Eça & Outras, sexta-feira, 25 de
outubro de 2024
500 anos do nascimento de Luís de Camões;
100 anos do passamento de Teófilo Braga
Eça de Queirós na Barra de São Miguel, Brasil
Entre 8 e 13 de outubro decorreu na Barra de São Miguel, Alagoas,
a 5.ª edição da Festa Literária FliBarra, que incluiu a 7.ª edição do Festival
Portugal em Cena, com curadoria do escritor Carlito Lima, que homenageou o escritor
português Eça de Queirós tomado como patrono. Estes eventos foram organizados e
acolhidos pela Prefeitura Municipal de Barra de São Miguel com o apoio da
Academia Alagoana de Letras e, em Portugal, com a colaboração da associação
Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana, agraciada pelo
município local com o troféu comemorativo.
Para além das manifestações sobre a Língua Portuguesa com a
evocação de seus poetas e músicos de ambos os países, outros aspetos da vida em
comunidade foram considerados e também aí tiveram lugar intervenções sobre a
problemática do ambiente, e mais concretamente sobre a proteção da Amazónia; a
abordagem de casos de desastres ambientais de repercussão internacional; e a
inteligência artificial e a transformação digital. Programa rico e variado
apresentou acontecimentos verdadeiramente atraentes para todo o tipo de
públicos, tais como: «O que é um museu e suas finalidades»; peças de teatro
para os mais novos; «Poesia, para quê e para quem?» e «minerando poesia»;
música coral, «oficina de ritmos nordestinos», banda de pífanos, fado tropical,
samba de periferia e outras músicas e sons; aula show com alunos e professores
dos cursos de Gastronomia e Letras «cozinhando e recitando poesias»;
«Literatura e Cinema»; exibição de ponto cruz, croché, filé e macramê. E ainda
a saída da escuna Poética a navegar na Lagoa com músicos e poetas; uma
Oficina de Nós com a Marinha do Brasil; uma exibição do tradicional Bumba Meu
Boi; atuação do Rancho Folclórico de Portugal do Colégio Marista do Recife e,
por fim, show clube do Fado e show Ritmos Nordestinos, e uma celebração
religiosa católica com atuação de quarteto e solistas na Igreja Matriz, que
encerrou as festividades.
Na parte do programa especialmente dedicada ao autor de A
Relíquia, foi exibida a longa metragem O nosso cônsul em Havana.
Eça de Queirós em defesa dos direitos humanos, com a presença do realizador
Francisco Manso (também ele confrade de honra da Confraria Queirosiana e que já
filmou no Solar Condes de Resende) e Gabriel Gomes, apresentado pelo ator Chico
de Assis, este último que também será em breve feito confrade no próximo
capítulo de 23 de novembro.
Na sexta-feira 11 de outubro, pelas 20,30 horas da noite de
Portugal (16,30 no Brasil), a partir do Solar Condes de Resende em Vila Nova de
Gaia sede da Confraria Queirosiana, encontravam-se J. A. Gonçalves Guimarães,
historiador, presidente da ASCR-CQ, membro honorário da Sociedade Eça de
Queiroz do Recife e sócio correspondente da Academia Alagoana de Letras; Irene
Fialho, investigadora na área da Literatura e especialista em Eça de Queirós; e
António Pinto Bernardo também da direção da associação portuguesa, preparados
para entrarem em contacto por vídeoconferência em transmissão simultânea pela
TV ALAGOANA do evento da Barra de São Miguel, onde se encontravam Maurício
Melo, jornalista e apresentador de Tv; Ricardo Cavalliere, da Academia Brasileira
de Letras, e Alberto Rostand Lanverly, presidente daquela academia e confrade
de honra da Confraria Queirosiana, também ele homenageado neste evento, e que em
conjunto iriam debater aspetos da vida e obra do escritor e as relações
culturais entre os dois países.
Irene
Fialho começou por falar sobre a revisitação da obra de Eça de Queirós por
diversos públicos e estudiosos contemporâneos, nomeadamente através do projeto
da edição crítica das suas obras dirigido pelo Professor Doutor Carlos Réis, no
qual colabora, e de que a Imprensa Nacional já editou duas dezenas de volumes,
a que outros em breve se seguirão até à totalidade da obra. Abordou também a
possibilidade de ainda poderem aparecer textos desconhecidos do escritor,
nomeadamente correspondência, tendo mostrado as edições que em tempos preparou
de A Morte do Diabo, fragmentos de uma opereta por Eça de Queirós, Jaime
Batalha Réis e Augusto Machado, que publicou com Mário Vieira de Carvalho
(também Confrade Queirosiano) e José Brandão em 2013 pela Editorial Caminho, e Eça
de Queiroz em Casa. Desenhos e Textos Inéditos, Editorial Presença, 2016,
como exemplos dessa possibilidade.
