políticos a quererem convencer-nos de que já estamos todos com alguns indícios de irreversível alzheimer sem debelações possíveis. Apresentando-se como cidadãos impolutos, imaculados, desde sempre votados ao interesse público e às mais nobres causas (que eles inventaram, pois claro, que todos nós somos para tal incapazes), estão eles confiantes que as nossas aparentes perda de memória, desmotivações e desinteresses vários, já nos fizeram esquecer aquelas partes do seu curriculum que querem ocultar, mas das quais, e já agora que nelas falamos, afinal nos lembramos muito bem, e até sabemos onde estão os documentos, judiciais e outros, que tal demonstram, os recortes de jornais, as gravações, trabalho esse a que os jornalistas se darão se tal for necessário, se o figurão ou figurona sobressaírem da sua habitual mediocridade e quiserem continuar a tirar proveito das nossas distrações e voltarem a ser premiados pelo povo (quantas vezes momentaneamente alzheimerizado…) nas próximas eleições. Não, não vamos permitir que tal aconteça.

Outro fenómeno na mesma linha de nefastas consequências são as recentes “canonizações” de pessoas acabadas de falecer (que diabo! Eles também morrem…), ou que nestas épocas são ressuscitadas como figuras tutelares de quem quer permanecer agarrado ao poder. E o processo é o mesmo: o branqueamento das biografias, fazer esquecer ações pouco edificantes que chegaram aos tribunais ou se ficaram por investigações não concluídas ou oportunamente prescritas, tudo por engano obviamente, ou voltar a mobilizar instituições com estranhíssimos “poços de petróleo” que não só bombeiam fortunas retiradas ao erário público disfarçadas de esmolas e donativos, como serviram e servem para financiar máquinas administrativas estrategicamente colocadas para guindarem os discípulos aos lugares chaves da perpetuação das habilidades do “mentor” e da sua entourage. Estamos a lembrar individualidades, mas na realidade elas pertencem a seitas, grupos de influência, grupos organizados para tomarem ou se manterem no poder. Vejam onde estão colocados os bustos dos ditos e vejam lá quem aí acende velas de tempos a tempos. E o porquê de tanta cera ardida.

E assim vamos nós. Mas não, não é verdade: os meus caros amigos não estão alzheimerizados, nem se deixam alzheimerizar pelos profetas dos apocalipses de conveniência ou pelas sereias que nadam mal fora d’água. Apenas, às vezes, estamos todos um pouco distraídos, ou fartos destas “ingenuidades”, e até as desculpamos como imperadores que somos nas horas vagas do reino da condescendência. E vou dizer-lhes um segredo de historiador: “estas coisas”, tirando a figura do ano ou da época que conhecemos no calendário, sempre foram assim. E nós cá estamos e estaremos continuados pelos que nos seguirão. Mas seria bom que lhes quebrássemos alguns enguiços assinalados na citação que se segue e que bem poderemos atualizar: «… entre nós a mentira é um hábito público. Mente o homem, a política, a ciência, o orçamento, a imprensa, os versos, os sermões, a arte e o País é todo ele uma grande consciência falsa. Vem tudo da educação.» (Eça de Queirós, Uma Campanha Alegre).

 

J. A. Gonçalves Guimarães

Historiador

 

Estamos em…

Entre 22 de agosto e 7 de setembro, a ASCR-CQ, numa parceria com a Associação Portuguesa da História da Vinha e do Vinho (APHVIN/ GEHVID) está presente, como habitualmente, na Feira do Livro do Porto, no Palácio de Cristal, desta vez no stand 77, junto ao "Largo dos Cavalinhos", onde estão à venda todos os livros e revistas editados por ambas as associações. No dia da abertura diversas personalidades passaram pelo stand da Confraria dialogando com os associados presentes e adquirindo livros, nomeadamente o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

Por gentileza do autor, o escultor Hélder de Carvalho, está aí em exposição o gesso do seu mais recente busto do escritor J. Rentes de Carvalho este ano homenageado pela ASCR-CQ nesta Feira do Livro. Esta obra de arte, depois de passada ao bronze, será em data oportuna colocada na aldeia de Estevais do Mogadouro, terra dos antepassados do escritor e onde ainda recentemente comemorou os seus 95 anos, tendo, entretanto, regressado a Amsterdam.

                                O Presidente da República no stand da Confraria; fotografia de Guilherme Silva

No próximo dia 29 de agosto, sexta-feira, pelas 15 horas, no Largo dos Cavalinhos será feito o lançamento da obra Eça & Outras 2. J. Rentes de Carvalho 95 Anos, da autoria de J. A. Gonçalves Guimarães, presidente da direção da ASCR-CQ. A apresentação do livro e do autor estarão a cargo do Prof. Doutor António Manuel Silva, do Gabinete de História, Arqueologia e Património.

                                Busto de J. Rentes de Carvalho, fotografado pelo autor no seu atelier em Vila Nova de Gaia

 

Independência do Brasil…na Romênia

 


«No 7 de setembro celebramos o Dia da Independência do Brasil declarada no dia 7 de setembro 1822! Celebramos esse evento com a exposição de arte popular brasileira “O Brasil em lendas e sonhos” de Terezinha Bilia e o recital de música brasileira de Marwin Chester e Cristina Moraru Petrescu. O evento é organizado em cooperação com a Embaixada do Brasil em Bucareste e o Instituto Guimarães Rosa e terá lugar ao Museu de Arte de Cluj-Napoca no dia 6 de setembro 2025, às 11h; a exposição estará aberta até o dia 14 de setembro! Estamos esperando todos vocês!»