Por sua
vez, Gonçalves Guimarães, referiu-se às instituições que em Portugal e no
Brasil preservam a memória e a obra deste grande escritor português de fama internacional e as ações que a
Confraria tem desenvolvido para o aumento do seu conhecimento, nomeadamente
através da participação em roteiros e itinerários que ajudam a compreender a
sua obra, não apenas o de Vila Nova de Gaia, mas também o de Lisboa-Sintra,
descrito por A. Campos Matos, e o do Egito, tantas vezes revisitado pelo
vice-presidente, o egiptólogo Luís Manuel de Araújo. E a continuidade de uma
certa literatura de índole queirosiana, questionadora de Portugal e dos
Portugueses, hoje desenvolvida pelo confrade J. Rentes de Carvalho, na sua
opinião o maior escritor português dos nossos dias que, em tempos, também teve
o seu percurso brasileiro como jornalista e correspondente. Lembrou ainda a
continuada paixão que o Brasil demonstra pela obra de Eça, de que é exemplo o
presente festival. À pergunta sobre qual a obra que dele recomendaria, apontou
uma das mais desconhecidas, intitulada Emigração como força civilizadora
(2.ª edição, Publicações D. Quixote, 2001), cuja reflexão merece ser acatada
nos diversos fóruns nacionais e internacionais dos dias de hoje. Por fim, em
nome da Confraria Queirosiana felicitou a organização da 5.ª FliBarra e do 7.º
Portugal em Cena e a sua homenagem a Eça de Queirós, lembrando que a barra do
Douro (Vila Nova de Gaia e Porto), noutros tempos, tantos barcos enviou ao
outro lado do Atlântico e outros tantos recebeu com abraços do Brasil, que
agora reenviou aos queirosianistas do país irmão.
Por sua vez, António Pinto Bernardo,
neste colóquio apresentado também como cidadão alagoano e seu embaixador
cultural, tendo em conta as regulares viagens que de Portugal aí o levam e ao
número de confrades que tem apadrinhado na sua filiação na Confraria Queirosiana.
Neste pôr-do-sol alagoano recordemos
umas palavras de Eça de Queirós que aqui ficam bem: «Do lado do mar subia uma
maravilhosa cor de ouro pálido, que ia lá no alto diluir o azul, dava-lhe um
branco indeciso e opalino, um tom de desmaio doce; e o arvoredo cobria-se todo
de uma tinta loira, delicada e dormente. Todos os rumores tomavam uma suavidade
de suspiro perdido. Nenhum contorno se movia como na imobilidade de um êxtase.
E as casas, voltadas para o poente, com uma ou outra janela acesa em brasa, os
cimos redondos das árvores apinhadas, descendo a serra numa espessa debandada
para o vale, tudo parecera ficar de repente parado num recolhimento melancólico
e grave, olhando a partida do Sol, que mergulhava lentamente no mar…» (Eça de
Queirós, Os Maias). Na barra de São
Miguel e na do Douro, em Vila nova de Gaia e Porto.
J. A. Gonçalves Guimarães
historiador
Presenças da associação
Como anteriormente noticiamos, o vogal da direção da ASCR-CQ Dr. António
Pinto Bernardo esteve recentemente em Maceió, Alagoas, Brasil, onde continuou a
missão que desenvolve desde longa data, a ligação afetiva e cultural entre as
duas margens lusófonas do Atlântico, desta feita em torno da participação da
ASCR-CQ na 5.ª edição da Festa Literária FliBarra, que incluiu o 7.º Festival
Portugal em Cena (ver acima). Na imagem podemos ver um dos momentos do seu
recente convívio com diversos outros confrades brasileiros em Maceió, gentileza
do confrade Dr. Fernando Maciel.
No dia 12 de outubro uma delegação da
ASCR-CQ composta pelo presidente da direção, J. A. Gonçalves Guimarães, pelo
tesoureiro Fernando Rui Morais Soares e pelo vogal António Manuel Silva, no
propósito de apresentação de cumprimentos dos novos corpos sociais e de apresentação
do plano de atividades para 2024-2028, reuniu na Casa-Museu Teixeira Lopes com
a vereadora do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia,
Eng.ª Paula Carvalhal e outros elementos da administração autárquica, tendo
sido analisadas, entre outras questões, o andamento do projeto Património
Cultural de Gaia, o projeto dos investigadores-tarefeiros, a necessidade de uma
outra sede para a associação e a realização de programas comuns no Solar Condes
de Resende.