 

A ASCR-CQ esteve em…

«Pelos Caminhos de Santiago: uma abordagem histórica» - Como anunciado na folha passada, no dia 26 de julho, J. A. Gonçalves Guimarães participou como historiador profissional do Gabinete de História, Arqueologia e Património da ASCR-CQ no Mosteiro de Grijó na V Conferência Pelos Caminhos de Santiago organizada pela Confraria de Santiago da Paróquia de São Salvador de Grijó, com uma comunicação intitulada «Pelos Caminhos de Santiago: uma abordagem histórica»., a qual foi depois desenvolvida na “Palestra da última quinta-feira do mês” no Solar Condes de Resende e via zoom no passado dia 31 de julho.


                            Investigadores-tarefeiros 2025, com os monitores do projeto; fotografia de João Fernandes

 

Investigadores-tarefeiros – no passado dia 27 de julho o presidente da direção e a Dr.ª Maria de Fátima Teixeira reuniram com os investigadores-tarefeiros do programa deste ano na Confraria Queirosiana. Iniciado em 2004, tem como objetivos proporcionar a jovens investigadores nas áreas das Ciências Humanas a concretização de trabalhos inéditos sobre Vila Nova de Gaia e a sua relação com o mundo coordenados pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património, a preparação para publicação de outros já elaborados depois de certificados por pares, a divulgação do Roteiro Queirosiano e o apoio às atividades do Solar Condes de Resende. A avaliação é feita anualmente.

 

A ASCR-CQ vai estar em…

Encontro Nacional FAMP 2025 - Nos próximos dias 26 a 28 de setembro a direção da ASCR.CQ e alguns associados vão estar presentes neste encontro no Museu do Douro, na Régua, organizado com a colaboração da direção do museu e da Associação de Amigos do Museu do Douro, o qual tem como objetivos a partilha de experiências entre a federação e os diversos grupos de amigos nela filiados, devendo estar presentes Jovens FAMP que se prepararão para a comemoração do Dia Europeu dos Amigos dos Museus, a 12 de outubro.

 

Associados da ASCR-CQ


No passado dia 26 de julho, a banda de jaz clássico Dixie Gang, de que faz parte o Professor David Rodrigues, nosso prezado consócio, que vemos na fotografia sentado ao piano, atuou no Palácio Pimenta - Museu da Cidade de Lisboa enquadrados pela estátua original de Eça de Queirós e a Verdade, de Teixeira Lopes, que ali se encontra recolhida desde que foi substituída no Largo do Barão de Quintela por uma réplica de bronze. Parece que Eça foi visto «a tentar dar uns passinhos de dança com a "nudez crua da verdade..."».

 

Livros

Na sequência dos seus muitos trabalhos genealógicos, Ricardo Charters-d’ Azevedo publicou recentemente pela editora Hora de Ler um novo texto sobre o Doutor D. frei Patrício da Silva nascido nos Pinheiros (Leiria), arcebispo de Évora e depois o 7.º cardeal-patriarca de Lisboa, durante e depois da guerra civil entre D. Pedro e D. Miguel, «destinado aos seus quase 500 sobrinhos», muito  bem ilustrado e documentado, o que o torna uma obra imprescindível, não apenas para os estudiosos da pessoa e dos seus descendentes colaterais, muitos deles notáveis, mas também para o enquadramento de muitos acontecimentos históricos que os tiveram como protagonistas ou participantes.

 

Em 2021 e para a celebração dos seus 70 anos de idade, Maria de Fátima Teixeira e António Manuel Silva organizaram “clandestinamente” um livro com algumas das suas crónicas escritas para a página mensal da ASCR-CQ publicada entre 2005 e 2008 em O Primeiro de Janeiro, a que naturalmente chamaram Eça & Outras Crónicas Queirosianas, deixando aí a sugestão de que devia ir reunindo as restantes em livros temáticos. Passado que foi este tempo e publicadas mais de 200 crónicas, reuniu agora mais algumas delas, desta feita para homenagear um amigo, conterrâneo e grande escritor português, numa coletânea intitulada Eça & Outras 2. J. Rentes de Carvalho 95 Anos, onde republica “tudo” o que sobre ele e a sua obra escreveu ou coligiu em eca-e-outras.blogspot.com, no jornal As Artes Entre As Letras, ou noutras oportunidades editoriais. Aqui fica este testemunho, porventura algo desconexo e até repetitivo da sua grande admiração e agradecimento por tudo o que tem escrito para que os nossos dias sejam mais reflexivos e, se for possível, mais felizes.

 

Eça & Outras, III.ª série, n.º 204, segunda-feira, 25 de agosto de 2025; propriedade da associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende, 110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB: 0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com; www.queirosiana.pt; confrariaqueirosiana.blospot.com; eca-e-outras.blogspot.com; vinhosdeeca.blogspot.com; coordenação do blogue e publicação no jornal As Artes Entre As Letras: J. A. Gonçalves Guimarães; redação: Fátima Teixeira; inserção: Amélia Cabral; colaboração: Hélder de Carvalho; Guilherme Silva; João Fernandes; Cristina Petrescu; David Rodrigues; Ricardo Charters-d’Azevedo.