Dia dos Amigos dos Museus
No passado dia 13 de outubro
comemorou-se o II Dia Europeu dos Amigos dos Museus, dinamizado pela Federação
de Amigos dos Museus de Portugal (FAMP) e celebrado em diversos museus e espaços
musealizados com iniciativas promovidas pelas associações.
Para assinalar esse dia a Federação
organizou um evento no Museu do Oriente em Lisboa, onde foi assinada pelo
ICOM Europa, pela World Federation of Friends of Museums (WFFM) e pela FAMP a «Actualização
da Declaração do Funchal», subscrita por muitas associações no último
Congressos, tendo estado presentes o Dr. Alexandre Pais, presidente do conselho de administração da Museus e Monumentos de Portugal,
E.P.E. em representação da secretária de estado da Cultura; o Dr. Mário Antas,
diretor do Museu dos Coches e representante do ICOM Europa; a Dra. Graça Mendes
Pinto diretora do Museu do Oriente; e membros dos
órgãos sociais da FAMP, nomeadamente a presidente da direção, Dr.ª Maria do
Rosário Alvellos, a secretária Dr.ª Leonor Marinho, o Dr. Luís Brito Correia presidente
da MAG, e Hermann Scheufler vogal do conselho fiscal; e ainda representantes de
diversas instituições convidadas e vários grupos de amigos associados. Os Amigos
do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana (ASCR-CQ) estiveram
representados pelo seu vice-presidente Prof. Doutor Luís Araújo e pelo vogal
Dr. Manuel Nogueira.
Comemorando também este evento, na
véspera dia 12, a ASCR-CQ promoveu uma reunião presencial e por
videoconferência entre diversas associações de amigos de museus da região
Norte, tendo especialmente convidado amigos de museus públicos e privados de
Vila Nova de Gaia que ainda não têm associação organizada. A sessão foi
dinamizada pelo presidente da direção, J. A. Gonçalves Guimarães, e pelo
secretário Nuno Resende, tendo estado presentes, entre outros, a Dr.ª Sofia
Silva, do Grupo de Amigos do Museu D. Diogo de Sousa, Braga, que abordou a
questão dos grupos de jovens e a do Turismo Arqueológico, e Paulo Rodrigues, da
Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia que abordou questões ligadas
ao associativismo. Foram ainda referidos os diversos museus e espaços
musealizados em Vila Nova de Gaia e a necessidade da continuação destas
reuniões.
Nos dias 25 a 27 de outubro decorrerá em
Parma o «WFFM European meeting», no qual a FAMP estará representada pela
presidente da sua direção.
Curso livre sobre os 50 Anos do 25 de
Abril
Como vem acontecendo desde o ano letivo de 1991/1992, então
organizados pelo Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia e
desde 2004 pela Academia Eça de Queirós, grupo de trabalho para o Ensino da
associação Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana, e desde
sempre em colaboração com o Solar Condes de Resende, teve início no passado
sábado dia 19 de outubro o 32.º curso livre intitulado «“Portugal, a Flor e a
Foice” (J. Rentes de Carvalho), comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de
Abril», o qual decorrerá aos sábados entre as 15 e as 17 horas até abril de
2025. Este curso terá como mote os textos daquele escritor «A Revolução Exemplar
e a Revolução Invisível», publicado no catálogo da exposição Bewusttwording in
Portugal (Consciencialização em Portugal) pelo Museum Boymans-van Beuningen,
Roterdam em 1978, e o livro Portugal, a
Flor e a Foice, publicado na Holanda em 1975 e em Portugal pela Quetzal em
2014. Também como de há anos a esta parte tem acontecido, este curso será
certificado por Gaia Nascente - Centro de Formação de Associação de Escolas do
Ministério da Educação, tendo ainda sido solicitada a colaboração de outras
entidades académicas e cívicas de índole nacional, como é o caso do Instituto
de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. A lição de abertura
estava prevista ser dada pelo sociólogo e presidente da Câmara Municipal de
Vila Nova de Gaia, Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues que, por razões
imponderáveis, teve de a adiar para data a divulgar. Em substituição, o
coordenador do curso e historiador J. A. Gonçalves Guimarães deu a aula
intitulada «Portugal, a Europa e o Mundo desde o Ultimatum», prosseguindo no próximo dia 09 de novembro com uma
outra aula sobre «As Guerras Coloniais». Esta sessão de abertura, presencial e
por videoconferência, teve a presença da vereadora do pelouro da Cultura da
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal, em representação
do presidente da autarquia.
Para além dos referidos, o curso terá como professores José
António Oliveira; Adrião Pereira da Cunha; António Barros Cardoso; Nuno
Resende; David Rodrigues; Jorge Castro Ribeiro; Ricardo Noronha; José Manuel
Tedim; Luís Raposo e Silvestre Lacerda.
Revista de Portugal
No próximo capítulo anual da Confraria Queirosiana, que se
realizará no Solar Condes de Resende no sábado dia 23 de novembro, pelo seu
diretor, o egiptólogo Prof. Doutor Luís Manuel de Araújo, será apresentado o
n.º 21 da nova série da Revista de
Portugal, fundada por Eça de Queirós em 1889. Com a capa dedicada ao V
Centenário de Luís de Camões com a reprodução de um medalhão de Soares dos Reis,
criado para as comemorações de 1880 e pertencente à Coleção Marciano Azuaga que
se guarda no Solar Condes de Resende, este número homenageia também Teófilo
Braga, professor universitário, investigador, publicista e presidente da
República e também ele colaborador de Eça na primeira série desta revista, no
centenário do seu passamento. Homenageia ainda Salgueiro Maia nos 50 anos do 25
de Abril de 1974 e o escritor J. Rentes de Carvalho, recentemente perpetuado
com uma escultura de Hélder de Carvalho no Centro Cultural com o seu nome em
Mogadouro. O conteúdo deste número apresenta: o editorial «Centenários e outras
memórias», subscrito pelo diretor-adjunto J. A. Gonçalves Guimarães, a que se
segue a evocação do confrade Eng.º Amílcar Salgueiro recentemente falecido. «Lembrar
Camões, a vida em pedaços repartida» é o título do texto do confrade Guilherme
d’ Oliveira Martins na abertura das comemorações camonianas em Lisboa a que a
ASCR-CQ se associou. José António Afonso é o autor de um exaustivo artigo sobre
«A “Dilecta Discípula” de Teófilo Braga. Memórias dos anos de formação de uma
professora portuense na década de 1920». Cinquenta anos passados, J. A. Gonçalves Guimarães foi ao seu arquivo
buscar inéditos «Documentos pessoais em
volta do 25 de Abril de 1974, com um abraço para Salgueiro Maia» que enquadrou
num artigo evocativo do antes, do durante e do depois. Segue-se uma antologia
de discursos de Márcia Barros, vereadora do pelouro da Cultura da Câmara
Municipal de Mogadouro; António Pimentel, presidente desta edilidade, do editor
e amigo Francisco José Viegas e do reconhecido e agradecido J. Rentes de
Carvalho proferidos na sessão de homenagem que aquele município recentemente dedicou
a este último, seguida de um artigo referente ao espólio que doou à Confraria
Queirosiana, presentemente em tratamento arquivístico e museográfico. Seguem-se
três trabalhos de membros da Academia Alagoana de Letras, igualmente confrades
queirosianos, notáveis pela sua capacidade da arte de contar: «Estefânia», de Carlos
Méro; «Riqueza que nada vale», por Alberto Rostand Lanverly, presidente daquela
instituição, e «O comendador Teixeira Basto», de Arnaldo Paiva Filho. Desta vez
uma recensão sobre a obra de «Fernando Fonseca, Oníricos, Lisboa: edição do
Autor, 2023, 106 pp.» por Luís Manuel de Araújo, a que se segue a sempre
abundante e variada Bibliografia dos associados publicada em 2023, terminando
este número, também como habitualmente, com o Relatório de atividades da associação
referente àquele mesmo ano. A contracapa apresenta o cartaz do curso «“Portugal, a Flor e a Foice” (J. Rentes de Carvalho),
comemorativo dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril».
A Revista
de Portugal tem um preço de capa de 10€, sendo distribuída gratuitamente
aos associados e permutada com as publicações de muitas instituições em
Portugal, Europa e Brasil.
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Eça & Outras, III.ª
série, n.º 194, sexta-feira, 25 de outubro de 2024; propriedade da associação
cultural Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana (Instituição
de Utilidade Pública), Solar Condes de Resende, Travessa Condes de Resende,
110, 4410-264, Canelas, Vila Nova de Gaia; C.te n.º 506285685; NIB:
0018000055365059001540; IBAN: PT50001800005536505900154; email: queirosiana@gmail.com;
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publicação no jornal As Artes Entre As
Letras: J. A. Gonçalves Guimarães (TE-164 A); redação: Fátima Teixeira;
inserção: Amélia Cabral; colaboração: Fernando Maciel.